O manejo de percevejos no milho vem assumindo grande importância nos últimos anos.
Antes considerada uma praga secundária na cultura do milho, os percevejos hoje podem ser considerados uma praga-chave para o sistema de produção, pois além de possuir várias espécies capazes de causar danos (que podem ser irreversíveis), os percevejos atacam também várias culturas além do milho.
Como o cultivo de milho na maioria das vezes é associado a sucessões e/ou rotações com culturas que também hospedam percevejos, você irá encontrar grande dificuldade em realizar um controle eficaz e até mesmo um controle preventivo.
Por isso, você irá notar que a incidência de percevejos na cultura exige uma atenção especial, pois o seu ataque atinge facilmente um nível de perdas na produtividade.
De acordo com um trabalho realizado na Universidade Federal de Viçosa, os danos causados por percevejos na cultura do milho podem chegar a uma redução de até 87 kg por hectare.
Além disso, realizar o manejo de percevejos no milho pode resultar no aumento dos custo de produção agrícola comprometer a lucratividade da sua lavoura de milho.
Pesquisadores da Epagri afirmam que o custo de controle de percevejos da espécie Dichelops spp.(barriga-verde) varia de R$ 40,00 a R$ 160,00 por hectare.
Em lavouras produtoras de sementes, a preocupação maior é com os percevejos-do-milho (Leptoglossus zonatus), os quais atacam diretamente os grãos nas espigas.
De acordo com uma pesquisa realizada na Universidade de Brasília, o ataque de percevejos às sementes compromete os parâmetros de qualidade exigidos para se comercializar sementes, diminuindo a porcentagem de germinação das sementes produzidas.
Se você se interessou pelo assunto, continue lendo este artigo em que iremos apresentar as seguintes informações sobre o manejo de percevejos no milho:
- A multiplicação dos percevejos
- Danos do percevejo em plantas de milho
- Manejo Integrado de Pragas (MIP)
- Manejo de percevejos no milho
1. A multiplicação dos percevejos
A tecnologia Bt resulta em híbridos de milho transgênico, que possuem uma proteína tóxica da bactéria Bacillus thuringiensis inserida no seu DNA.
Essa proteína possui efeito quando ingerida pelas lagartas, ocasionando sua morte e não permitindo o seu ataque a essas plantas.
Essa tecnologia revolucionou a produção de milho, pois a lagarta-do-cartucho era a praga mais temida pelos produtores de milho.
Porém, a adotação de híbridos de milho transgênico, com a tecnologia Bt, resultou em redução considerável do uso de inseticidas a base de neonicotinoides, os quais também realizavam o controle de percevejos.
Ou seja, você aplicava o inseticida para a lagarta-do-cartucho, mas acabava realizando também o manejo de percevejos no milho “por tabela”.
Nos sistemas de produção das regiões que mais produzem grãos do Brasil, é comum a adoção do sistema de plantio direto, como alternativa muito eficiente no que se diz respeito à melhoria e à conservação da fertilidade do solo, pois conta com práticas conservacionistas que, a longo prazo, trazem benefícios significativos no rendimento das lavouras.
E o milho é uma excelente opção para este sistema, pois deixa grandes quantidades de restos culturais sobre o solo, os quais possuem alta relação C/N, o que proporciona um tempo maior para sua palhada se decompor, deixando assim o solo coberto por mais tempo.
Como você já deve saber, o sistema de plantio direto consiste no revolvimento mínimo do solo, na cobertura permanente do solo e na rotação de culturas.
Entretanto, apesar de ser muito conveniente na fertilidade do solo, o sistema de plantio direto possibilita condições ideais para a sobrevivência dos percevejos que atacam a cultura do milho.
A palhada deixada sobre o solo forma um habitat pra o seu desenvolvimento, sendo as plantas daninhas sua fonte de alimento.
Por isso, se há a prática desse sistema na lavoura em questão, você deve se atentar e praticar sempre o monitoramento na área, e agir de maneira preventiva ao ataque dos percevejos no milho.
Você entenderá melhor como agir no decorrer deste artigo.
Outro sistema muito comum nas regiões produtoras do Brasil é o de “sucessão soja-milho” ou “milho safrinha”, o qual é caracterizado pelo cultivo do milho após a safra da soja.
Esse tipo de sistema, muitas vezes aliado ao cultivo mínimo, também traz benefícios ao desenvolvimento dos percevejos, pois eles são polífagos e atacam a cultura da soja na fase final do seu ciclo.
Ou seja, se havia qualquer intenção de quebrar o ciclo de vida dos percevejos, esta foi por água abaixo.
2. Danos do percevejo em plantas de milho
Os percevejos são insetos sugadores e possuem uma diversidade de espécies que são consideradas pragas na cultura do milho.
Dentre as espécies, existem os percevejos que atacam as raízes, o colmo e o grão na espiga.
Tanto os percevejos das raízes, conhecidos como “percevejo-castanho” (Scaptocoris castanea), quanto os do colmo, os denominados “percevejos-verdes” (Nezara viridula), “percevejos-barriga-verde” (Dichelops melacantus e Dichelops furcatus) e o “percevejo-marrom” (Euschistus heros) são sugadores de seiva e atacam nas fases iniciais da lavoura de milho.
