Para fins práticos, podemos considerar que uma lavoura pode ter solo arenoso, solo com textura média ou solo argiloso, e saber essa característica é essencial para o planejamento de diversas práticas agrícolas.
A identificação de solo argiloso pode ocorrer no perfil inteiro como ocorre em alguns Latossolos e Nitossolos ou em camadas específicas como é o caso dos Argissolos, por isso, também é uma característica utilizada para classificação de solos.
O manejo de um solo argiloso é diferente daquele que deve ser empregado em solos agrupados em outras classes texturais, pois o teor de argila confere uma série de características físicas e químicas especificas.
Essas características do solo argiloso são ditas permanentes, pois a textura do solo dificilmente é influenciada pelo manejo empregado por nós.
Ou seja, podemos diminuir ou aumentar a dose de calcário em função da capacidade de troca de cátions (CTC) de um solo argiloso, mas não podemos torná-lo siltoso, excetuando-se casos em que altas doses de outros materiais sólidos são aportadas à superfície.
Um solo argiloso tem maior CTC, fator que influencia as práticas de calagem e adubação diretamente.
Os nutrientes como o P tendem a ficar retidos na fase sólida em maior quantidade no solo argiloso.
Além disso, a dinâmica da água também é impactada. Solo argiloso tem a capacidade de reter e armazenar mais água. Nesse caso, nosso papel é tornar o máximo dessa água disponível para o aproveitamento das raízes de plantas.
Ao reter mais água, os solos argilosos permanecem úmidos por mais tempo, fator que é positivo se considerarmos o aproveitamento da água e negativo quando o interesse é executar operações com máquinas sem que ocorra compactação após eventos de precipitação.
Todos os tópicos abordados até aqui serão amplamente discutidos ao longo do texto, deste modo, caso você tenha interesse em saber tudo sobre solo argiloso continue a leitura.
O que é um solo argiloso
Para entendermos o que é um solo argiloso, primeiro precisamos compreender o que é a textura.
A textura é o agrupamento das partículas de solo em diferentes classes de acordo com o seu tamanho.
Para isso, separa-se uma porção de solo conhecida como terra fina seca ao ar (diâmetro < 2mm) e a divide em areia (diâmetro de 2 a 0,05 mm), silte (diâmetro de 0,05 a 0,002) e argila (diâmetro < 0,002 mm) através da análise granulométrica.
A análise granulométrica do solo pode ser feita através da coleta de amostras e envio à laboratórios que prestem o serviço de análises físicas.
Além disso, podemos identificar um solo argiloso no campo através do tato.
Esse método é baseado nas diferentes sensações que temos ao tocar o solo. Ao homogeneizar e umedecer uma amostra de solo argiloso devemos sentir a pegajosidade e a plasticidade conferidas pela argila.
Para maiores detalhes sobre esse método é possível procurar por manual disponibilizado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo.
O solo argiloso deve apresentar teores de argila entre 35 e 60%. Acima disso, consideramos como muito argiloso e abaixo pode ser siltoso ou argiloso.
Solos como Argissolos e Planossolos apresentam camada de solo argiloso apenas em subsuperfície, o que é, inclusive, um requisito para enquadrá-los nessas classes.
Por outro lado, Nitossolos e Latossolos são solos profundos e não apresentam camada de solo com gradiente de textura ao longo do perfil do solo, podendo se enquadrar como argilosos ou arenosos.
Esses fatores expressam a importância de conhecer a existência e/ou localização de camada de solo argiloso. Além de servir para identificação e classificação de solos, é útil para determinar sua aptidão agrícola.
Enquanto o Latossolo pode ser solo argiloso e profundo, não restringindo as culturas que pretendemos cultivar, os Planossolos são mal drenados, não sendo indicados para plantas adaptadas ao excesso hídrico.
Os diferentes tipos de solos argilosos
Ao discutirmos o manejo de solo argiloso, é importante ressaltar que existem diferentes tipos de argila.
As argilas podem ser do tipo 1:1 e 2:1, as quais apresentam uma série de propriedades completamente distintas, influenciando a aptidão agrícola e o manejo adotado em solo argiloso.
As argilas 1:1 são as mais comuns, sendo encontradas em solo argiloso mais intemperizado como Latossolo e Nitossolo. Os principais argilominerais 1:1 são a Caulinita, Gibbsita, Goethita e a Hematita.
Essas argilas são chamadas assim porque são compostas por argilominerais organizados estruturalmente em uma camada de tetraedros de Silício seguida de uma camada de octaedros de Alumínio.
As argilas 2:1 são menos comuns no Brasil, ocorrendo apenas em algumas regiões com condições específicas de clima e material de origem do solo, como é o caso da região da Campanha do Rio Grande do Sul.
Nessa região, ocorrem solos como Chernossolos e Vertissolos, os quais apresentam argilominerais 2:1. Alguns dos principais minerais desse tipo de argila são a esmectita e a vermiculita.
Os argilominerais 2:1 são denominados assim em função de possuírem estrutura formada por uma camada de octaedros de Alumínio entre duas camadas de tetraedros de Silício.
Esse arranjo estrutural permite a entrada de água e nutrientes nas entrecamadas, aumentando a área superficial específica e a CTC do solo argiloso.
Por isso, os solos com presença de argilominerais 2:1 são reconhecidos por possuírem alta saturação por bases e ótima fertilidade natural.
Por outro lado, são muitos plásticos e pegajosos quando úmidos e extremamente duros quando secos, dificultando as operações de preparo.
Assim, apesar de um Vertissolo ser naturalmente fértil, ele é difícil de manejar em função de oferecer uma curta janela de tempo para entrada de máquinas e preparo do solo conforme a umidade.
