A erosão do solo pode resultar na degradação das áreas agrícolas ou de pastagens, e restringir ou impossibilitar a lucratividade da atividade agropecuária.
Para fins agronômicos, uma das funções mais básicas do solo é servir como suporte às plantas, promovendo condições adequadas para a produção de alimentos e sustentabilidade ambiental.
É o solo que recebe as sementes com tecnologias genética e fitossanitária embutidas, fertilizantes e outros investimentos realizados na lavoura por você.
Quando a água da chuva transporta solo para fora da sua lavoura também são levados nutrientes essenciais às plantas, principalmente K e P.
Além disso, o solo não é um recurso renovável em curto prazo, pois, para a formação de 1 cm, são necessários cerca de 300 anos.
Apesar de os Latossolos representarem a classe de solo mais abundante no Brasil, o fato de serem profundos não significa que medidas de contenção da erosão do solo possam ser descartadas.
Os impactos gerados pela erosão do solo não se limitam apenas ao que ocorre dentro da sua lavoura.
O assoreamento e a eutrofização são processos que podem ser desencadeados ou agravados pela erosão do solo.
Deste modo, a preocupação com a conservação do solo não tem apenas cunho ambiental, mas também o apelo da necessidade de manter sua capacidade de uso.
Este é um desafio para os profissionais do Agro, uma vez que é comum a ocorrência de áreas suscetíveis à erosão do solo no país.
Portanto, se você quer saber tudo sobre erosão do solo, continue lendo este texto!
O que é erosão do solo e como ela ocorre
A erosão do solo é um processo em que partículas são transportadas da matriz do solo para outro local por meio da ação de algum agente, normalmente o vento ou a água.
O principal tipo de erosão do solo é a hídrica, já que a eólica é rara em áreas agrícolas.
A primeira fase da ocorrência da erosão do solo é a desagregação proporcionada pelo impacto da gota de água da chuva, processo que é intensificado em solos sem cobertura vegetal.
Posteriormente, se a quantidade e intensidade da chuva superarem a velocidade de infiltração de água no solo, ocorre o escoamento superficial.
O escoamento superficial de água na lavoura é responsável pelo transporte de grandes quantidades de partículas de solo em suspensão.
É importante lembrarmos que a erosão do solo é um processo natural e ocorre mesmo em áreas planas e com cobertura vegetal.
A própria formação do solo e das paisagens que conhecemos hoje em dia, foram e estão sendo oriundos de uma série de fatores de formação que incluem a erosão do solo.
Entretanto, as atividades antrópicas desenvolvidas por nós têm o potencial de acelerar os processos erosivos até níveis preocupantes, podendo tornar as áreas impróprias para cultivo.
Nesse caso, nossa preocupação é sobre a aceleração e descontrole causados pela agricultura, pois as perdas de solo em áreas agrícolas podem chegar a número alarmantes.
Isso ocorre porque algumas práticas realizadas por nós aumentam a suscetibilidade da lavoura à erosão do solo.
Essas práticas incluem o revolvimento do solo, ausência de cobertura vegetal e até mesmo o plantio no mesmo sentido do declive.
Logo, adoção do Sistema de Plantio Direto, principal sistema de manejo utilizado no Brasil, é uma medida capaz de diminuir a erosão do solo.
O Sistema de Plantio Direto preconiza, dentre outras técnicas, a cobertura permanente do solo e a rotação de culturas.
A cobertura impede que a gota da chuva impacte diretamente as partículas do solo e aumenta a rugosidade do terreno, diminuindo a desagregação e ocorrência de escoamento superficial.
Além disso, a diversificação de culturas e o não revolvimento melhoram a agregação e contribuem para a infiltração da água no perfil do solo.
Fatores que afetam a erosão do solo
Existem diversos fatores que afetam diretamente a erosão do solo na sua propriedade, eles são a erosividade, a erodibilidade, topografia, a cobertura do solo e uso de práticas agrícolas.
