As plantas, assim como nós, necessitam assimilar nutrientes e água para seu desenvolvimento e crescimento.
Alguns desses nutrientes são considerados essenciais às plantas, pois, na sua ausência, seria impossível que ela completasse seu ciclo.
Esses nutrientes são chamados de macro e micronutrientes de acordo com a quantidade em que são demandados.
Os macronutrientes compreendem o N, P, K, Ca, Mg e S, enquanto os micronutrientes abrangem o Fe, Mn, Mo, Zn, Bo, Cu e Cl.
Além disso, alguns elementos como o Co e o Si são considerados benéficos às plantas por serem capazes de favorecer seu crescimento e desenvolvimento.
Todos os elementos considerados macronutrientes podem ocorrer naturalmente nos solos brasileiros, entretanto, seus teores, usualmente, são menores do que àqueles que desejamos para extrair o potencial genético de produtividade das principais culturas.
Sendo assim, é necessário que aportemos esses nutrientes ao solo via adubação.
Como os micronutrientes são exigidos em baixas quantidades pelas plantas, geralmente não é necessário sua aplicação via adubação.
Considerando características como a mobilidade e as principais formas de absorção pelas plantas desses nutrientes, existem diversas estratégias de adubação com o intuito de minimizar as perdas de fertilizantes e a maximização da absorção pelas plantas.
Essas estratégias podem incluir a escolha de diferentes fórmulas de adubação de base e parcelamento da aplicação de adubos nitrogenados.
As práticas da amostragem e calagem do solo são essenciais para o sucesso da adubação.
A respostas das principais culturas agrícolas à adubação já foi pesquisada e documentada em manuais de adubação e calagem para a maioria dos estados e regiões do país.
Dessa forma, é possível indicarmos as doses dos nutrientes que precisamos aportar ao solo de acordo com a produtividade esperada e a concentração prévia do nutriente, garantindo sua fertilidade.
Porém, ainda é possível adaptar essas estratégias para a realidade e demanda de cada local, desenvolvendo soluções específicas conforme cada caso.
Se você tem interesse em desenvolver seus conhecimentos sobre as principais estratégias de adubação existentes, continue lendo este texto!
Princípios básicos da adubação
A adubação das culturas deve seguir alguns preceitos básicos e imprescindíveis para o sucesso do empreendimento agrícola.
Um deles é a lei do mínimo, a qual nos diz que a produtividade da cultura, vislumbrando a nutrição mineral, será restringida pelo elemento mais limitante.
Em outras palavras, precisamos entender que a produtividade e o lucro são o produto final da integração de diversos fatores de produção, dentre eles a nutrição mineral.
Sendo assim, mesmo realizando o manejo perfeito de calagem e adubação numa lavoura de soja, ao esquecermos de monitorar os teores de micronutrientes e ocorrer deficiência severa de algum deles, esse será o fator limitante e a aplicação de NPK não trará resultado algum.
Portanto, é necessário entendermos que a adubação de plantas deve abranger todos os nutrientes essenciais e possuirmos visão integrada do manejo da lavoura.
Outro pilar da adubação de plantas é a lei dos acrescimentos decrescentes.
Essa lei indica que aumentos progressivos da dose de um nutriente proporcionam incrementos menores na produtividade.
Simplificando, quando a concentração de um nutriente como o P é baixa, a adubação fosfatada ocasionará um incremento maior na produtividade do que quando a concentração já for considerada média.
Esses incrementos, conforme o aumento da dose, atingirão um ponto máximo. Geralmente, a dose escolhida por gerar maior retorno econômico equivale a 90% da dose máxima, porém isso pode variar conforme o mercado.
A produtividade aumenta em função de maiores doses até um limite máximo onde a partir do qual o aumento da concentração do nutriente pode ser tóxico a planta.
Ou seja, a produtividades das plantas tende a apresentar resposta quadrática ao incremento das doses de nutrientes via adubação,
Doses acimas do ponto máximo podem gerar toxidade ou ter efeito deletério nas plantas.
