Os insetos, muitas vezes, podem atuar como importantes pragas agrícolas, causando uma série de problemas nas lavouras comerciais.

Atualmente, a agricultura brasileira sofre com o ataque de diversos insetos-pragas, dentre eles, podemos citar a mosca-branca.

Em abril de 2019, o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), divulgou uma portaria contendo as 40 pragas eleitas como prioridades para registro e alteração de registro de inseticidas em 2019.

A mosca-branca foi um dos insetos-praga que ocupou lugar destaque.

A mosca-branca é uma praga agrícola de tamanho diminuto e de grande relevância para agricultura mundial. E no Brasil, não é diferente, a mosca-branca apresenta potencial para atacar diversas culturas agrícolas.

As infestações com mosca-branca têm se tornado cada vez mais recorrentes. Em muitos casos, este inseto pode atuar tanto como praga, como também como vetor de vírus fitopatogênicos, agravando ainda mais este cenário.

1. Principais características das espécies de mosca-branca

Inicialmente, conhecia-se apenas uma espécie de mosca-branca, identificada como Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) (Hemiptera: Aleyrodidae). Em seguida, identificou-se um novo biótipo, que ficou conhecido como “biótipo B”.

Entretanto, em 1994, confirmou-se que este biótipo B, era na verdade uma nova espécie de mosca-branca, denominada de Bemisia argentifolii.

Sendo assim, de modo geral, estas são as duas principais espécies de mosca-branca de importância agrícola.

A mosca-branca é uma inseto polífago, que causa danos a várias espécies de interesse agronômico, como por exemplo:

  • Abóbora
  • Alface
  • Alfafa
  • Algodão
  • Batata doce
  • Batata inglesa
  • Berinjela
  • Chicória
  • Couve-flor
  • Crisântemo
  • Feijão
  • Gérbera
  • Jiló
  • Maracujá
  • Melancia
  • Pepino
  • Picão-preto
  • Pimenta
  • Pimentão
  • Repolho
  • Roseira
  • Soja
  • Tabaco
  • Tomate
  • Uva

Em função desta ampla gama de hospedeiros, as dificuldades para o manejo da mosca-branca se agravaram nas últimas décadas, especialmente devido à elevada severidade das infestações e à sua capacidade de atuar como inseto-vetor.

Na agricultura brasileira, as dificuldades relacionadas ao manejo da mosca-branca são potencializadas devido a uma maior frequência de Bemisia argentifolii.

Entretanto, a diferenciação entre espécies e raças de Bemisia spp. só é possível por meio de biotecnologia ou de estratégias específicas de multiplicação dos insetos.

Bemisia argentifolii é uma das formas mais agressivas da mosca-branca, além de apresentar uma série de características que a tornam uma exímia praga, como por exemplo:

  • Elevada taxa reprodutiva;
  • Habilidade para completar o seu ciclo de desenvolvimento em várias culturas;
  • Elevado número de espécies hospedeiras;
  • Habilidade para desenvolver resistência a defensivos químicos; e
  • Capacidade de sobrevivência sob condições ambientais adversas.

2. Ciclo de vida da mosca-branca

A rapidez com que a mosca-branca se reproduz a torna uma excelente praga agrícola, por isso é importante reconhecer esta praga em cada estádio.

Isto é extremamente importante, principalmente, devido à seletividade de alguns inseticidas a estádios específicos de desenvolvimento deste inseto.

Em condições ambientais de clima quente e seco, os cuidados devem ser redobrados, pois sob altas temperaturas o período necessário para que a mosca-branca complete um ciclo de desenvolvimento é menor.

Em temperaturas, em torno de 25°C, a mosca-branca reproduz-se 4 vezes mais rápido do a 14°C, por exemplo.

Resumidamente, o ciclo de desenvolvimento da mosca-branca é composto por 4 estágios:

  • Ovo
  • Ninfa (4 ínstares)
  • Pupa
  • Adulto

A superfície abaxial das folhas jovens é um dos locais preferidos da mosca-branca para a ovoposição. Os ovos, por sua vez, são cor amarela e possuem formato periforme, podendo ser visualizados com o auxílio de uma lupa, medindo de 0,2 a 0,3 mm.

