Os pulgões, também conhecidos por afídeos, fazem parte da superfamília Aphidoidea.
Nesta superfamília, a família Aphididae é a mais comum, com aproximadamente 4.000 espécies, distribuídas no mundo inteiro.
A ampla distribuição deste grupo de insetos reflete a sua habilidade de sobreviver em condições climáticas adversas.
Os pulgões representam importantes pragas agrícola e, por isso, é um dos grupos de insetos mais estudados no mundo.
Estes insetos são sugadores fitófagos (alimentam-se de plantas) e, geralmente, apresentam comprimento variando de 1 a 3 mm.
Devido ao seu hábito alimentar, os pulgões podem ser divididos em:
- Monófagos, que são os pulgões que utilizam os recursos provenientes de um grupo específico de plantas, de uma mesma família botânica.
- Polífagos, que são aqueles que conseguem obter seus nutrientes de um grupo mais amplo de plantas hospedeiras, ou seja, de diversas famílias botânicas.
Além de causarem danos diretos a produção agrícola, os pulgões também atuam como vetores de viroses.
O grande sucesso dos pulgões como praga agrícola é relacionado, principalmente, à sua alta fecundidade e ao polimorfismo dos indivíduos, ou seja, sua capacidade apresentar diferentes formas.
O polimorfismo contribui para o estabelecimento dos pulgões, devido à presença de:
- Formas ápteras (sem asas), concentradas na reprodução em condições ambientais favoráveis.
- Formas aladas (com asas), para dispersão sob condições ambientais adversas.
O desenvolvimento dos pulgões varia de uma área geográfica para outra:
- Nas regiões tropicais e subtropicais, por exemplo, é possível que ocorram várias gerações anuais de indivíduos, através da reprodução partenogenética, que são origem a fêmeas vivíparas.
- Nas regiões temperadas, por sua vez, no término do outono e no início do inverno, as fêmeas não mais se multiplicam por partenogênese. Nestas condições, ocorre a reprodução bissexuada, o que dá origem a machos e fêmeas ovíparas.
O Brasil possui condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento de formas partenogenéticas de pulgões o ano todo.
Os pulgões são insetos que estão intimamente ligados aos seus hospedeiros, sendo assim, a sua dispersão se relaciona, principalmente, com a amplitude do seu hospedeiro.
Neste cenário, as espécies consideradas polífagas tem maior possibilidade de dispersão por conseguirem se manter em diversas famílias de plantas diferentes.
Principais espécies de pulgões
Devido as condições ambientais em que são cultivados, os cereais são os vegetais que mais sofrem com os ataques de pulgões.
Em função disso, escolhemos algumas das principais espécies de pulgões para apresentar a seguir.
Pulgão-da-espiga (Sitobion avenae)
Os insetos ápteros (desprovidos de asas) possuem corpo alongado, com comprimento que varia de 1,7 mm a 4 mm, além de serem de cor esverdeada. A região do dorso do abdômen, geralmente, possui uma mancha de coloração escura.
As antenas e a os sifúnculos (pares de tubos dorsais no abdómen) destes pulgões são de coloração escura. Ao passo que a cauda tem cor clara, com ¾ do tamanho dos sifúnculos e, contendo de dois a cinco pares de cerdas laterais.
Já os pulgões alados apresentam simetria corporal aos ápteros, diferindo-se, apenas pela presença de asas e de com manchas negras entre os segmentos dorsais.
Pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum)
Os pulgões ápteros (desprovidos de asas) possuem corpo oval e alongado. A sua cor é amarelo-esverdeada, apresentando uma linha longitudinal verde-escura.
Esta espécie é levemente menor que anterior, pois seu comprimento varia entre 1,2 mm a 2,3 mm.
A sua antena apresenta seis segmentos, os quais são de cor castanha, contudo, o seu comprimento não atinge a base dos sifúnculos.
Schizaphis graminum possui os sifúnculos (pares de tubos dorsais no abdómen) cilíndricos com a mesma cor do restante do corpo, entretanto as suas pontas são negras.
