O consórcio de culturas em sistemas de produção agrícola é uma importante ferramenta que vem sendo muito utilizada na safrinha pelos produtores com o objetivo de aumentar a produtividade na sua cultura principal.

O consórcio de culturas consiste no cultivo simultâneo de duas ou mais espécies de plantas em uma mesma área, podendo atender a diferentes objetivos como a produção de cobertura vegetal ou de adubação verde para a cultura em sucessão, produção de grãos e/ou pastagem, controle de pragas ou doenças, entre vários outros objetivos.

Dependendo das espécies consorciadas, essa tecnologia é capaz de promover inúmeros benefícios ao sistema produtivo, pois além de poder gerar mais de uma fonte de renda por área, ela possibilita:

  • Maior exploração do solo e de recursos naturais (água, luz, nitrogênio);
  • Maior ciclagem de nutrientes;
  • Redução da ocorrência de plantas daninhas;
  • Proteção do solo contra processos erosivos;
  • Melhor estruturação do solo;
  • Diminui a incidência de pragas e doenças.

Contudo, apesar de todos esses benefícios, quando se fala em consórcio de culturas, a principal dúvida é:

Como fazer para que não ocorra competição entre as culturas consorciadas?

A resposta é que, em algum nível, a competição sempre vai existir, mas é possível fazer com que ela não seja significativamente prejudicial à produtividade das culturas consorciadas.

Para isso, é de muito importante que você saiba manejar o seu sistema de consórcio, beneficiando a cultura principal para que a sua produtividade não seja afetada.

Como o milho é uma cultura muito utilizada na safrinha devido a sua alta rentabilidade e ao fato de que seus restos culturais promovem considerável cobertura no solo (com alta relação carbono/nitrogênio), ele é uma excelente opção para consórcio de culturas.

Além disso, após a colheita do milho safrinha as áreas de cultivo geralmente ficam em pousio até a próxima safra, o que favorece a produção de matéria seca e de fixação e ciclagem de nutrientes da espécie vegetal consorciada com o milho.

Se você se interessou por este assunto, continue lendo este artigo e descubra algumas opções de consórcio com a cultura do milho safrinha, e as particularidades dos modelos mais utilizados na atualidade (consórcio de milho com braquiária e com crotalária), a partir do seguinte roteiro:

  1. Por que realizar consórcio com o milho safrinha
  2. Milho safrinha com capim-braquiária
  3. Milho safrinha com crotalária
  4. Milho safrinha com outras espécies ou com mix de espécies
  5. Produtividade do milho consorciado e da soja em sucessão

Vamos lá?

Por que realizar consórcio com o milho safrinha

Consórcio de culturas

A cultura do milho possui grande importância econômica no Brasil, devido ao alto valor nutricional do seus grãos, os quais são muito utilizados nas indústrias tanto para alimentação humana quanto para alimentação animal.

Por isso é uma cultura de alta rentabilidade, muito utilizada na safrinha, em sucessão com a cultura da soja.

Além de proporcionar outra fonte de renda ao produtor, que não seja a sua cultura principal da safra de verão, o milho, aliado ao sistema de plantio direto, proporciona excelente quantidade de palha sobre o solo.

No consórcio, a cultura do milho é uma ótima opção devido sua elevada altura de plantas e elevada altura de inserção das espigas, o que proporciona uma colheita facilitada, sem causar interferência na planta consorciada entre as fileiras.

Desta forma, as plantas consorciadas ficam mais tempo cobrindo o solo, impedindo o desenvolvimentos de plantas invasoras e oferecendo maior produção de cobertura, maior ciclagem de nutrientes, maior atividade microbiológica do solo.

A recomendação de semeadura para o milho safrinha em consórcio é, de acordo com um trabalho realizado na Universidade Federal de Viçosa, de utilizar o espaçamento entre fileiras de 50 cm, com densidade populacional entre 60.000 e 70.000 plantas por hectare.

Milho safrinha com capim-braquiária

Consórcio de culturas

O consócio de milho safrinha com capim-braquiária é um exemplo do sistema conhecido como Santa Fé, o qual consiste no cultivo de milho para a produção de grãos simultaneamente ao cultivo de espécies forrageiras, sendo o gênero Brachiaria spp. (ou Urochloa spp., dependendo de qual lado da discussão você está), o mais amplamente utilizado.

Esta tecnologia fornece matéria seca para a semeadura direta da cultura em sucessão, já que as duas espécies são gramíneas, e conferem excelente cobertura sobre solo.

Além disso, as duas espécies da família Poaceae possuem elevada relação carbono/nitrogênio, o que permite a permanência dessa palha sobre o solo por bastante tempo.