Considerando esses princípios básicos da adubação e o manejo específico para cada cultura, é possível optarmos pelas melhores estratégias de adubação.
O cálcio e o magnésio, por exemplo, podem ser supridos pelo calcário, e o enxofre pela matéria orgânica. Por isso, suas concentrações usualmente estão adequadas e não é necessário planejar a adubação em função deles.
Como os micronutrientes, embora exijam monitoramento, são exigidos em pequenas quantidades e normalmente apresentam naturalmente teores adequados no solo, nossa preocupação envolve a adubação com N, P e K.
Estratégias de adubação nitrogenada
O N encontra-se, predominantemente, em compostos orgânicos na planta, sendo constituinte da clorofila, de todos os aminoácidos e dos ácidos nucleicos.
Logo, quando há deficiência desse nutriente, os sintomas apresentados são a coloração amarelada das folhas e o pouco desenvolvimento das plantas.
Por outro lado, quando fornecido em excesso pela adubação, o N provoca o crescimento excessivo das plantas, tornando-as suscetíveis ao acamamento.
Sendo assim, a adubação com fontes de N, geralmente a ureia, é essencial para a produtividade da nossa lavoura.
A estratégia de aplicação do N inclui o parcelamento da sua aplicação no momento da semeadura e em outras doses em coberturas em determinadas fases de cada cultura.
Isso ocorre porque o N está sujeito à diversas perdas no sistema solo, principalmente, via os processos de volatilização e lixiviação.
O N é considerado móvel no solo e na planta, sendo absorvido nas formas de NO3– e NH4+.
Por isso, sua deficiência é notada, primeiramente, nas folhas basais e pode ser aplicado a lanço quando em cobertura.
Ao contrário dos demais nutrientes, o N não é obtido a partir da moagem e processamento de rochas.
O N do ar é fixado industrialmente para a produção de fontes nitrogenadas, sendo que as principais são a ureia, o sulfato de amônio, o nitrato de amônio, o fosfato diamônico e o fosfato monoamônico.
As plantas leguminosas como a soja são capazes de obter N em função de sua associação simbiótica com bactérias capazes de fixar o N atmosférico.
Deste modo, a aplicação do N via adubação é dispensada. Entretanto, ainda é necessário a realização da inoculação das sementes com a bactéria.
Considerando os aspectos individuais de cada cultura com importância agrícola, cada estado ou região desenvolveu seu próprio manual onde devemos verificar as doses de N e o momento de aplicação.
Atualmente, pesquisas vem destacando o potencial de fertilizantes com eficiência aumentada e liberação controlada em diminuir as perdas de N e melhorar o seu aproveitamento pelas plantas.
Estratégias de adubação fosfatada
O P se apresenta em concentrações menores do que N e K nas plantas e é constituinte de ácidos nucleicos, fosfatos de inusitol, fosfolipídios, di e trifosfato de adenosina e fosfato de nicotina adenina dinucleotídeo.
Deste modo, tem função na divisão celular, reprodução e no metabolismo energético das plantas.
Os sintomas da sua deficiência são plantas pouco desenvolvidas, má fecundação, falha na granação e folhas arroxeadas ou verde-escuras, dentre outros.
A adubação fosfatada é realizada no momento da semeadura de acordo com a dose indicada para a cultura.
As plantas absorvem P nas formas HPO4– e H2PO4-2. Esse nutriente é pouco móvel no solo e móvel dentro da planta, por isso, seus sintomas de deficiência são observados, primeiramente, nas folhas mais velhas.
O P é pouco móvel no solo em função de sua alta afinidade pelos óxidos de Fe e Al, possuindo tendência de fazer ligações covalentes, as quais são de difícil reversão.
Por isso, a adubação fosfatada preferencialmente é realizada de forma localizada na linha de semeadura e é dependente do teor de argila do solo.
A principal fonte de P mineral para adubação é a apatita. A partir desse mineral do grupo dos fosfatos são desenvolvidos fertilizantes pouco solúveis, parcialmente solúveis e solúveis para uso agrícola.