A erosividade se refere ao potencial das chuvas em causar erosão, ou seja, é um item relacionado ao histórico climático da região que não podemos controlar, mas devemos conhecer para o planejamento da lavoura.
Mais da metade do território brasileiro apresenta erosividade classificada como alta ou muito alta, sendo que a região Norte apresenta os maiores índices de precipitação e erosividade.
Embora estejamos discutindo erosão do solo, também é essencial que conheçamos o histórico de chuva da nossa região para o planejamento da lavoura, considerando práticas como data de semeadura ou necessidade de implantação de sistemas de irrigação ou drenagem.
O fator erodibilidade indica a suscebilidade do solo à ocorrência de erosão, sendo influenciado por atributos como textura, porosidade e o teor de matéria orgânica.
Exemplificando, solos com areia fina ou siltosos e com teores baixos de carbono orgânico possuem menor estabilidade de agregados e, por isso, são mais suscetíveis à erosão do solo.
O declive e o seu comprimento também impactam diretamente na erosão do solo. Quanto maior o desnível e comprimento considerado, maior o potencial da chuva causar erosão.
Nos itens anteriormente mencionados temos pouca influência, pois se tratam de processos relacionados com o clima e relevo.
Entretanto, podemos manejar os fatores cobertura do solo e adoção de práticas conforme o interesse e disponibilidade de recursos.
É fundamental manter a cobertura para mitigar a erosão do solo, esse é um dos motivos do sucesso do Sistema de Plantio Direto. Ela é responsável por diminuir o impacto da gota da chuva e aumentar a rugosidade do terreno.
Além disso, você pode optar pela implantação de pastagens em áreas mais declivosas e com solos rasos, desde que se mantenha lotação animal adequada.
Uma prática agrícola conhecida é a construção de terraços, os quais visam diminuir o comprimento do declive do terreno e formar uma barreira física contra o transporte de água e sedimento para fora da lavoura.
Consequências da erosão do solo
A ocorrência de erosão do solo em taxas elevadas resulta em uma série de impactos, trazendo consequências econômicas e ambientais negativas que, geralmente, acontecem simultaneamente.
Como já discutimos, junto ao solo perdido, há água e nutrientes.
Embora a água seja o próprio agente causador do transporte de partículas de solo, ela é essencial para o desenvolvimento das plantas e, por isso, comumente investimos em sistemas de irrigação.
Sendo assim, o armazenamento de água no perfil de solo não é positivo apenas por contribuir para a diminuição da erosão do solo, mas também por aumentar sua disponibilidade às plantas sem custos adicionais.
Nutrientes como Fósforo e Potássio também são carreados juntamente com a água e as partículas de solo suspensas.
Esse processo, além de ser negativo por gerar a perda de nutrientes essenciais às plantas, pode resultar na eutrofização de rios e lagos que são o destino final da água oriunda da erosão do solo.
Com o aumento de nutrientes como o P nos rios, estimula-se o crescimento e desenvolvimento de algas, as quais podem diminuir a concentração de oxigênio na água até níveis que impossibilitem a vida de peixes e outros seres aeróbios.
Caso essa água acrescida de partículas de solo proveniente dos processos erosivos chegue a fontes de água potável, há o risco de contaminação, tornando-a imprópria para consumo.
A erosão do solo também gera o assoreamento de rios, ou seja, o depósito e acúmulo das partículas de solo nos corpos hídricos.
Esse processo tem o potencial de ocasionar ou agravar enchentes em períodos de chuvas intensas, podendo causar prejuízos não somente ao produtor, mas também à comunidade como um todo.
Como evitar a erosão do solo
Existem diversas estratégias que podemos utilizar para controlar a erosão do solo, as quais podem ser adotadas conforme cada caso em especial.
O primeiro passo é pensarmos sobre a viabilidade da implantação da nossa lavoura. Talvez não seja boa ideia implantar cultivos anuais em Neossolos em áreas com declive acentuado, pois as estratégias para controle da erosão demandariam muito investimento.
