Os Sistemas Agroflorestais configuram-se como alternativas para a utilização da terra. Uma vez que, representam uma possível solução para os problemas ambientais atrelados a agricultura moderna.
Os Sistemas Agroflorestais possuem espécies arbóreas associadas a culturas anuais de interesse agronômico e/ou produção de animais.
Eles permitem a exploração de forma sustentável de diversos produtos agrícolas, como:
- Culturas anuais: grãos e forragem.
- Culturas arbóreas: madeira e frutos.
- Produção animal: carne, leite, couro, lã etc.
Além disso, contribuem para a preservação ambiental, exploração consciente da madeira, diversificação da produção, melhor aproveitamento do solo e, diversos outros atributos.
Por isso, nos últimos anos, os Sistemas Agroflorestais têm sido implementados em diversas propriedades agrícolas ao redor do mundo. No Brasil, este modelo de produção apresenta três frentes principais:
- Integração Lavoura, Pecuária e Floresta, ou simplesmente, iLPF.
- Recuperação de áreas degradadas.
- Recuperação de pastagens degradadas.
Entretanto, o sucesso do sistema agroflorestal é extremamente dependente da forma como ele é planejado e manejado. Em virtude de possuir propósitos diferentes, a forma como as espécies de plantas e animais interagem como o ambiente é variada.
Vantagens e desvantagens do Sistema Agroflorestal
Os Sistemas Agroflorestais possibilitam grandes benefícios ambientais e sociais para a humanidade. Entretanto, assim como todos os modelos de produção de alimentos, eles possuem suas vantagens e desvantagens, as quais serão listadas abaixo.
Vantagens dos Sistemas Agroflorestais
Os Sistemas Agroflorestais contribuem de diversas formas para a melhoria do agroecossistema, principalmente, no quesito solo. Em função das espécies de plantas utilizadas, ocorre uma maior conservação e cobertura do solo, proporcionando redução da erosão.
Além disso, as plantas recuperam a fertilidade do solo, aumentam a biodiversidade dos organismos benéficos e garantem a ciclagem de nutrientes.
Quando o Sistema Agroflorestal é utilizado para a recuperação de áreas degradadas, as árvores contribuem para a melhoria do microclima. Sendo assim, a temperatura local diminui e a umidade do solo aumenta.
O Sistema Agroflorestal é extremamente vantajoso para produtores da agricultura familiar, já que, permite a diversificação da produção e, consequente, a manutenção de renda durante o ano todo. Além disso, diminui a necessidade da dependência de insumos externos.
Desvantagens dos Sistemas Agroflorestais
Por ser uma tecnologia que integra diversas etapas de manejo, o Sistema Agroflorestal pode ser um pouco mais difícil de ser executado. Exigindo, um conhecimento técnico mínimo sobre as culturas e os animais utilizados.
A escolha das espécies também influencia nos resultados, pois ainda é pouco o conhecimento sobre os efeitos alelopáticos entre plantas.
Além disso, a introdução de novas espécies de plantas requer novos conhecimentos sobre o manejo para a sua exploração econômica.
Outro fator que desmotiva a implantação do Sistema Agroflorestal em muitas propriedades brasileiras diz respeito ao custo inicial. Geralmente, o valor para a aquisição das mudas de espécies florestais adaptadas a cada região é elevado.
Além de tudo, o tempo para o retorno deste capital investido é bem mais lento. O que torna essa prática menos atrativa financeiramente.
Tipos de Sistemas Agroflorestais
Os Sistemas Agroflorestais podem ser divididos de 3 formas principais, cada uma tem suas características e objetivos próprios. Sendo eles:
Sistemas Agrissilviculturais: árvores + culturas anuais
A partir do ponto de vista da sustentabilidade, este é um dos melhores sistemas para o cultivo de plantas anuais. Pois apresenta diversos benefícios, principalmente, quando este Sistema Agroflorestal é comparado ao modo convencional de produzir grãos.
Isto se dá, especialmente, devido a otimização do uso da terra, pois permite a diversidade de espécies. O que resulta em uma melhor utilização de recursos como água (manutenção da umidade do solo) e nutrientes (ciclagem).
