As pragas agrícolas são responsáveis por perdas monetárias incalculáveis ao Agronegócio brasileiro.

Neste sentido, é necessário a adoção de tecnologias que permitam que os insetos-pragas sejam mantidos em níveis populacionais baixos.

Convencionalmente, o manejo de insetos-pragas é realizado com a ajuda de inseticidas que, apesar de eficazes, na maioria das vezes causam riscos ao ambiente e à saúde humana.

Entretanto, são cada vez mais comuns os casos de insetos resistentes aos inseticidas ou às biotecnologias, devido ao seu uso indiscriminado na agricultura.

É neste cenário, que o controle biológico ganha cada vez mais força entre os agricultores.

O controle biológico de pragas pode ser definido como a atividade dos inimigos naturais na redução de uma população de insetos, em que objetivo é manter os insetos-praga em um nível populacional que não seja capaz de causar danos econômicos à lavoura.

Os inimigos naturais são organismos que atuam como agentes de controle biológico de insetos, de modo geral, eles podem ser chamados de:

  • Parasitoides
  • Predadores
  • Patógenos

Os parasitoides e os predadores são classificados como entomófagos, ou seja, representam os animais que se alimentam de insetos.

Enquanto o grupo dos patógenos são classificados com entomopatógenos, ou seja, são  fungos, vírus e bactérias, que podem ser utilizados no controle de pragas.

O controle biológico aplicado a agricultura apresenta algumas vantagens frente ao controle químico, dentre as quais pode-se citar:

  • Menor exposição do agricultor a produtos químicos (inseticidas)
  • Redução do nível de resíduos de agrotóxicos nos alimentos
  • Redução do risco de contaminação humana e ambiental
  • Ausência do período de carência entre a aplicação das técnicas de controle biológico e a comercialização dos produtos agrícolas
  • Tecnologia que pode ser adotada na agricultura orgânica

Atualmente, os agentes de controle biológicos mais utilizados na agricultura são fungos, insetos e vírus.

Por esse motivo, estes são os agentes que daremos enfoque neste artigo.

Fungos como agentes de controle biológico

Os fungos entomopatogênicos são encontrados naturalmente nos agroecossistemas agrícolas. Sendo assim, em áreas bem manejadas o controle biológico de insetos através de fungos ocorre naturalmente.

O controle biológico utilizando fungos envolve principalmente os fungos que produzem esporos, pois eles são facilmente disseminados e transportados pelo ar.

Além disso, não é necessário à sua ingestão, apenas que os esporos tenham acesso ao tegumento dos insetos.

O mecanismo de ação dos fungos entomopatogênicos funciona da seguinte forma:

  1. O esporo fúngico é transportado pelo vento e adere a cutícula do inseto
  2. Em contato com o inseto, o esporo germina e penetra através da cutícula
  3. Já dentro do organismo do inseto, os fungos se alimentam das suas reservas nutricionais, emitem hifas e colonizam completamente o corpo do inseto
  4. Sendo assim, ocorre a morte do inseto colonizado
  5. Para finalizar, os fungos se multiplicam através da produção de mais esporos, que irão ser transportados pelo ar e colonizar outros insetos

Os fungos tem eficiência comprovada no controle biológico de insetos-pragas e são bastante usados no Brasil, em diversas culturas agrícolas.

Atualmente, diversas empresas atuam na produção de fungos para controle biológico, as espécies mais comercializadas são:

  • Beauveria bassiana.
  • Isaria fumosorosea
  • Metarhizium anisopliae.

No Brasil, as cigarrinhas-das-pastagens causam danos em diversas culturas agrícolas, principalmente em pastagens e na cana-de-açúcar.

Controle biológico de cigarrinha-das-pastagens

Cigarrinha-das-pastagens: Deois flavopicta, à esquerda e Sonesimia grossa, à direta.

Até o momento, as pesquisas tem demonstrado que o controle biológico utilizando o fungo M. anisopliae reduz, aproximadamente, de 70 a 90% da população de cigarrinhas-das-pastagens em lavouras ou pastos comerciais.

Além disso, esse fungo tem eficiência comprovada no controle biológico da broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis).

O controle biológico proporcionado por fungos entomopatogênicos atua suprimindo, de forma natural, a população de diversos insetos-pragas.