Os percevejos injetam sua saliva, que é tóxica para as plantas, ao se alimentarem da seiva das raízes, ou no colo da planta, onde causam lesões, as quais aumentam conforme o desenvolvimento das folhas.
Os níveis das lesões variam de acordo com a quantidade de percevejos presentes e da idade da planta de milho, na qual ocorre um retardo no desenvolvimento, o que por sua vez resulta no aumento da infestação de plantas daninhas.
Em casos mais severos, as toxinas liberadas na saliva dos percevejos podem causar a morte da plântula de milho, e assim, afetar o estande almejado.
Além desses danos, ocorrem deformações nas folhas como furos simétricos e amarelecimento, reduzindo a capacidade da planta de milho em realizar fotossíntese, comprometendo o desenvolvimento da cultura e a formação de espigas.
Já os percevejos que atacam a espiga, os denominados “percevejos-do-milho” ou “bombachudos” (Leptoglossus zonatus) realizam a sucção diretamente no grão, o que ocasiona em murchamento e apodrecimento dos grãos na espiga de milho, acarretando também em uma redução significativa na produtividade e na qualidade da produção.
Ou seja, os danos nas fases iniciais da cultura do milho requerem extrema preocupação dos produtores rurais, uma vez que os danos nessa fase inicial da lavoura de milho pode prejudicar toda a produção, seja diminuindo drasticamente a produtividade ou até mesmo obrigando o produtor ural a semear novamente sua lavoura de milho.
Não menos importante, são os danos causados por esses insetos na fase reprodutiva da planta, quando as espigas estão completamente formadas.
Portanto, percebe-se a importância que as espécies de percevejos possuem no cultivo do milho, e o prejuízo que elas podem causar.
Dessa forma, você deve ficar atento à presença desses insetos em todas as fases da cultura.
A partir destas informações, você deve ter notado que a primeira etapa do manejo de percevejos no milho está no monitoramento para controle inicial, já que o ataque se inicia nas fases mais jovens da planta.
3. Manejo Integrado de Pragas (MIP)
O MIP se fundamenta realizar a integração de métodos de controle para a praga-alvo de uma cultura, englobando várias estratégias simultâneas que compreendem conhecimentos sobre o ambiente e a dinâmica populacional da praga em questão, com o objetivo de manter o nível do dano causado pela praga abaixo do nível de dano econômico, de forma a reduzir o uso de inseticidas.
A base do MIP consiste em:
- Identificação das pragas-chave;
- Identificação dos seus inimigos naturais;
- Elaboração dos níveis de controle;
- Monitoramento para tomada de decisão;
- Integração dos métodos de controle.
Essas premissas são indispensáveis para o manejo integrado de pragas.
Sendo assim, alguns passos devem ser seguidos:
O primeiro passo consiste na identificação dos níveis da densidade populacional do inseto-praga, os quais são:
- Nível de Dano Econômico (NDE): ocorre quando a densidade populacional da praga causa prejuízo econômico equivalente ao custo do controle a ser adotado.
- Nível de Controle (NC): ocorre quando há necessidade de adotar medidas de controle para que não ocorra dano econômico.
- Nível de Equilíbrio (NE): ocorre quando a densidade populacional média da praga fique por um longo período de tempo sem afetar a cultura, ou seja, sem a necessidade de tomar medidas de controle.
O segundo passo é o monitoramento. É a partir dele que se toma qualquer atitude.
Você deve realizá-lo até mesmo antes da semeadura.
O monitoramento consiste em visitas frequentes ao campo para analisar qual o nível populacional da praga-chave na sua área.
O monitoramento dos percevejos no milho é realizado de forma a se contabilizar a quantidade de percevejos vivos por metro linear, metro quadrado, ou a cada 10 plantas em uma mesma linha.
A recomendação para o monitoramento de percevejos no milho é que seja realizado em todo o ciclo da cultura.
No entanto, a fase que você deve estar mais atento a incidência dessas pragas é no início no seu ciclo, entre os estádios de emergência das plântulas até o V5.
O terceiro passo é a tomada de decisão. Como já foi citado anteriormente, a tomada de decisão depende do monitoramento, pois é a partir dele que você saberá se há população de percevejos na sua lavoura e se houver, qual o nível dessa população.
É importante lembrar que, para um manejo eficiente dos percevejos, esses passos devem ser seguidos antes mesmo da implantação do milho, ou seja, devem ser iniciados na cultura anterior, se ela também for hospedeira, como ocorre no sistema de sucessão soja-milho.
O nível de dano econômico para cada espécie é:
- Percevejo barriga-verde: 0,8 percevejos por metro quadrado;
- Percevejo-verde: 0,27 percevejos por metro quadrado;
- Percevejo-marrom: o controle deve ser iniciado no surgimento dos primeiros indivíduos.
- Percevejo-do-milho: o controle deve ser iniciado a partir do surgimento dos primeiros indivíduos, para lavouras de sementes.