Porém, em outros casos, em Latossolos e Argissolos, meramente para exemplificar, em declives moderados há estratégias capazes de mitigar a erosão do solo.
O simples fato de não semear a nossa cultura morro abaixo e, ao invés disso, optar pelo cultivo em nível pode ser o primeiro passo. A própria linha de semeadura ou plantio funciona como uma barreira física ao escoamento de água.
Mesmo que para isso sejam necessárias mais voltas e manobras do trator, as quais serão traduzidas em mais tempo e custo para a realização do trabalho, a semeadura morro abaixo é uma prática comprovadamente causadora de erosão e deve ser inibida.
A adoção do Sistema de Plantio Direto (SPD) é capaz de auxiliar no controle da erosão do solo em virtude da cobertura vegetal, do aumento da estabilidade de agregados e incremento da infiltração de água no perfil.
Por outro lado, a adoção do SPD não pode ser parcial. É essencial que haja cobertura do solo o ano inteiro e rotação de culturas, caso contrário as perdas de solo serão intensificadas.
Um exemplo clássico e atual disso ocorreu no estado do Paraná, onde, no período entre 1980 e 1990, houveram grandes avanços na conservação dos solos por meio do terraceamento das lavouras e adoção do SPD.
O terraceamento consiste na construção de barreiras físicas à passagem de água e partículas suspensas, diminuindo o comprimento do declive e, por consequência, a velocidade da água, acabando por mitigar a erosão do solo.
Entretanto, com o avanço do SPD nos anos 2000, os terraços foram retirados parcial ou totalmente, pois acreditava-se que esse sistema de manejo seria capaz de resolver sozinho os problemas com erosão do solo.
Porém, a dificuldade em executar todas as práticas indicadas pelo SPD, principalmente a rotação de culturas e manter a cobertura do solo, em conjunto com a remoção dos terraços fez com que o estado voltasse a ter problemas sérios com erosão do solo.
Isso nos evidencia que não existe uma prática que, isoladamente, resolva os problemas com erosão do solo, mas que existe um conjunto de soluções que devem ser analisadas e executadas conforma necessidades locais.
Mitigar a erosão do solo aumenta a produtividade da lavoura
Percebemos que a erosão do solo é um processo natural, mas que quando agravado pela atividade antrópica pode ter diversos impactos negativos.
Sendo assim, quando tomamos medidas capazes de contornar este problema e controlar a erosão do solo que ocorre na propriedade também estamos protegendo o lucro da lavoura.
Mesmo que você invista em sementes com alto potencial genético, com qualidade fitossanitária assegurada, em fertilizantes e em manejo fitossanitário não haverá bons resultados se não houver controle da erosão.
Uma lavoura onde não há cobertura e o escoamento superficial de água é facilitado, gerando erosão do solo, é como uma torneira aberta jogando fora os nutrientes dissolvidos em água.
Estima-se que o estado do Paraná perca o equivalente a US$ 242 milhões por ano em nutrientes levados pela erosão do solo.
Esse desperdício poderia ser diminuído drasticamente pela adoção de práticas simples como as sugeridas pelo Sistema de Plantio Direto, realizando cultivo em nível ou mesmo investindo em terraceamento.
No cultivo de cana-de-açúcar, as perdas podem chegar a até 0,771 e 1,149 de P e K kg ha-1 ano-1. Assim, ignorar a erosão do solo é, literalmente, equivalente a jogar dinheiro no lixo.
Menos água e nutrientes na lavoura é sinônimo de produtividade menor e produzindo menos, com o mesmo investimento, também teremos menos lucro.
Portanto, controlar a erosão do solo, além de manter a área própria para uso e proteger o ambiente, aumenta o seu lucro
O importante é entendermos que impedir a erosão do solo não trata somente de proteger o ambiente e os recursos naturais como o próprio solo e os rios.
Controlar a erosão do solo é manter nossa terra produtiva, é manter os nutrientes e a água na lavoura e assim proteger o potencial produtivo das plantas.