Os pulgões alados têm cabeça e protórax de coloração marrom, enquanto que, os outros segmentos torácicos são negros.
Pulgão-preto-dos-cereais (Sipha maydis)
Os indivíduos ápteros (sem asas) são de tamanho reduzido, com comprimento que varia de 1 mm a 2 mm.
O seu corpo tem formato piriforme e achatado, além de ser coberto por pelos. De modo geral a sua coloração é marrom-escura na superfície dorsal, a qual é completamente esclerotizada.
Pulgão-de-milho (Rhopalosiphum maidis)
Os pulgões ápteros possuem corpo alongado, com coloração que varia do amarelo-esverdeada ao azul-esverdeado. Além disso, apresentam manchas escuras na área ao próximo aos sifúnculos.
O comprimento destes pulgões varia de aproximadamente 0,8 mm até 2,5 mm. Seus tubérculos antenais são pouco desenvolvidos e as antenas curtas, possuindo seis segmentos.
Os sifúnculos são negros e, apresentam a base maior do que seu ápice, ao passo que a cauda, também de coloração negra, apresenta quatro cerdas laterais.
Como os pulgões impactam na produtividade de uma lavoura?
Os pulgões apresentam capacidade para se multiplicar rapidamente num curto período de tempo, principalmente, se as condições ambientais forem favoráveis para o seu desenvolvimento.
Sendo assim, é comum a geração de grandes colônias, constituídas de insetos ápteros e alados, além de ninfas.
Os pulgões alados são os responsáveis pela disseminação e, tem habilidade para percorrer grandes distâncias (centenas de quilômetros) quando carregados pelo vento.
Os principais danos estão relacionados a à sucção da seiva e, injeção de saliva contendo substâncias tóxica, esta última é exclusiva para algumas espécies. Estes danos, caracterizam os prejuízos diretos.
Desta forma, a sucção da seiva leva ao encurtamento dos internodos das plantas e, consequentemente ao encarquilhamento e amarelecimento das folhas.
As plantas severamente atacadas por pulgões não se desenvolvem normalmente e acabam tendo o seu o crescimento e produção prejudicados.
Em plantas jovens, ocorre a deformação de folhas em formação e deformação dos brotos, reduzindo severamente o crescimento das plantas.
A saliva tóxica dos pulgões causa retardamento no desenvolvimento do sistema radicular, além de inibir o perfilhamento.
Em plantas de lavoura, os pulgões têm potencial para afetar os componentes rendimento, como:
- Redução do número de espigas e/ou espiguetas.
- Redução no número de grãos/espiga
- Peso de mil grãos.
A extensão dos danos varia em função da espécie do pulgão, da severidade do ataque e do estádio de desenvolvimento quando ocorreu a infestação.
Além disso, os pulgões excretam substâncias açucaradas, conhecidas como honeydew.
O honeydew por sua vez, é um atrativo para formigas, estabelecendo uma relação simbiótica.
Neste caso, as formigas oferecem proteção contra os inimigos naturais do pulgão, favorecendo sua permanência no ambiente.
A deposição do honeydew nas folhas favorece ainda o desenvolvimento de um fungo, popularmente chamado de “fumagina“, que recobre a folha, dificultando a respiração e fotossíntese, debilitando-a ainda mais.
Além do honeydew, outro dano indireto está associado ao pulgão, que podem atuar transmitindo viroses às plantas, que levam ao depauperamento dos hospedeiros atacados.
Um pulgão tem capacidade para contaminar diversas plantas. Além disso, uma única espécie de pulgão pode transmitir um ou mais vírus.
Se levarmos em consideração os pulgões alados, com grande capacidade de voo, a dispersão destas viroses pode ser elevada.
Pulgões como vetores de doenças
Os pulgões têm capacidade para transmitir diversos tipos de vírus, que infectam as mais diferentes espécies vegetais, como por exemplo:
Citrus tristeza vírus (CTV)
O CTV é comumente conhecido como a tristeza dos citros, atualmente é uma das principais doenças para a citricultura. No Brasil, o principal vetor desta virose é o pulgão preto dos citros ou Toxoptera citricidus.