Além disso, contribui para a redução do número de aplicações de inseticida e, consequente, reduzem a chance de ocorrência de insetos resistentes aos princípios ativos.

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Insetos como agentes de controle biológico

O controle biológico de pragas agrícolas também pode ser realizado utilizando-se insetos.

Na prática, um inseto benéfico ou inimigo natural se alimenta ou se beneficia de algum inseto-praga.

Sendo assim, este inimigo natural mata o inseto-praga e assim ocorre o controle biológico.

Desta forma, os insetos benéficos ou inimigos naturais podem ser divididos em duas categorias (parasitoides e predadores), que se diferenciam pelo seu tipo de alimentação e estilo de vida.

 

Predadores

O controle biológico através de insetos predadores requer uma quantidade suficiente de insetos-pragas para que seja eficaz, já que os insetos predadores necessitam se alimentar de mais de um indivíduo, para completar o seu ciclo de vida.

Além disso, o seu comportamento como predador pode ocorrer tanto na fase de ninfa ou larval, como na fase adulta. Um bom exemplo de controle biológico que ocorre tanto na fase larval como na fase adulta são as joaninhas.

Controle biológico - joaninhas

Joaninhas alimentando-se de pulgões em dois estágios de vida: ninfa de joaninha (Eriopis connexa), à esquerda e, joaninha adulta (Hippodamia convergens), à direita.

Alguns pesquisadores afirmam que, na fase adulta, uma joaninha pode se alimentar de até 50 pulgões/por dia. Estes insetos são predadores vorazes e muito eficazes no controle biológico de afídeos, como os pulgões.

 

Parasitoides

Os insetos parasitoides atuam completando o seu ciclo de vida em uma única praga agrícola, diferentemente dos predadores, que necessitam de vários insetos para completar o seu ciclo de vida.

De modo geral, os parasitoides fazem o controle biológico dos insetos-pragas em apenas uma fase de vida.

Sendo assim, na maioria dos casos, a fase larval atua como parasita, enquanto que os insetos adultos, alimentam-se a partir de néctar e outras substâncias.

No Brasil, os parasitoides mais utilizados no controle biológico de pragas agrícolas são:

  • Trichogramma pretiosum e Trichogramma galloi
  • Cotesia flavipes
  • Telenomus podisi
  • Trissolcus basalis
Controle biológico - vespas

Vespas adultas de Trichogramma spp. à esquerda, e vespa de Cotesia flavipes, à direita.

Atualmente, algumas empresas especializadas em controle biológico têm concertado os seus esforços na produção em massa de parasitoides, com o foco nas aplicações em programas de controle integrado de insetos-pragas.

Vírus como agentes de controle biológico

Os vírus entomopatogênicos são agentes de controle biológico altamente específicos, e por isso a sua utilização garante grande segurança ao meio ambiente.

O tipo de vírus mais utilizado e mais estudado no mundo para o controle biológico de pragas pertencem a Família Baculoviridae, ou simplesmente, baculovírus.

Entretanto, as famílias Poxviridae e Reoviridae também tem representantes no controle biológico das pragas agrícolas.

Os baculovírus ocorrem naturalmente no agroecossistema de uma lavoura, e infectam lagartas como A. gemmatalis, ao se alimentarem de folhas contaminadas.

Para que os baculovírus tenha ação no controle biológico de pragas, eles precisam ser ingeridos pelos insetos.

Uma vez dentro do organismo, as cápsulas proteicas dos baculovírus se dissolvem, fazendo com que os vírions sejam liberados no intestino médio dos insetos.

A partir deste momento, ocorre a infecção das células do intestino, local onde se dá a multiplicação dos vírions. Os vírions são então liberados e ocorre a infecção de outras células.

Após a infecção, pouco-a-pouco as lagartas vão perdendo a sua capacidade de locomoção e de alimentação.

Em função do grande número de células infectadas, o organismo do inseto entra em falência.

Cerca de 4 dias após a contaminação, já é possível observar uma descoloração no corpo das lagartas infectadas.

E quando elas estão próximo à morte, seu corpo adquire uma coloração amarelada.

Deste ponto em diante, as lagartas não se alimentam mais e caminham para locais mais altos nas plantas.

