A Inteligência em Agronegócio (ou Agrointeligência) é uma forma proativa de coletar, organizar e analisar dados, e convertê-los em informações essenciais para a tomada de decisões no Agronegócio.
Embora o conceito pareça simples (e é!), Inteligência em Agronegócio e Agrointeligência são termos que têm sido utilizados equivocadamente como sinônimo de utilização de tecnologias avançadas (e caras!), de big data ou até mesmo como um simples clipping de notícias.
Mas estas são apenas algumas ferramentas utilizadas em Inteligência em Agronegócio para subsidiar as decisões estratégicas, táticas e operacionais em empresas do Agronegócio.
Ou seja, a Agrointeligência é muito mais que isso!
Estamos passando atualmente por uma fase de transição no Agronegócio como um todo, com o achatamento das margens de lucro e a necessidade de ganhos em competitividade em todos os setores do Agronegócio, sejam eles antes, depois ou dentro da propriedade rural.
A adoção da internet das coisas (e das máquinas e implementos) e dos sistemas de informação, o surgimento de novas formas de negociação e de comercialização, e a utilização de ferramentas gerenciais tem alterado a rotina dos profissionais do Agronegócio.
E embora os setores da indústria e do comércio do Agronegócio já tenham despertado para a importância da Inteligência em Agronegócio e a adotado com relativo sucesso, as propriedades rurais, em sua grande maioria, ainda estão resistentes a esse processo de transição.
A importância da Agrointeligência para as propriedades rurais, entretanto, se torna mais fácil de ser percebida quando o produtor rural assume a visão de empresário rural, pensando na sua atividade como um negócio e em sua propriedade rural como uma empresa rural.
O consenso é que faltam profissionais qualificados para promover essa transição e para extrair todos os benefícios que estas novas tecnologias e estas novas ferramentas oferecem, principalmente nas propriedades rurais.
Se você quer ser esse profissional diferenciado, continue lendo este artigo e conheça as principais questões relacionadas à Inteligência em Agronegócio:
- Diferença entre dado, informação e conhecimento
- O conceito de Inteligência em Agronegócio
- O processo de tomada de decisão no Agronegócio
- Inteligência em Agronegócio na prática
1. Diferença entre dado, informação e conhecimento
Você provavelmente já deve ter ouvido por aí que uma das tendências para o Agronegócio nos próximos anos é o big data.
Big data é o nome dado para a enorme quantidade de dados produzidos e armazenados atualmente em qualquer setor do Agronegócio.
Na agricultura por exemplo, utiliza-se cada vez mais tecnologia embarcada em máquinas e equipamentos para gerar mapas de fertilidade do solo, de velocidade de operações, de plantas daninhas, de pragas, de doenças e de produtividade.
Na pecuária, conseguimos obter todo o histórico de produção, sanidade e até mesmo de custos de um animal por meio de um chip implantado em cada um.
Estamos na era da agricultura de precisão e da rastreabilidade animal.
O problema é essa quantidade absurda de dados poucas vezes se transforma em informação. Menos ainda em conhecimento.
É tal tecnologia embarcada que não desembarca nunca! De acordo com o físico alemão Andreas Weigend:
É preciso saber fazer as perguntas certas diante dessa montanha de informações.
Por isso, antes de discutirmos o conceito de Inteligência em Agronegócio você precisa entender primeiro a diferença entre dado, informação e conhecimento.
Dado é um registro solto, aleatório, sem qualquer análise. É a representação de elementos que a princípio não fazem sentido algum, e que não servem como base para conclusões. Dados são a matéria-prima da informação. Como exemplo de dados, temos 2,7 – 2,9 – 3,1 (por enquanto, isso não faz sentido algum!).
Informação é o significado que emerge da organização e interpretação do dado. A informação tem significado a partir do processamento dos dados. Informações são a matéria-prima do conhecimento. Continuando com o nosso exemplo anterior, temos que a média das perdas na colheita é de 2,9 sacos de soja por hectare (agora já faz sentido!).
Conhecimento é informação estruturada e contextualizada, também chamada de Inteligência. O conhecimento além de ter um significado tem também uma aplicação. O conhecimento é o verdadeiro elemento habilitador da decisão.