Na fase inicial da lavoura de milho, o nível de controle recomendado é de 1 percevejo a cada 10 plantas amostradas.
No caso do percevejo-castanho, o monitoramento é inviável, já que estes ficam alojados na subsuperfície do solo.
Portanto, os métodos de controle mais indicados são o Tratamento de Sementes e o revolvimento do solo.
4. Manejo de percevejos no milho
Existem vários métodos de controle sugeridos pelo Manejo Integrado de Pragas.
Aqui você encontrará somente os principais métodos de controle de percevejos na cultura do milho, que são:
Tratamento de Sementes
Se você pratica o sistema de sucessão soja-milho, ou se vem encontrando percevejos na sua área com frequência, é praticamente certeza que eles irão atacar o seu cultivo de milho.
Portanto, para agir de forma preventiva, o tratamento de sementes com inseticidas é uma excelente opção para evitar o ataque nas fases iniciais da cultura do milho.
O grupo químico dos inseticidas mais indicado para realizar o tratamento de sementes milho contra os percevejos é o dos neonicotinoides.
Vale ressaltar que, tão importante quanto realizar o tratamento de dementes, é importante a forma como se realiza esse método, pois é imprescindível que o produto seja distribuído uniformemente, para garantir que todas as sementes sejam tratadas.
Por isso, se não há condições de realizar o tratamento na sua área, o recomendado é que se utilize o Tratamento de Sementes Industrial, o qual irá garantir uma distribuição perfeita do ingrediente ativo por semente.
As sementes tratadas com inseticidas na fazenda não devem ficar armazenadas por muito tempo (dias).
O ideal é que sejam semeadas imediatamente.
E, devido ao fato de que a semente tratada nessas condições muda a sua forma original, pode ocorrer um problema no momento da semeadura, ou seja, a semente não escoa perfeitamente nos compartimentos da semeadora.
Uma alternativa que ajuda nessa questão é o uso de grafite em pó. A quantidade de grafite recomendada é de 2 a 4 gramas por quilo de semente.
Aplicação de inseticidas
Este é um dos métodos mais utilizados no controle de percevejos após o estabelecimento da cultura do milho, quando o nível de controle é encontrado no monitoramento dos percevejos.
Costuma ser muito eficiente, se praticado da maneira correta.
É importante salientar que o uso indiscriminado dos inseticidas pode resultar na seleção de percevejos resistentes.
Como na maioria das vezes, somente uma aplicação não é o suficiente, é muito importante que você rotacione os princípios ativos dos inseticidas utilizados, utilizando mecanismos de ação diferentes.
Lembrando que, alguns dos grupos químicos de inseticidas recomendados para o controle de percevejos no milho são os piretroides, neonicotinoides e organofosforados.
Em função dos hábitos dos percevejos, que se alojam nos colmos das plantas ou ficam escondidos na palhada, há uma dificuldade em atingir o inseto, que muitas vezes acaba não sendo atingido pela aplicação. Por isso, a tecnologia de aplicação se torna imprescindível.
Controle biológico
Pensando na perspectiva de proteção dos recursos naturais (lençol freático, solo, organismos), saúde dos trabalhadores, e melhor qualidade biológica e sanidade dos alimentos produzidos no campo, o controle biológico surge como opção de controle, além de ser muito eficiente e acessível.
As vespas Trissolcus basalis e Telenomus podisi são parasitoides do percevejo-verde e do percevejo-marrom, respectivamente.
Essas vespinhas parasitam ovos e também adultos. Os ovos de percevejo parasitados por elas mudam sua coloração (ficam acinzentados e vão evoluindo para preto).
Cada ovo parasitado, cerca de 10 dias depois dará origem a outra vespa, ao invés de um percevejo.
Cada fêmea dos parasitoides dá origem, em média a 200 ovos.
Na medida em que vão se reproduzindo, vão parasitando cada vez mais ovos de percevejo.
E assim se explica a eficiência dessa prática.
Os parasitoides podem ser liberados na forma de adultos.
A recomendação é de 5.000 vespas por hectare, e que as libere nas bordas da lavoura.
Também podem ser liberados na forma de ovos parasitados, em cartelas de papelão.
O recomendado é de 3 cartelas por hectare, as quais são amarradas na parte mediana das plantas.
Rotação de culturas
A rotação de culturas é fundamental para a quebra do ciclo dos percevejos. Se você fornece à praga uma planta na qual ela não se alimenta, ela deixará de se reproduzir e quando você voltar a cultivar milho, provavelmente a infestação de percevejos será menor.
Por isso, recomenda-se que a rotação seja realizada com culturas que não sejam hospedeiras dos percevejos.
Para conseguir realizar um bom manejo de percevejos no milho, siga os passos propostos pelo MIP e escolha as técnicas de controle que estão à sua disposição.
Estratégias integradas como semeadura na época certa, escolha do híbrido mais adequado para as suas condições, utilização do tratamento de sementes, população de plantas adeqauda, monitoramento frequente, dentre outras, são fundamentais.
Não se esqueça de fazer uma combinação dos métodos de controle para obter maior eficiência e melhores resultados no manejo de percevejos no milho.