O manejo de nematoides em sistemas de produção agrícola é um tema que possui grande importância na atualidade, pois estes parasitas atacam várias espécies de plantas, incluindo as principais culturas agrícolas do agronegócio brasileiro.
Os fitonematoides (nematoides que se alimentam de plantas), em sua maioria, são parasitas que atacam as raízes das plantas.
Ao penetrar nas raízes, eles causam danos na absorção de água e nutrientes, comprometendo o desenvolvimento da cultura, além de provocar ferimentos que favorecem o desenvolvimento de doenças a partir da entrada de patógenos de solo, como o Fusarium spp. por exemplo.
As principais espécies de nematoides que atacam as raízes são:
- Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita – Formadores de galhas;
- Heterodera glycines – Formador de cistos;
- Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae – Formadores de lesões;
- Rotylenchulus reniformis – Reniforme.
O que pouca gente sabe é que existem também nematoides que atacam a parte aérea das plantas.
As espécies de Aphelenchoides spp. se encontram inicialmente no solo, porém, ao parasitar as plantas, sobem para a parte aérea e podem se alojam nas hastes e folhas.
Na soja, os danos causados por essa espécie de nematoide que ataca a parte aérea da planta se iniciam a partir do início da sua fase reprodutiva, os quais podem ocasionar lesões nas vagens que reduzem o número de grãos, além da possibilidade de abortamento das mesmas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), o prejuízo causado por nematoides no agronegócio nacional chega a R$ 35 bilhões, sendo que R$ 16,2 bilhões foram contabilizados apenas para a soja.
A pesquisadora Andressa Cristina Zamboni Machado afirmou para a revista Campo e Negócios que, em áreas de soja altamente infestadas pela espécie Meloidogyne incognita, as perdas podem ultrapassar 55% de redução na produção.
E que na região do Centro-Oeste já foi relatado uma diminuição da produtividade da soja em 80%, pelo ataque da espécie Pratylenchus brachyurus.
Até nas lavouras onde os sintomas de infestação por nematoides não são detectados, os resultados de produtividade das cultivares resistentes de soja têm sido cerca de 400 kg ha-1 superiores aos resultados das cultivares suscetíveis.
A partir disso, você já teve uma noção do tamanho do prejuízo que esses parasitas podem causar na sua lavoura.
Neste artigo você encontrará tudo o que você precisa saber como realizar o manejo de nematoides, a partir do seguinte roteiro:
- Problemas com nematoides na cultura da soja
- Problemas com nematoides na cultura do milho
- Danos e prejuízos causados pelos nematoides
- Estratégias de manejo de nematoides
- Produtos para controle químico de nematoides
Problemas com nematoides na cultura da soja
A soja é uma cultura de grande importância econômica para o Brasil, e um dos problemas mais graves e frequentes que envolvem a sua produção é causado por nematoides.
Os nematoides mais prejudiciais à cultura atacam a parte aérea e também as raízes, sendo os formadores de galhas, lesões radiculares e o de cisto.
Os danos que estes parasitas causam na cultura da soja resultam em diversos problemas que afetam a produtividade da lavoura.
De modo geral, ao penetrar nas plantas de soja, os nematoides das raízes comprometem a absorção de água e nutrientes, desencadeando diversas reações nas plantas que prejudicam o seu desenvolvimento.
Além disso, eles provocam ferimentos nas raízes. Esses ferimentos servem como porta de entrada para patógenos que sobrevivem no solo.
Dessa forma, além dos danos causados pelos nematoides, as plantas sofrerão com doenças fúngicas, as quais também podem causar redução significativa na produtividade, encarecendo ainda mais o custo de produção da soja.
Em alguns casos, a ação desses parasitas provoca o abortamento das vagens na cultura da soja.
Esse problema é capaz de induzir uma nova floração e superbrotamento.
Como consequência, poderá ocorrer o impedimento do processo de maturação das vagens, deixando o grão verde mesmo depois da aplicação de herbicidas dessecantes.