No 1º instar ninfal, estes insetos são móveis e tem capacidade para percorrer apenas pequenas distâncias nas folhas. Do 2º ao 4º instar, as ninfas se fixam nas folhas, ou seja, tornam-se imóveis.

O ciclo de desenvolvimento de ovo a adulto leva em torno de 20 dias, enquanto os adultos sobrevivem por aproximadamente 19 dias.

As moscas adultas medem cerca de 1 a 2 mm. Entretanto, as fêmeas são maiores que os machos e apresentam elevada fecundidade. As fêmeas adultas podem ovipositar mais de 100 ovos durante o seu ciclo de vida.

A movimentação e, portanto, a disseminação das populações de mosca-branca nas lavouras ocorre durante o período da noite e/ou em horários de temperaturas mais amenas.

Além disso, o vento é um aliado importante na sua disseminação, pois a mosca-branca possui baixíssima habilidade de voo.

 

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3. Danos da mosca-branca às culturas agrícolas

Os danos às plantas ocasionados em função da presença da mosca-branca na lavoura, podem ser provocados tanto por adultos como por ninfas. Dependendo da severidade do ataque, a mosca-branca pode ocasionar uma série de danos às culturas, como por exemplo:

  • Amarelecimento e encarquilhamento das folhas.
  • Maturação irregular dos frutos.
  • Redução do vigor e da produtividade.

Os danos ainda podem ser categorizados como diretos e indiretos.

Os danos diretos são muito similares aos ocasionados pelos pulgões, pois a mosca-branca também se alimenta através da sucção da seiva no floema, e durante este processo ocorre a injeção de substâncias tóxicas, tanto por ninfas, quanto pelos adultos.

Desta forma, provocam modificações no desenvolvimento e reprodução das plantas. No tomateiro, por exemplo, causa a maturação irregular do tomate, além disso sob alta infestação as perdas podem chegar a 100%.

Ao se alimentar das plantas, a mosca-branca libera uma substância rica em açúcar, também chamada como “honeydew“. Esta substância, por sua vez, induz o crescimento de fungos do tipo fumagina.

Este fungo cresce sobre a superfície de folhas, inibindo assim a fotossíntese e, consequentemente, a produção de fotoassimilados, empobrecendo a planta nutricionalmente, reduzindo o seu crescimento vegetativo e a produtividade.

Apesar dos danos diretos também serem responsáveis por perdas produtivas e monetárias, o principal problema atrelado à presença de mosca-branca na lavoura, diz respeito a sua capacidade de atuar como inseto vetor de vírus fitopatogênicos.

De modo geral, pode-se dizer que cada espécie de mosca-branca tem sua função como praga agrícola, pois:

 

A mosca-branca da espécie B. tabaci tem papel de destaque na transmissão de vírus, enquanto a B. argentifolii é a principal responsável pelos danos diretos.

 

4. Mosca-branca como vetor de doenças

Até o momento, estima-se que a mosca-branca seja responsável pela transmissão de mais de 110 doenças viróticas. Dentre elas, as mais importantes economicamente para a agricultura brasileira são:

 

Vírus do mosaico dourado do feijoeiro ou Bean Golden Mosaic Virus (BGMV)

Esta virose é provocada por um Geminivírus transmitido por ambas as espécies de mosca-branca. Atualmente, é um dos principais problemas na cultura do feijão na América Latina.

Além disso, as perdas podem chegar a 100%, variando conforme o genótipo e do estádio o feijoeiro e da população da mosca-branca na lavoura.

 

Vírus do mosaico dourado do tomateiro ou Tomato Golden Mosaic Virus (TGMV)

Esta virose é causada pelo gênero Begomovirus, família Geminiviridae, em tomateiro, e representa atualmente um dos mais sérios problemas na cultura do tomate no Brasil.

Além disso, pode infectar várias espécies de plantas, como por exemplo tomateiro, soja, fumo etc. As quais servem como repositório para os vírus, aumentando assim, a sua capacidade de disseminação.

 

Vírus do mosaico comum do algodoeiro ou Abutilon Mosaic Virus (AbMV)

Virose causada por um Begomovírus, que sob condições de elevada incidência, pode reduzir até 50% da produtividade do algodoeiro.

Até o momento, a sua transmissibilidade tem sido relacionada apenas a mosca-branca B. tabaci.

