O Agronegócio atual está passando por um processo de revolução.
A chegada da era digital trouxe novas tecnologias para o setor, ajudando no processo de otimização da produção.
Aliado a isso e não menos importante, a presença das mulheres no meio rural também é uma inovação, nessa área que antes era tomada pela presença masculina.
Seja no setor da agricultura ou da pecuária, as mulheres estão se destacando de uma maneira muito positiva, e vêm alcançando grandes resultados no Agronegócio.
Esses resultados estão sendo atingidos devido a diversas características do perfil dessas mulheres, que serão abordadas no decorrer deste artigo.
Sabe-se que, apesar dessa atual maior inserção da mulher no Agronegócio, esse setor ainda é bastante masculinizado, sendo que, mais de 65% dos postos de trabalho desse segmento é ocupada por homens.
Além disso, os salários recebidos pelas mulheres do Agronegócio são desiguais em relação aos recebidos pelos homens.
As mulheres recebem cerca de 78,3% do que é pago aos homens, de acordo com o Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro).
Essa desigualdade de gêneros no Agronegócio causa maior empenho das mulheres para conquistar o seu espaço.
E o resultado disso é que elas estão conseguindo.
Isso pode ser demonstrado a partir de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa IPESO, no período de junho a julho de 2017, em que foram entrevistadas 862 mulheres que fazem parte do Agronegócio, com o objetivo de demonstrar o perfil e a atuação das mulheres nesse ramo.
Entre os resultados interessantes desta pesquisa, podemos destacar:
- 59,2% são proprietárias ou sócias;
- 54,4% moram na cidade;
- 50,5% não exercem outras funções profissionais;
- 36,2% trabalham na área porque gostam;
- 42,7% dividem as tarefas domésticas;
- 56,2% se preocupam mais com estabilidade financeira.
A partir desses resultados, nota-se que está havendo uma evolução das mulheres no contexto agropecuário, sendo que elas estão se inserindo definitivamente no Agronegócio brasileiro, o que seria impossível de acontecer décadas atrás.
1. Eficiência feminina
A velha rotulação das mulheres como “sexo frágil” está completamente ultrapassada.
Pois, com muito esforço, para serem reconhecidas no setor agropecuário, as mulheres precisam ser altamente qualificadas e efetivas, para conquistar um espaço que seria facilmente preenchido por um homem que não fosse tão efetivo e qualificado assim.
E as mulheres estão prestando esse papel.
Devido ao seu amor pelo Agronegócio, elas possuem garra e determinação para conseguir um reconhecimento mínimo que seja.
Graças a essa determinação, estão rompendo barreiras e vencendo o preconceito.
Pois, estão provando que podem facilmente transitar entre o campo e a cidade, e conseguem conciliar perfeitamente a carreira profissional com a sua família, seus filhos e seus afazeres domésticos.
De acordo com a pesquisa realizada pelo IPESO, as mulheres se interessam por finanças, gestão de pessoas e gestão empresarial.
Isso demonstra que elas possuem grandes objetivos profissionais, elas querem mais, não se contentam com suas atuais posições alcançadas, mesmo aquelas que já possuem cargos de liderança.
Outra característica nobre das mulheres é a humildade.
Elas não possuem vergonha de pedir ajuda, muito ao contrário da maioria dos homens.
Isso faz com que elas tenham mais rapidez em solucionar e resolver problemas que surgem em suas atividades profissionais.
Além disso, as mulheres em sua maioria são resilientes, o que corresponde a capacidade de não ceder a cobranças por melhores resultados no trabalho; de vencer obstáculos e de lidar com seus problemas pessoais.
Em uma outra pesquisa, esta realizada pela Fran6 Pesquisa, foram entrevistadas mais de 300 mulheres, no período de novembro de 2015 a abril de 2016, que atuam na gestão de empreendimentos agropecuários.
No total, 60% das entrevistadas possuem ensino superior completo, e 24% dessas mulheres possuem pós-graduação ou mestrado.
Esses dados comprovam a qualidade técnica e da gestão de empreendimentos agropecuários liderados por mulheres.
2. Obstáculos encontrados
A diferença entre os sexos feminino e masculino não se encontra apenas em seus atributos físicos.
Uma pesquisa realizada na Pensilvânia comprovou que os cérebros do homem e da mulher são bioquimicamente diferentes.
Isso faz com que homens e mulheres pensem e agem de maneira diferente.