Como se não bastasse todos esses empecilhos causados pelos nematoides na cultura da soja, realizar o manejo contra parasitas não é tarefa fácil.
Os nematoides são polífagos, ou seja, se alimentam em mais de uma espécie de planta, e a maioria dos nematoides se hospeda em culturas agrícolas que normalmente são utilizadas em sucessão ou rotação com a soja, permitindo a permanência dos nematoides na área em forma de ovo durante a entressafra.
Todos esses problemas justificam a baixa produtividade das áreas de soja com alta infestação de nematoides.
Problemas com nematoides na cultura do milho
No Brasil, a cultura do milho é muito utilizada em sistema de sucessão com a cultura da soja, pois além de ser mais uma fonte de renda para os produtores rurais na segunda safra, é uma ótima opção para produção de cobertura do solo.
Além disso, existem no mercado alguns híbridos de milho que possuem a capacidade de reduzir populações de algumas espécies de nematoides, como Pratylenchus brachyurus, e Meloidogyne spp.
Porém, vale ressaltar que são poucas as opções de híbridos resistentes aos nematoides.
Os híbridos “comuns” são suscetíveis a várias espécies de nematoides, sendo as principais Meloidogyne spp., Pratylenchus spp., e Rotylenchulus reniformis.
Lembrando que estas são espécies que atacam as raízes das plantas e, por isso, os problemas são semelhantes aos que ocorrem na cultura da soja.
A capacidade que os nematoides possuem de prejudicar o sistema radicular da planta resulta em plantas de milho pouco desenvolvidas, com crescimento reduzido, e que darão origem a espigas deformadas, pequenas e mal granadas.
Por isso, a incidência de nematoides na cultura do milho também ocasiona redução significativa da produtividade, e aumento dos custos de produção.
Contudo, esse fato pode ser modificado.
O controle químico de nematoides na cultura do milho pode resultar em um aumento de 39% na produtividade, em áreas infestadas por Pratylenchus zeae.
Como já foi citado anteriormente, realizar o manejo de nematoides em uma propriedade rural não é fácil, devido ao fato de que os nematoides possuem muitos hospedeiros naturais.
Danos e prejuízos causados pelos nematoides
No geral, os danos causados pelas espécies de nematoides das raízes são bem parecidos.
Tanto na soja quanto no milho, os sintomas se manifestam nas lavouras em reboleiras.
O ataque nas raízes prejudica a absorção de água e nutrientes pelas plantas, ocasionando em plantas amareladas, com crescimento reduzido e com baixa produção, dentre outros agravantes.
As espécies formadoras de galhas (Meloidogyne javanica e Meloidogyne incognita) apresentam sintomas de galhas nas raízes das plantas afetadas.
Os nematoides causadores das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus e Pratylenchus zeae) se alimentam das raízes, nas quais realizam intensa movimentação e liberam enzimas e toxinas. Provocando assim as lesões que são características.
Já os causadores de cistos (Heterodera glycines) parasitam somente a cultura da soja, causando a doença conhecida como “nanismo amarelo”.
Seus danos resultam em perdas significativas na produtividade, podendo até mesmo levar a planta à morte.
Os nematoides Rotylenchulus reniformis prejudicam a passagem de água das raízes para as folhas, deixando as plantas cloróticas e com porte reduzido.
Em setembro de 2015, o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) reconheceu uma nova doença das lavouras de soja, a Soja Louca II, que os pesquisadores acreditam ser causada por uma espécie de nematoide até então desconhecida na cultura da soja, o Aphelenchoides sp.
Esta espécie causa sintomas nas folhas, tornando-as enrugadas, afiladas no topo das plantas, com as nervuras engrossadas, com escurecimento na cor e menor pilosidade, em relação a plantas saudáveis.
Nas hastes são observados sintomas de deformação e engrossamento dos nós.