Dos Sistemas Agrissilviculturais mais conhecidos no Brasil, destacam-se:
Sistemas Agrissilvipastoris: árvores + culturas anuais + animais
Este é Sistema Agroflorestal que mais cresce, provavelmente, por ser o mais diversificado. O modelo Integração Lavoura, Pecuária e Floresta, ou simplesmente (iLPF) é o que apresenta maior número de variações de espécies vegetais e animais.
Na prática, corresponde a uma estratégia de produção que permite integração de diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área.
As árvores podem ser agrupadas em fileiras únicas ou duplas, o espaçamento entres elas, varia com a espécie. Entre estas fileiras ocorre o cultivo de pastagens e culturas anuais, em rotação ou sucessão.
Sistemas Silvipastoris: árvores + pastagens + animais
Este Sistema Agroflorestal é bastante similar ao anterior, contudo, não utiliza culturas anuais no manejo, ou seja, o pasto é mantido de forma constante sob as árvores. Por isso, considera-se o sistema Silvipastoril é mais fácil de ser manejado.
As árvores atuam para manutenção do conforto térmico para o animal, ao passo em que, se desenvolvem aumentando o seu potencial para exploração futura como madeira. A principal desvantagem deste sistema, em relação ao anterior, é que ele não inclui a rotação com culturas anuais, como a soja, por exemplo.
Desta maneira, o fornecimento de nutrientes, principalmente, de nitrogênio precisa ser complementado via fertilização química.
Passos importantes para a implantação de um Sistema Agroflorestal
O planejamento para a implantação de um Sistema Agroflorestal é fundamental para o seu sucesso. Vários atributos precisam ser levados em consideração antes da execução das atividades propriamente ditas.
O primeiro passo é relacionado aos cuidados com solo, dependendo do estado nutricional ou de degradação, pode ser necessário a inclusão de leguminosas arbóreas ou anuais para a sua melhoria.
O segundo passo diz respeito a escolha das espécies de plantas, sejam elas florestais, anuais ou pastagens. A mesmas devem ser adaptadas as condições edafloclimáticas da região, ter mercado para a sua comercialização e, principalmente, devem ser compatíveis com as outras espécies.
A aquisição de mudas de árvores para os Sistemas Agroflorestais nem sempre é uma tarefa fácil. Na maioria das vezes, as espécies mais adaptadas são as nativas, que também são as mais caras e difíceis de serem propagadas.
O terceiro passo leva em conta o manejo do Sistema Agroflorestal como um todo. Inicialmente, após o plantio das primeiras plantas arbóreas, os cuidados são maiores.
Algumas espécies podem exigir desbastes, controle de plantas daninhas, podas, controle de pragas etc. A manutenção do estrato arbóreo é o requisito básico de qualquer Sistema Agroflorestal.
Desta forma, é recomendável que os produtores estejam preparados financeiramente para estas atividades.
Além disso, nos primeiros anos, os sistemas agroflorestais exigem maior mão-de-obra humana, do que nos anos subsequentes.
Apesar de não ser mandatório, é recomendável também que sejam incluídas plantas leguminosas em algum momento no sistema agroflorestal. Elas devem ser a principal fonte de fornecimento de nutrientes ao solo. Isso reduz os custos de produção e resulta em maior sustentabilidade ao sistema.
Legislação dos Sistemas Agroflorestais
Até o momento não há uma lei específica que subsidie legalmente os Sistemas Agroflorestais como um todo. Entretanto, indiretamente existem várias leis, normas, instruções normativas e outros instrumentos legais para esta temática.
O foco da legislação atual baseia-se na utilização dos Sistemas Agroflorestais como uma alternativa de estímulo econômico à recuperação florestal e incorporação do componente arbóreo em estabelecimentos rurais.
Nas propriedades agrícolas, de acordo com o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), que regulamenta também o Cadastro Ambiental Rural (CAR), é possível a utilização dos sistemas agroflorestais para a composição das áreas de reserva legal. Desde que atendam a alguns pré-requisitos.