Contudo, isso não quer dizer que as mulheres são mais inteligentes que os homens ou vice-versa.
Isso mostra simplesmente que, seria vantajoso, para uma empresa do Agronegócio, aliar as capacidades de ambos para se atingir melhores resultados.
Porém, infelizmente não é isso que acontece.
Apesar de a realidade do Agronegócio brasileiro estar aos poucos sendo modificada, a presença feminina nesse setor ainda é pouco valorizada.
A mulher no Agronegócio passa por provações diárias, enfrenta preconceitos, lida com a desigualdade salarial em relação aos homens, se queixa da falta de credibilidade, dentre outros.
Essas provações são confirmadas a partir das entrevistas realizadas pela Fran6 Pesquisa, as quais obtiveram as seguintes queixas das mulheres em relação aos problemas que ocorrem pelo simples fato de serem mulheres.
Das mais de 300 mulheres entrevistadas,
- 43% afirmaram ter dificuldade para que suas opiniões sejam levadas em consideração por funcionários;
- 41% possuem dificuldade para que suas opiniões sejam levadas em consideração pelos seus pares ou colegas de cargo;
- 28% afirmaram que existe barreiras para mulheres alcançarem cargos em organizações e/ou associações;
- 28% disseram que não conseguem se expressar como mulher na forma de se vestir e se comportar;
- 27% afirmaram se sentir solitárias por estar em um ramo que é composto predominantemente por homens;
- 24% possuem dificuldade para ter um relacionamento estável com seu parceiro(a).
Paralelamente à isso, na pesquisa realizada pela IPESO, 44,2% das entrevistadas disseram sofrer preconceito evidente no seu ambiente de trabalho, e 38,8% delas relataram problemas na liderança, simplesmente por se tratar de mulher.
Esses problemas consistem em:
- A mulher não foi levada a sério;
- Duvidaram da sua habilidade;
- Duvidaram do seu conhecimento;
- Duvidaram da sua capacidade de negociar.
A partir dessas pesquisas, podemos ter a noção da dificuldade enfrentada por aquelas que estão inseridas no setor, ou até mesmo, para aquelas que ainda vão ser inseridas nesse mercado de trabalho.
Com toda certeza é um grande desafio, porém, aos poucos a mentalidade na agropecuária vai se modificando, a partir da persistência e da efetividade das mulheres.
Portanto, a inserção cada vez maior de mulheres no Agronegócio tem grande importância, para quebrar todos esses paradigmas e mostrar para todo mundo que a mulher tem grande capacidade de ser uma excelente profissional do Agronegócio.
3. Perspectivas para o futuro
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no Agronegócio, elas ainda se encontram perseverantes, elas ainda acreditam no que fazem, e principalmente, acreditam no seu potencial.
Na pesquisa realizada pela IPESO, 55,5% das mulheres disseram que se sentem preparadas para enfrentar todo o preconceito que sofrem e, 40,9% disseram estar parcialmente preparadas.
E também, na pesquisa realizada pela Fran6 Pesquisa, a grande maioria das mulheres entrevistadas disseram ser otimistas em relação ao futuro, nos diversos segmentos da agropecuária, mesmo passando por todas essas dificuldades.
O resultado disso é que, além de serem otimistas e estarem preparadas para vencer todas as barreiras, as mulheres estão se unindo, estão juntando suas forças para que isso aconteça.
Essa união está ocorrendo por meio de entidades e de organizações de eventos de grande porte realizados para mulheres.
Um belo exemplo é o Congresso Nacional de Mulheres no Agronegócio (CNMA), no qual se encontram mulheres do ramo agropecuário do país inteiro. Tem como objetivo reproduzir conhecimento e promover networking entre mulheres do setor.
O congresso já teve duas edições, e nesse ano, a terceira edição tem o tema: “2030 – O Futuro agora, na Prática”, que trará informações sobre nanotecnologia, big data, previsão climática, agroenergia, dentre outros, deixando as mulheres atualizadas sobre as novas tendências e tecnologias do Agronegócio.
Além de estarem participando desse tipo de eventos, as mulheres estão buscando cada vez mais capacitação.
Segundo o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar/MT), dentre os treinamentos ofertados pela instituição, no ano de 2016, foram capacitadas mais de 5 mil mulheres. Já no ano de 2017, esse número subiu para 8.500 mulheres.