As vagens também ficam lesionadas, podendo ocorrer apodrecimento e redução do número de grãos, além do abortamento.
Esses danos causados pelos nematoides possuem a capacidade de reduzir a produtividade das culturas e podem causar altos prejuízos ao produtor.
De acordo com um trabalho realizado pela Embrapa sobre a cultura da soja, a espécie Pratylenchus brachyurus reduziu em média 12 sacas por hectare a produtividade do experimento, o que representava 21% da produtividade potencial.
Para o pesquisador Álvaro de Oliveira Santos, a infestação de nematoides na cultura do milho pode reduzir em até 35% da produtividade, enquanto que para soja, a redução pode atingir 40%.
Estratégias de manejo de nematoides
Antes de apresentarmos os métodos de manejo de nematoides, vale ressaltar que devido à capacidade de sobrevivência e adaptabilidade das principais espécies de nematoides nas áreas, realizar o manejo de nematoides requer muito tempo e a combinações de diferentes estratégias de controle.
Segundo o nematologista Jaime Maia:
“O produtor deve aprender a conviver com a praga e diminuir seus impactos”.
Ou seja, a erradicação dos nematoides na área é algo muito difícil de acontecer, entretanto, é possível que você realize a sua produção agrícola mesmo com a presença de nematoides na sua área, desde que você aprenda a diminuir seus impactos sobre as lavouras.
Sendo assim, primeiramente é fundamental que você tenha conhecimento sobre qual ou quais espécies de nematoide estão presentes na área e também qual a população dessas espécies.
Para isso, você deve coletar amostras de solos e raízes da sua área, e encaminhar para um laboratório de confiança.
A utilização de cultivares ou híbridos tolerantes é uma alternativa imprescindível em casos de infestação de nematoides.
Ao escolher a sua cultivar, você deve levar em consideração o Fator de Reprodução (FR) de nematoide.
O Fator de Reprodução indica se a cultivar ou híbrido em questão possui efeito mantenedor, redutor ou multiplicador de determinada espécie de nematoide.
Ele será informado pelo sementeiro, da seguinte forma:
- FR menor que 1: indica efeito redutor sobre a espécie;
- FR igual a 1: indica efeito mantedor sobre a espécie;
- FR maior que 1: indica efeito multiplicador sobre a espécie (na proporção do número encontrado).
Por exemplo: FR = 3,1 indica que a cultivar pode multiplicar 3,1 vezes a população de determinada espécie de nematoide na área.
O Tratamento de Sementes consiste na proteção das sementes e plântulas contra o ataque dos nematoides nas fases iniciais da cultura.
Esta é uma prática fundamental para você alcançar um manejo eficiente e pode ser realizada por meio de nematicidas (químicos) ou a partir da inoculação de estirpes de algumas bactérias, como a Bacillus subtilis.
Essa bactéria confere vários benefícios às plantas, pois além de possuir a capacidade de agir como forma de controle biológico de nematoides (e de outros patógenos), ela promove melhor germinação e crescimento de plântulas.
Os nematicidas e as estirpes das bactérias utilizados no tratamento de sementes também podem ser aplicados no sulco de semeadura.
Outra estratégia aliada ao manejo de nematoides é a rotação de culturas.
Além de ser uma prática muito utilizada nos sistemas de produção agrícola por proporcionar inúmeros benefícios ao produtor, ela tem papel fundamental na redução das populações de nematoides na área, desde que as culturas escolhidas para a rotação não sejam hospedeiras dos mesmos nematoides.
Atualmente existem no mercado muitas opções de culturas indicadas para realizar rotação com intuito de diminuir a população desses parasitas.
A utilização de Crotalaria spp. é uma das melhores alternativas, pois apresenta algumas espécies que possuem FR menor que 1 em relação a espécies de grande importância como a Heterodera glycines, a Meloydogine spp. e o Pratylenchus spp.