No ano seguinte, em agosto de 2013 foi sancionada a Lei nº 1 2.854, a qual:
“Fomenta e incentiva ações que promovam a recuperação florestal e a implantação de Sistemas Agroflorestais em áreas rurais desapropriadas e em áreas degradadas, nos casos que especifica.”
Sem dúvida, os últimos anos foram marcados por avanços na regulamentação para os agricultores que implementam ou pretendem implementar Sistemas Agroflorestais, uma vez que que incentiva fomentos a atividade.
Isso ganha maior importância ainda quando nos referimos as linhas de crédito destinadas aos sistemas agroflorestais. Como por exemplo:
- Pronaf Floresta: Crédito de Investimento para Sistemas Agroflorestais.
- Pronaf Produtivo Orientado: Crédito Produtivo Orientado de Investimento.
- Programa ABC: Programa para Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura.
- FNE Verde: Programa de Financiamento à Sustentabilidade Ambiental.
- FNO Programa ABC: Programa de Financiamento em Apoio à Agricultura de Baixo Carbono.
- FCO Verde: Conservação da Natureza.
Sistemas Agroflorestais para recuperação de áreas degradadas
A utilização de Sistemas Agroflorestais é uma das principais alternativas para a recuperação de áreas degradadas. Principalmente, em locais onde os modelos de produção tradicionais já exploraram todas as reservas nutricionais do solo.
Nestes casos, o Sistema Agroflorestal surge como uma das poucas alternativas economicamente e sustentavelmente viáveis para a recuperação da capacidade produtiva do solo.
Inicialmente, deve ser considerado o estado de degradação do solo e, não apenas o estado nutricional dele. Isto é, deve-se avaliar o grau de compactação, presença de processos erosivos, presença de plantas daninhas, cupins, formigueiros etc.
Apenas após esta avaliação é que um modelo de Sistema Agroflorestal pode ser elaborado para intervir na degradação e recuperar a área.
Em áreas agrícolas com elevado grau de degradação, é indicado a implantação de espécies de plantas com potencial para um rápido estabelecimento. Além disso, que se desenvolvam através do menor uso possível de insumos, pois o objetivo aqui é que processo natural de sucessão vegetal seja retomado pelo ambiente.
Estas plantas por sua vez, recebem a denominação de pioneiras. Entretanto, elas não irão ser as únicas, pois lembrem-se que, os sistemas agroflorestais são baseados na diversidade.
A utilização das espécies pioneiras tem por objetivo preparar o ambiente local para o recebimento das culturas de interesse econômico. É recomendável que se dê preferência por espécies nativas, como por exemplo:
- Pau Jacaré (Piptadenia gonoacantha)
- Guatambu (Balfourodendron riedelianum)
- Algaroba (Prosopis juliflora)
Na maioria das vezes, o solo apenas estará apto ao desenvolvimento de outras plantas após o estabelecimento das plantas pioneiras. Pois elas ainda têm a função de cobrir o solo (extensão da copa), fornecer nutrientes (leguminosas), melhorar a infiltração de água no solo (através das raízes), proporcionar um microclima adequado etc.
Sistemas Agroflorestais para recuperação de pastagens degradadas
O manejo das pastagens agrícolas no Brasil é, muitas vezes, negligenciado por pequenos e até mesmo, grandes produtores de animais. O que ocorre, na prática, é que o maior cuidado é direcionado para os animais, enquanto as pastagens ficam sem segundo plano
Fator que contribui para o processo de degradação das pastagens, que perdem vigor e produzem quantidades bem menores de biomassa vegetal. Estudos recentes indicam que, cerca de metade das áreas de pastagens brasileiras estejam passando por algum processo de degradação.
Neste cenário, os Sistemas Silvipastoris, surgem como uma excelente forma de recuperar as pastagens. Destaque aqui para o sistema de iLPF, que promove a introdução de árvores nestas áreas, ocasionando uma série de benefícios ao solo e a produção dos animais.
Dependendo da espécie introduzida, ocorre o aumento na fertilidade do solo, aporte de biomassa, melhoria na qualidade da forragem e redução da erosão.
No sistema iLPF, a copa das árvores atua ainda como uma proteção física para a pastagem, pois reduz a velocidade dos ventos e o impacto da chuva sobre a superfície do solo.