Os insetos contaminados com baculovírus morrem pendurados, no topo das plantas.

Este é um sintoma típico de controle biológico com vírus.

Sendo assim, em poucos dias após a ingestão dos baculovírus (7 a 9 dias), os insetos morrem e novos baculovírus são liberados na lavoura.

A utilização de vírus no controle biológico de praga apresenta inúmeras vantagens, como:

  • Eles são altamente específicos, ou seja, cada estirpe viral tem ação apenas contra uma única espécie
  • A sua utilização não deixa resíduos nas culturas
  • É seguro para organismos não-alvo, ou seja, afetam apenas insetos-pragas específicos
  • Podem ser produzidos e armazenados em larga escala
  • São compatíveis com diversos produtos agrícolas
  • Auxiliam no manejo da resistência a inseticidas
  • Podem ser utilizados na agricultura orgânica
  • Podem ser produzidos em qualquer propriedade agrícola

Exemplos bem-sucedidos de controle biológico na agricultura

No Brasil, a utilização do controle biológico para o manejo de insetos-pragas é uma alternativa viável.

Existem diversos casos de utilização bem-sucedida, como os que discutiremos a seguir.

 

Cana-de-açúcar

Pesquisadores brasileiros relatam que este é o maior programa de controle biológico do mundo, em função da área plantada com cana-de-açúcar no Brasil, que corresponde a aproximadamente 10 milhões de hectares.

A broca-da-cana de açúcar (Diatraea saccharalis) é uma praga que causa inúmeros problemas aos produtores de cana, e os seus danos incluem redução na produção, morte da gema apical, encurtamento dos entrenós, etc., além de deixar a planta mais suscetível ao ataque de fitopatógenos oportunistas.

As estratégias para o manejo da broca-da-cana são muito limitadas, em função da sua localização na planta. Este inseto penetra no interior do colmo, local onde se alimenta e forma galerias.

Devido à dificuldade enfrentada no Brasil para o manejo da broca utilizando métodos tradicionais, introduziu-se a microvespa Cotesia flavipes (Hymenoptera: Braconidae) para o controle biológico da broca-da-cana.

A sua utilização deu tão certo que, atualmente, pode-se adquirir no mercado brasileiro C. flavipes em grandes quantidades para ser utilizada no controle biológico da broca-da-cana em larga escala.

 

Soja

A soja hospeda um grande número de pragas agrícolas, que causam grandes prejuízos aos produtores de grãos. Dentre as principais pragas da cultura da soja, destacam-se lagartas, como:

  • Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis)
  • Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens)
  • Lagarta-da-vagem (Spodoptera eridania e Spodoptera cosmioides).
  • Lagarta-medideira (Rachiplusia nu e Trichoplusia ni)
  • Lagarta-militar (Spodoptera frugiperda), etc.

As lagartas causam danos mais significativos no estádio reprodutivo, durante a floração e o enchimento dos grãos.

Em casos severos, podem provocar redução na produtividade e na qualidade dos grãos.

Além disso, podem atrasar a maturação, devido a retenção foliar, que causa o sintoma conhecido, popularmente como “soja louca”, o qual dificulta as operações de colheita mecanizada.

Entretanto, estas lagartas estão sujeitas a diversos inimigos naturais, que facilitam as medidas de controle biológico.

As microvespas pertencentes ao gênero Trichogramma são bastante eficientes no manejo das lagartas.

As fêmeas atuam depositando os seus ovos dentro dos ovos das lagartas.

Sendo assim, estas microvespas interrompem o desenvolvimento da praga logo no início do seu ciclo.

Os ovos das lagartas colonizados por Trichogramma, adquirem uma coloração escura e dão origem a novas microvespas, ao invés de lagartas.

Todo o processo dura em torno de 7 a 12 dias, sendo que a sua duração varia de acordo com a temperatura ambiental.

Assim como as vespas de C. flavipes, as microvespas de Trichogramma também podem ser adquiridas em empresas especializadas de controle biológico de pragas.

Após a compra das microvespas, as suas liberações devem ser realizadas quando se observarem os primeiros ovos de lagartas na lavoura. Estas liberações devem ser, preferencialmente, realizadas no início da manhã.

Técnicas de Vendas e Marketing no Agronegócio
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