No nosso exemplo, temos que perdas de 2,9 sacos por hectare na colheita da soja estão acima do aceitável determinado pela Embrapa, que é de 1,0 saco de soja por hectare, e tomamos providências para a regulagem da colhedora e o treinamento do operador (além de sentido, agora tem uma aplicação também!).
O grande desafio das empresas do Agronegócio não é a falta de dados e sim conseguir transformá-los em conhecimentos que sirvam para o planejamento e controle das empresas.
2. O conceito de Inteligência em Agronegócio
A Inteligência em Agronegócio ou Agrointeligência é uma aplicação no Agronegócio dos conceitos de Inteligência de Mercado e de Inteligência Competitiva que consistem no levantamento e monitoramento de dados e informações sobre a sua empresa, clientes, mercado e concorrentes a fim de gerar análises que levem a uma melhor tomada de decisões.
Como os próprios nomes ajudam a esclarecer, a Inteligência de Mercado tem foco no mercado (clientes, setores e concorrentes) e a Inteligência Competitiva tem foco maior na competitividade da empresa. Em comum está o foco em encontrar caminhos para crescer e rentabilizar.
Desta forma, podemos dizer que:
A Inteligência em Agronegócio (ou Agrointeligência) é o resultado dos processos de coleta, organização, seleção e conversão dos dados em informações essenciais para a tomada de decisões em empresas de qualquer setor do Agronegócio.
O objetivo principal de um sistema de Inteligência em Agronegócio é o monitoramento do ambiente competitivo, buscando o aprendizado contínuo sobre ele e a obtenção das informações essenciais à tomada de decisões inequívocas.
Ao adotar a Inteligência em Agronegócio, os gestores começam a coletar e a filtrar dados da própria empresa rural, dos fornecedores, dos concorrentes, do mercado em que atua para antecipar problemas e ameaças, realizar os planejamentos estratégico, tático e operacional, encontrar novas oportunidades de negócios ou novos nichos de mercado, otimizar sua eficiência operacional e na gestão e maximizar os lucros obtidos nas atividades rurais desenvolvidas pela empresa.
Apesar de ser fundamental para o sucesso de qualquer empresa que atua no setor agropecuário, é preciso ressaltar que os resultados da Inteligência em Agronegócio só acontecem quando todo esse conhecimento gerado é efetivamente colocado em prática, por meio do cumprimento das decisões tomadas.
Por esse motivo, para implantar um sistema de Inteligência em Agronegócio não basta apenas garantir o acesso às ferramentas de Inteligência.
Para que os benefícios da Agrointeligência ocorram é preciso desenvolver a cultura sobre Inteligência em Agronegócios entre empresários rurais e profissionais do Agronegócio que o cercam, fazendo-os identificar as vantagens de utilizar os subsídios obtidos em suas decisões estratégicas ou cotidianas.
3. O processo de tomada de decisão no Agronegócio
Todas as empresas que atuam no Agronegócio tomam diferentes tipos de decisões, todos os dias.
“Se você não tomar uma decisão, na verdade já tomou uma, e ela está errada”
O que você precisa saber é que existem diferentes tipos de decisões que são tomadas em uma empresa rural, e cada uma possui características próprias:
As decisões programadas ocorrem no dia-a-dia da empresa rural, ou seja, fazem parte da rotina da empresa. Recomenda-se o estabelecimento de protocolos próprios para este tipo de decisão, que possa ser executado por qualquer colaborador da empresa rural.
As decisões não-programadas são aquelas que surgem a partir de um imprevisto, de uma reviravolta no mercado ou de um incidente na empresa rural. Estas decisões não seguem um padrão, mas não são menos importantes para o sucesso da atividade rural.
Além disso, as decisões programadas e não-programadas também podem ser classificadas em:
Decisões estratégicas – relacionadas com o objetivo da empresa rural e com o planejamento da empresa no longo prazo, como por exemplo, aquisições de novas áreas ou a implantação de novas atividades agropecuárias
Decisões táticas – relacionadas com o planejamento focado no médio prazo. Estão relacionadas com o detalhamento das decisões estratégicas. Como exemplo de decisões táticas está a distribuição de atividades e responsabilidades a todas as unidades ou setores da empresa para se implementar as decisões estratégicas.