Além disso, a rotação de culturas está diretamente relacionada à construção de um bom perfil de solo, com teores elevados de matéria orgânica.
E isso é muito importante porque existe um consenso de que um solo bem estruturado, com altos teores de matéria orgânica e com grande atividade microbiológica, os problemas com nematoides são comprovadamente menores.
Muito pesquisadores, inclusive, acreditam que a infestação de nematoides pode ser considerada um problema apenas em solos em desequilíbrio.
A partir de agora você possui conhecimento para efetuar o manejo de nematoides na sua lavoura.
É muito importante que você utilize essas estratégias em conjunto, pois apenas uma estratégia sozinha não consegue obter resultado satisfatório.
Também vale ressaltar que você não deve realizar estratégias de manejo apenas na sua cultura principal e sim em todas as culturas, em todas as safras.
Produtos para controle químico de nematoides
Os nematicidas químicos desempenham um papel muito importante no manejo de nematoides, pois costumam ser muito eficientes na redução das populações.
Estes produtos podem ser utilizados como tratamento de sementes ou podem ser aplicados no sulco de semeadura.
Os grupos químicos dos nematicidas são os mesmos para inseticidas, sendo os carbamatos, avermectinas e organofosforados os mais utilizados como nematicidas.
Para manter a eficácia e longevidade dos produtos, é necessário que você realize a de forma correta o tratamento de sementes e/ou siga as boas práticas de aplicação para o tratamento no sulco.
O tratamento de sementes tem o objetivo de eliminar as populações de nematoides durante as primeiras semanas do cultivo, protegendo assim as plântulas e diminuindo a penetração desses indivíduos nos estádios iniciais da cultura agrícola.
Essa proteção nas fases iniciais da cultura é fundamental, pois a planta terá um bom desenvolvimento, com raízes mais vigorosas, atingindo melhor capacidade de resistir aos previsíveis ataques futuros.
Além disso, o tratamento de sementes é considerado de fácil aplicação, pois geralmente as sementes já chegam tratadas para o produtor, prontas para a semeadura.
É importante lembrar que o controle via tratamento de sementes possui um período de proteção relativamente curto, de aproximadamente 30 dias.
Esta prática nunca deve ser utilizada de forma isolada no manejo de nematoides, pois após os 30 dias, as populações de nematoides voltam a infestar as plantas da lavoura.
A aplicação no sulco de semeadura atribui maior tempo de controle.
Em um trabalho realizado na Universidade Federal de Santa Maria, o pesquisador avaliou diferentes profundidades de aplicação em dois produtos nematicidas, e obteve resultados de eficiência em até 80% no controle das espécies Meloidogyne javanica, Heterodera glycines e Pratylenchus brachyurus em soja, comprovando assim a eficiência da aplicação de nematicidas no sulco.
Porém, quando realizadas em conjunto, essas duas técnicas de controle químico (tratamento de sementes + aplicação no sulco de semadura) proporcionam maior efeito residual do produto aplicado, conferindo assim, uma proteção mais prolongada às plantas e ao solo.
Lembre-se: para realizar um manejo de nematoides eficaz, você deve, acima de tudo, combinar as estratégias de manejo ao longo de várias safras na área afetada.
Apesar da eficiência de alguns métodos de controle, se forem aplicados isoladamente, não irão proporcionar um resultado satisfatório. Tanto na eficiência quanto no período de controle.
Vale ressaltar que a disseminação dos nematoides é única e exclusiva responsabilidade do homem, já que estes parasitas não se movimentam em grandes distâncias no solo.
Portanto, você deve se atentar à limpeza fitossanitária dos equipamentos utilizados nas lavouras (implementos, tratores, carros, motos, etc.).
Uma vez presentes na sua propriedade rural, você terá de aprender a conviver com os nematoides, de modo a favorecer o ambiente de desenvolvimento das raízes, permitindo que a planta se mantenha forte, sem sofrer grandes danos ao ataque destes parasitas agrícolas.