Impactos do solo argiloso na fertilidade
Como a maioria dos solos brasileiros apresentam argilominerais 1:1, vamos nos referir a esse tipo de solo argiloso durante o texto.
Um solo argiloso possui maior CTC e, por isso, tem maior poder tempão, resultando em necessidade de maiores quantidades de calcário para neutralizar a acidez.
O poder tampão do solo se refere a resistência do solo às mudanças no pH, ou seja, quanto maior o poder tampão mais difícil é aumentar o pH.
Isso ocorre porque as reações químicas ocorrem na solução do solo, a qual encontra-se em equilíbrio com a fase sólida.
Sendo assim ao neutralizar a acidez na solução do solo, os íons H+ e Al+3 adsorvidos nos coloides são deslocados para a solução até que o equilíbrio seja reestabelecido.
Lembrando que o Al+3, em pHs próximos da neutralidade, encontra-se em formas não solúveis e não tóxicas às plantas.
Quanto maior a CTC do solo, mais íons ácidos podem ser deslocados, ou seja, maior o poder tampão. O teor de matéria orgânica também contribui para o aumento da CTC e do poder tampão.
Considerando a adubação, o solo argiloso, dentro de certos limites de argila, é favorável ao aproveitamento dos fertilizantes devido ao aumento da CTC.
Isso ocorre porque a maioria dos nutrientes são “armazenados” na fase sólida do solo por apresentarem carga positiva, como é o caso do K+, NH4+ Ca+2 e Mg+2.
Exceção disso é o P, que é absorvido pelas plantas nas formas aniônicas H2PO4– e HPO42- as quais apresentam alta afinidade por óxidos de ferro, tendendo a fazer ligações covalentes, tornando-o o ânion insolúvel e não disponível para absorção das raízes.
Por isso, solo argiloso necessita de maiores doses de adubos fosfatados quando comparado a um solo arenoso.
A dose de K é influencia pela CTC do solo, por isso, como solo argiloso possui maior CTC, em geral, a necessidade do nutriente será maior. É válido ressaltar que a CTC também é dependente do teor de matéria orgânica e do tipo de argila.
Impactos do solo argiloso em atributos físicos
O fato de o solo ser argiloso implica em várias características físicas de grande relevância agronômica.
Como a argila corresponde a menor classe de tamanho de partículas do solo, um solo argiloso tem maior porosidade total e microporosidade e menor fluxo de água e calor em função do arranjo dessas partículas de pequeno tamanho.
Isso faz com que solo argiloso seja capaz de reter e armazenar mais água do que solo com textura mais grosseira, pois esses são processos que ocorrem nos microporos.
Porém, não podemos dizer que toda a água que está armazenada encontra-se disponível às plantas. Parte considerável da água armazenada pode estar adsorvida sob altas tensões na porosidade intra-agregados.
Por isso, é importante favorecer a agregação do solo e impedir sua desestruturação. Quanto mais estruturado, mais água estará disponível às plantas por estar retida sob tensões baixas em poros capilares.
A macroporosidade e a infiltração de água tendem a ser menores em solo argiloso, fatores que devem ser contornados por práticas de drenagem e cultivo do solo.
O solo argiloso possui tendência de ser mais agregado e estável. Isso ocorre porque quanto mais argila, maior a proximidade entre as partículas e maior a proteção do carbono orgânico presente no solo, favorecendo os processos de formação e estabilização de agregados.
Isso evidencia o motivo de ser relativamente difícil incrementar os teores de matéria orgânica em solos arenosos, os quais a oferecem pouca proteção física, aumentando as perdas via oxidação.
Além disso, é na fração argila, em conjunto com a matéria orgânica, que se tem quase que a maioria das cargas do solo, responsáveis pelos fenômenos químicos de atração e repulsão com os cátions do solo.
Manejo do solo argiloso para atingir altas produtividades
Depois de entender melhor o que é um solo argiloso e o que isso significa no contexto da fertilidade e da física, precisamos considerar os possíveis impactos no manejo, produtividade e lucro da lavoura.
A fração argila confere características importantes como a CTC e a retenção/disponibilização de água.
Embora a necessidade de calcário e de adubo sejam maiores em solo argiloso, o esgotamento nutricional é mais demorado do que em um solo arenoso, o qual exigiria maior frequência de aporte de nutrientes.
Do ponto de vista físico, nossa preocupação ocorre quando o teor elevado de argila possa ocasionar excedente hídrico.
Isso pode ocorrer com frequência em solos localizados em áreas favoráveis ao acúmulo de água, como acontece nos Planossolos e Argissolos mal drenados, os quais possuem camada de solo argiloso em subsuperfície.
Nesse caso, devemos investir em drenagem, o que pode ser oneroso, ou optar por cultivares resistentes.
Outro caso específico já citado no texto, é o que ocorre em solos com argilas 2:1, os quais são muito difíceis de manejar mecanicamente.
Esquecendo esses casos, a argila contribui para a fertilidade e para os atributos físicos do solo.
Considerando os ajustes de correção de acidez, adubação e prevenindo a ocorrência de compactação do solo, o solo argiloso possibilitam que possamos alcançar altas produtividades sem maiores custos.
Um dos principais cuidados que devemos tomar, é a umidade para a entrada de máquinas na lavoura, pois esses solos são bastante suscetíveis à compactação.
Nesse sentido, a água atua como um agente lubrificante entre as partículas do solo, potencializando a compactação.
Estudos indicam que solo argiloso possibilita o alcance de altas produtividades de culturas como trigo, soja e milho sob diferentes tipos de manejo, considerando a região e o clima onde a pesquisa foi desenvolvida.
Isso demonstra que o manejo de solo argiloso é simples, necessitando observar apenas algumas peculiaridades sem maiores impactos nos custos da lavoura.