Decisões operacionais – relacionadas ao “o que fazer” e em “como fazer” as atividades e tarefas rotineiras da organização. As decisões operacionais possuem impacto no curto prazo e envolvem cada uma das atividades realizadas pelos colaboradores no seu dia-a-dia.
Todos estes tipos de decisões foram resolvidos por muito tempo de acordo com a sua opinião, a sua intuição ou até mesmo seguindo o que feito por outras pessoas.
Este tempo acabou.
Profissionais de excelência do Agronegócio tomam decisões de qualquer ordem com base em informações e conhecimentos que subsidiem suas escolhas.
Infelizmente, não existe uma “receita pronta” para a coleta de dados que irá funcionar em qualquer empresa do Agronegócio, pois cada empresa possui características únicas e culturas organizacionais complexas e diferentes.
Cada situação também demandará uma estratégia diferente para a tomada de decisão.
A implantação de uma nova cultura agrícola, por exemplo, exige um estudo de viabilidade econômica, em que serão levantados dados sobre o mercado, os consumidores, os canais de comercialização, o custo de implantação, a estrutura necessária, a mão-de-obra disponível, os recursos financeiros, entre vários outros dados importantes.
Por outro lado, se você gostaria de construir apenas um novo armazém, precisa coletar dados sobre investimento, fornecedores, financiamentos e quantificar o retorno que este novo armazém deve trazer.
4. Inteligência em Agronegócio na prática
Existem diversas ferramentas que auxiliam no processo de coleta de dados e informações.
A maioria das informações, entretanto, encontra-se dentro das próprias empresas rurais, das indústrias e das revendas.
É uma questão de estruturar um sistema de coleta de dados e de aproveitamento das informações fornecidas pelos colaboradores.
De maneira geral, o Ciclo da Inteligência em Agronegócio é composto pelas seguintes etapas:
– Planejamento e identificação das necessidades dos tomadores de decisão;
– Coleta de informações;
– Processamento e armazenamento da informação;
– Análise, validação da informação e formação de cenários/hipóteses;
– Disseminação e utilização do conhecimento e
– Checagem da aplicação do conhecimento gerado e avaliação do processo.
Nas etapas de planejamento e identificação das necessidades dos tomadores de decisão devem ser realizadas perguntas como: o que precisamos saber? O que já sabemos? O que faremos com a Inteligência gerada? Qual será o custo para se obter essa Inteligência? Qual é o custo de não a obter?
As respostas destas perguntas irão orientar a coleta de dados, que por ser realizada por meio de questionários e/ou planilhas (impressos ou eletrônicos), relatórios, entrevistas, extração de sistemas de informações, ou de consultorias externas.
Em seguida, os dados coletados são analisados e transformados em informação, que formatada de maneira coerente, é entregue aos tomadores de decisão da empresa ligada ao Agronegócio.
E como esse processo é realizado no formato de ciclo, o desenvolvimento de cada etapa deve ser avaliado constantemente para a identificação de pontos de melhoria e se o conhecimento gerado foi realmente aplicado de forma satisfatória.
A aplicação dos conceitos de Inteligência de Mercado e de Inteligência Competitiva no Agronegócio tem como principais resultados a diminuição dos erros, o aumento da eficiência, a proteção das informações, o monitoramento de mudanças, a identificação de oportunidades e a organização de processos.
Para finalizar, em relação às propriedades rurais, têm-se visto por aí um grande acúmulo de dados sobre fertilidade do solo, operações, manejo fitossanitário e de produtividade, gerados por tecnologias cada vez mais avançadas, mas poucas decisões têm sido tomadas com base nestes dados…
Por isso é preciso ressaltar que a coleta de dados é uma das ferramentas da Inteligência em Agronegócio, e não a sua finalidade, que é a tomada de decisões.
Sem estar aliada a tomada de decisão e sem produzir mudanças significativas, a coleta de dados não faz sentido e com toda certeza não compensa o investimento.
Precisa-se urgentemente de profissionais do Agronegócio capazes de filtrar esses dados e que os transforme em informações que sustentem decisões no manejo das culturas e/ou na gestão do negócio rural.
Isso é Inteligência em Agronegócio.