No contexto agrícola de produção de commodities, os fosfatos solúveis representam as principais fontes de P, pois são capazes de liberar o nutriente rapidamente.
Os fosfatos solúveis são obtidos da reação da apatita com algum ácido.
O superfosfato simples, superfosfato triplo, monoamônio fosfato e diamônio fosfato são os principais fosfatos solúveis.
Entretanto, como precisamos fornecer N, P e K na semeadura, comumente realizamos a adubação com fórmulas que contemplem esses nutrientes em diferentes proporções de acordo com nossa necessidade.
Estratégias de adubação potássica
O K é o principal constituinte mineral das plantas e possui funções de sinalização na abertura e fechamento de estômatos, auxilia na regulagem das relações osmóticas e atua na síntese de carboidratos e na síntese e estabilidade de proteínas.
Os sintomas de deficiência de K são observados nas folhas mais velhas. Esses sintomas são identificados pela formação de clorose em direção da borda ao centro das folhas.
Os feldspatos e as micas são os principais minerais fontes de K no solo.
Esse cátion é absorvido na sua forma iônica K+ pelas plantas e, geralmente, é aplicado na adubação de base juntamente com o N e o P.
A movimentação do K+ no solo ocorre, principalmente, mediante difusão, sendo dependente do teor de umidade, da textura e de outras propriedades.
Entretanto, alguns estudos indicam que ele pode gerar aumentos de produtividade quando aplicado em cobertura em situações específicas com o intuito de complementar a necessidade da cultura.
O K+ é retido nos coloides do solo por adsorção mediante ligações eletrostáticas relativamente fracas. Deste modo, suas perdas ocorrem, principalmente, por lixiviação.
A capacidade de troca de cátions (CTC) do solo regula seu equilíbrio e é considerada no momento de optar pela necessidade de adubação.
Os adubos potássicos utilizados na agricultura são o cloreto de potássio (KCl), o sulfato de potássio, o nitrato de potássio e o sulfato de potássio e magnésio, sendo o KCl o mais amplamente usado.
O K também costuma ser fornecido na adubação de base via a aplicação de fertilizantes formulados com diferentes proporções de N, P e K.
Adubação para elevar o lucro da lavoura
Como vimos, a adubação consiste em aportar ao solo os nutrientes necessários para as plantas atingirem o rendimento esperado.
Para isso, verificamos as concentrações dos nutrientes no solo por meio de análise de solo e, conforme os manuais de adubação utilizados em cada estado, optados pela dose de adubação para alcançar o rendimento que desejamos.
Essa dose também deve considerar o custo do fertilizante e o valor de mercado da cultura, deste modo, você pode determinar se é compensável investir 33 kg de ureia para produzir 1000 kg a mais de grãos de milho por hectare, exemplificando.
Estudos recentes comprovam a eficiência de adubação de manutenção com P e K aumentar a produtividade da soja em aproximadamente 500 kg ha-1.
No cerrado do Piauí, a aplicação de até 200 kg de N em cobertura ocasionou aumento nos componentes de produção do milho.
Sistemas de manejo como o de Plantio Direto também têm colaborado para o melhor aproveitamento dos nutrientes.
Pois, com o aumento dos teores de matéria orgânica em superfície, além de se aumentar CTC responsável por reter os nutrientes, os próprios resíduos podem disponibilizar nutrientes em quantidades relevantes para a cultura.
Além disso, estratégias de uso de grânulos de fertilizante recobertos por polímeros, ou associados a outros materiais, também têm sido estudadas com o intuito de desacelerar a liberação dos nutrientes e reduzir suas perdas.
Deste modo, fica evidente que o nosso papel é adaptar as recomendações de adubação que existem para a nossa realidade de solos, culturas e expectativa de rendimento, considerando os custos da adubação e a valorização de mercado do produto.
Também é importante salientar que a adubação é apenas uma prática dentro do nosso sistema de produção e é fundamental não esquecermos de nenhum dos fatores de produção da lavoura.