Otávio Celidonio, superintendente no Senar/MT, destaca: “Temos observado um aumento considerável no número de mulheres que buscam os nossos treinamentos, principalmente os relacionados à gestão e à liderança“.
De acordo com o consultor da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e coordenador de conteúdo do terceiro CNMA, José Luiz Tejon, as mulheres possuem características primordiais para o futuro do Agronegócio.
Segundo ele, isso não está relacionado com a diminuição do homem no setor, mas que deve haver um equilíbrio entre as características humanas de cada gênero.
Ele ainda firma: “A mulher é um novo paradigma na gestão do agronegócio, que exige inovação e hoje clama por sustentabilidade. Mesmo sem conhecimento técnico, conseguem fazer coisas revolucionárias pois não têm vergonha de procurar quem sabe.”
Contudo, as mulheres possuem características extremamente favoráveis para alavancar cada vez mais o agronegócio e estão focadas em correr atrás dos seus objetivos, sempre buscando por mais reconhecimento e ocupação de cargos de liderança no setor.
4. Liderança feminina no Agronegócio
É isso que as mulheres no Agronegócio estão buscando, maior reconhecimento pelo trabalho bem desenvolvido que realizam.
É fato que a realidade do agronegócio brasileiro está mudando, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), houve um aumento de 21% no número de mulheres que ocupam cargos de decisão nas empresas do setor entre os anos de 2013 a 2017.
Contudo, é visível que os cargos de liderança das mulheres muitas vezes estão relacionados com a sucessão familiar de propriedades rurais.
Ou seja, a maioria das mulheres que são líderes no Agronegócio, estão à frente de propriedades rurais que são da sua família, e não de empresas de outros segmentos.
Isso nos remete ao pensamento de que mulheres que não são herdeiras de propriedades rurais, possuem ainda mais dificuldades em alcançar um cargo de reconhecimento.
Apesar disso, esse processo é considerado otimista, vista as características e a determinação das mulheres do setor.
A seguir, veremos alguns exemplos de mulheres líderes inspiradoras do Agronegócio:
Luisa Comin
Formada em Administração e com pós-graduação em Gestão de Negócios. Luisa assumiu a gestão da fazenda de seu pai, em Espumoso – RS, quando ele adoeceu, em 2011.
Até então, só tinha trabalhado na cidade. Hoje, além de realizar a gestão da fazenda, ela participa de duas cooperativas da região e faz parte da diretoria do sindicato rural da sua cidade.
Kátia Abreu
Foi a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento durante o segundo governo de Dilma Rousseff, e é pecuarista no estado do Tocantins.
Sua graduação é em Psicologia.
Foi presidente do sindicato rural de Gurupi–TO, presidente Federação da Agricultura e Pecuária, presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, foi eleita a deputada federal e senadora, além disso, foi a primeira mulher a ser presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Mônika Bergamaschi
Engenheira agrônoma, foi a primeira mulher a comandar a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, onde ficou por 3 anos.
Foi Docente da Disciplina de Cooperativismo da FCAV/UNESP – Campus de Jaboticabal, Secretária Geral da ABAG/RP – Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto, e Secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Atualmente ela é Membro de Conselhos Consultivos e Deliberativos de Entidades de Representação Classista e de Empresas Privadas, Presidente do Conselho Diretor da ABAG/RP – Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto e Presidente Executiva do IBISA – Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade do Agronegócio.
Cecília Falavigna
Produtora rural de Maringá–PR, assumiu a gestão da propriedade após o falecimento do marido, quando teve que largar sua profissão de professora.
Com auxílio de uma cooperativa da região, Cecília diversificou sua propriedade, hoje produzindo grãos e laranja.
Em 2015, ganhou concurso de maior produtividade de soja da cooperativa, com a produtividade de 79,9 sacas por hectare.
Mariely Biff
Graduada em Administração em Agronegócios, pós graduada em Gestão Empresarial e MBA em Agronegócios.
Mariely trabalhou por 6 anos em uma cooperativa de crédito, na qual alcançou o cargo de gerente da carteira rural da agência.
Atualmente trabalha com consultoria em gestão de pessoas, sucessão familiar e estruturação administrativa à produtores rurais, além de ser colunista em alguns portais do Agronegócio, gravar cursos EAD para o Agro Carreira de São Paulo, e realizar treinamentos e palestras sobre gestão e sucessão.