Diversas espécies de plantas daninhas pertencentes à família Malvaceae podem servir como reservatórios para este do vírus, especialmente, guaxuma (Sida rhombifolia) e vassourinha (S. micrantha).

5. Manejo da mosca-branca

Atualmente, o controle utilizando inseticidas é a principal alternativa para o controle da mosca-branca.

Entretanto, é altamente recomendável a adoção de medidas que utilizem os preceitos do Manejo Integrado de Pragas (MIP).

O MIP engloba várias estratégias para o manejo dos insetos-pragas, as quais visam reduzir a dependência e a necessidade dos inseticidas, bem como aumentar a sua eficiência. Dentre elas, pode-se citar:

  • Utilização de material propagativo sadio;
  • Utilização de telas de proteção nos viveiros de mudas;
  • Implantação de quebra-ventos;
  • Erradicação de plantas contaminadas e de restos de culturas; e
  • Adoção de ferramentas de tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários

Nos últimos anos, diversos produtos comerciais foram desenvolvidos para o controle biológico da mosca-branca, dentre eles o MAPA tem o registro apenas para as espécies Paecilomyces fumosoroseus e Beauveria bassiana.

Estudos recentes têm demostrado o potencial de outras espécies no controle biológico no Brasil, como:

Ao passo que na Europa já são comercializados inimigos naturais como Chrysoperla carnea (Neuroptera: Chrysopidae) e o parasitoide Encarsia formosa (Hymenoptera: Aphelinidae).

Apesar do avanço do controle biológico para o manejo da mosca-branca, muitos produtores ainda utilizam inseticidas químicos com a principal via de manejo.

A tabela abaixo demonstra os principais ingredientes ativos utilizados no Brasil.

 

Mosca-branca: ciclo de vida, doenças transmitidas e estratégias de manejo

 

Além destes inseticidas já comercializados atualmente, espera-se que nos próximos anos o número de ingredientes ativos registrados no MAPA para a mosca-branca aumente.

Cabe ressaltar ainda que, a escolha de qual produto utilizar deve sempre respeitar as recomendações do MAPA para cada cultura, sendo altamente recomendável que os inseticidas com diferentes mecanismos de ação sejam rotacionados em aplicações sequenciais, para evitar a seleção de indivíduos resistentes aos mecanismos de ação dos inseticidas.

6. Resistência da mosca-branca aos inseticidas

Diante do cenário atual da agricultura, que por diversas vezes utiliza de forma indiscriminada os defensivos agrícolas, são cada vez mais frequentes os casos de insetos resistentes a inseticidas.

Para a mosca-branca, este cenário não é diferente. Até o momento já foram relatados casos de resistência aos inseticidas dos grupos químicos:

  • Carbamatos
  • Neonicotinóides
  • Organofosforados
  • Piretróides
  • Reguladores de crescimento.

Pesquisas realizadas recentemente apontam que as populações de mosca-branca existentes no Brasil tem frequência elevada de resistência aos produtos químicos do grupo dos neonicotinóides.

Estudos recentes ainda apontam para a descoberta de uma nova raça de B. tabaci no Brasil. O agravante desta raça se dá em função da sua resistência natural a diversos inseticidas.

Por isso, o Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (IRAC-BR) tem fomentado estratégias de manejo com o objetivo de reduzir os relatos de resistência de mosca-branca aos inseticidas em nível nacional.

Neste sentido, o IRAC-BR e as instituições parceiras esperam que com a adoção de medidas de manejo auxiliares, os agricultores consigam manejar mais corretamente esta praga.

Dentre as medidas recomendadas para evitar o aumento dos casos de resistência, pode-se dizer que a principal é a rotação dos inseticidas com diferentes mecanismos de ação. Esta é considerada a estratégia mais eficientes no manejo da resistência.

Deve-se dar preferência a pulverizações com inseticidas seletivos para a mosca-branca, assim ocorre a manutenção dos inimigos naturais. Os quais atuam naturalmente reduzindo a população de mosca-branca resistente e que não são erradicadas via inseticidas.

Além disso, os agricultores devem respeitar sempre as dosagens recomendadas para cada inseticida.

Sempre que possível, os agricultores podem adotar outras medidas auxiliares, como por exemplo:

Quando todas estas estratégias são adotadas de modo coordenado, as chances para o surgimento de biótipos de mosca-branca resistentes aos herbicidas são reduzidas.

 

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