Potato leafroll virus (PLRV)
É uma virose que ocorre em todas as regiões onde se realiza o plantio de batata. A sua transmissão ocorre, principalmente, através dos pulgões: Myzus persicae e Macrosiphum euphorbiae.
Potato virus Y (PVY)
É a virose mais importante em solanáceas cultivadas e vem crescendo de forma significativa nas lavouras de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Este vírus pertence ao gênero Potyvirus, podendo ser transmitido mecanicamente e por enxertia, porém o seu principal meio de disseminação se dá, por pelo menos, 25 espécies de pulgões:
- Aphis fabae
- Aphis gossypii
- Aulacorthum solan
- Lipaphis erysimi
- Macrosiphum euphorbiae
- Metopolophium dirhodum
- Myzus persicae, etc
Estes são os mais comumente encontrados em plantios de batata, entretanto o mais eficiente é o pulgão Myzus percicae
Barley yellow dwarf virus – BYDV
Esta virose ocorre em todas as regiões do mundo onde os cereais são cultivados. Esta é a doença causada por vírus de maior importância para a aveia no mundo e, apesar do seu nome estar relacionado com a cultura da cevada, este vírus infecta diversos cereais, como o trigo, a cevada, entre outras gramíneas.
Dentre as diversas espécies de pulgões, os mais importantes são Macrosiphum avenae e Rhopalosiphum padi.
Pulgões não infectados podem adquirir o vírus alimentando-se por apenas 30 minutos de plantas infectadas, porém o BYDV não se multiplica em seu vetor e, um período latente de alguns dias é necessário antes que ele possa transmitir o vírus.
Os pulgões podem permanecer infectados por várias semanas, contudo, não transmitem o vírus para os seus descendentes.
O BYDV é transmitido de maneira persistente circulativa por mais de 20 espécies de pulgões, as quais infectam, aproximadamente, 100 espécies de plantas diferentes.
Estratégias para o manejo
Atualmente, o controle dos pulgões pode ser realizado, principalmente, de duas formas: através de aplicações de inseticidas e do manejo através de inimigos naturais.
No campo, tem sido observado a ocorrência de insetos que atuam como inimigos naturais dos pulgões. Dentre os quais, os mais frequentes são:
- Larvas de moscas da família Syrphidae (Diptera: Syrphidae). Estes insetos atuam inserido o seu aparelho bucal no corpo dos pulgões e dele, extraem os nutrientes.
- Crisopídeos, também conhecidos como bichos-lixeiros (Neuroptera: Chrysopidae). As larvas dos crisopídeos são predadoras de ovos e das fases larvais de insetos pragas de corpo mole, como cochonilhas e pulgões.
- Diversas espécies de joaninhas (Coleoptera: Coccinellidae). Tanto as larvas como os adultos podem se alimentar de pulgões, estima-se que as joaninhas podem consumir até 50 pulgões/dia.
Para o controle dos pulgões utilizando-se inseticidas químicos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), recomenda-se que deve ser feito o uso de inseticidas sistêmicos com pulverizações foliares.
A aplicação de inseticidas para o controle de pulgões ainda é a estratégia mais adotada pelos agricultores brasileiros.
Em casos específicos, o tratamento pode ser realizado em covas com granulados do grupo dos fosforados, para que não deixem resíduos nos frutos.
Já no caso das sementes, as mesmas devem ser tratadas com inseticidas sistêmicos em pó, como os silicato de alumínio ou carvão ativado.
Na tabela abaixo, estão descritos os inseticidas químicos aprovados no Brasil, pelo MAPA, para o controle de pulgões em culturas agrícolas.
Recomenda-se, que antes de iniciar as pulverizações com inseticidas, se visite o site do Agrofit, para a observância de qual ingrediente ativo é recomendado para cada cultura.