Entre as espécies de capim-braquiária, a Brachiaria ruzizisiensis tem sido a mais adotada pelos agricultores no consórcio com o milho safrinha, devido ao seu rápido estabelecimento, facilidade de controle químico com herbicidas e baixa produção de sementes, o que evita a formação de um banco de sementes que possa se tornar a ser um problema nas culturas agrícolas em sucessão.

Contudo, para se obter um bom resultado no cultivo do milho safrinha consorciado com capim-braquiária, alguns cuidados devem ser tomados, principalmente porque as espécies de capim-braquiária podem competir com o milho safrinha nesse sistema de cultivo.

Portanto, para minimizar os efeitos dessa competição, há 3 táticas de manejo que podem ser realizadas de forma isolada ou em conjunto:

1. Realizar a semeadura em diferentes épocas do milho safrinha e do capim-braquiária, para que o milho possa ter um bom desenvolvimento nas fases iniciais. Nesse caso, a semeadura do capim-braquiária ocorre junto com o fertilizante da primeira adubação de cobertura do milho safrinha, o que geralmente ocorre nos estádios V2 a V4.

2. Outra tática que confere bom desenvolvimento inicial a cultura principal é realizar a semeadura das duas espécies em diferentes profundidades, para que a emergência do milho safrinha seja mais rápida e vigorosa. Neste caso, recomenda-se de 2 a 3 cm como profundidade de semeadura para o milho, e de até 6 cm de profundidade para a sementes do capim-braquiária.

3. Aplicar subdoses de herbicidas graminicidas seletivos para a cultura milho, com o objetivo de retardar o crescimento do capim-braquiária.

Alguns herbicidas indicados para esse sistema são a atrazina, o nicosulfuron e o mesotrione, sendo o nicosulfuron o mais amplamente utilizado com essa finalidade de retardar o crescimento do capim-braquiária.

No sistema de consórcio de milho com capim-braquiária, há 4 formas de se realizar a semeadura do capim-braquiária:

  • Realizada à lanço, antes da semeadura do milho, de modo a incorporar essas sementes pelo movimento posterior da semeadura do milho (você deve se atentar à profundidade de semeadura do milho, de 2 a 3 cm).
  • Realizar concomitantemente com a semeadura do milho, com as sementes da forrageira misturadas com o fertilizante, ou em fileiras intercaladas (caixa de sementes adicional).
  • Realizar depois da semeadura do milho, durante a primeira adubação de cobertura, juntamente com o fertilizante.
  • Em sobressemeadura, com distribuição aérea, quando o milho safrinha estiver no estádio R3 (sendo este o menos indicado, pelo alto risco de má germinação e desenvolvimento do capim-braquiária braquiária).

Em relação a quantidade de sementes, de acordo com pesquisadores da Embrapa, o recomendado para braquiárias é de 4,0 kg ha-1, com Valor Cultural (VC) de 75%.

Quando são distribuídas a lanço, ou juntamente com o fertilizante, o recomendado é que se aumente em 50% a quantidade de sementes recomendada de capim-braquiária.

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Milho safrinha com crotalária

Consórcio de culturas

A crotalária é uma ótima opção para o consórcio com o milho, pois é considerada um adubo verde, por possuir capacidade de realizar a fixação biológica de nitrogênio, sendo este um nutriente extraído em grande quantidade do solo pelas culturas agrícolas.

O consórcio de milho safrinha com crotalária pode proporcionar um incremento na produção de matéria seca do milho, como resultado não só da fixação biológica de nitrogênio, mas como também da cobertura no solo durante o desenvolvimento do milho safrinha, da ciclagem de nutrientes, do aumento da atividade microbiológica no solo, dentre outros fatores.

Entretanto, o principal benefício que tem levado os agricultores a adotarem o consórcio de milho safrinha com crotalária é o baixo Fator de Reprodução (FR) de nematoides das espécies Crotalaria spectabilis, Crotalaria ochroleuca e Crotalaria breviflora.

Desta forma, em áreas com problemas de nematoides o cultivo de crotalária em consórcio com o milho safrinha pode auxiliar na redução da população de nematoides, o que traz benefícios não só para a cultura do milho safrinha, mas também para a cultura da soja cultivada em sucessão ao milho.

Assim como no consórcio com o capim-braquiária, o consórcio do milho safrinha com a crotalária possui algumas particularidades que devem ser levadas em consideração.

Nesse sistema, há uma certa dificuldade em controlar plantas invasoras do tipo “folhas largas” (eudicotiledôneas), já que a crotalária possui características semelhantes a estas plantas daninhas.

Por isso, a semeadura da crotalária deve ser preferencialmente realizada após a semeadura do milho, quando este estiver no estádio V4.

Antes disso, é necessário que se faça o controle das plantas daninhas presentes na lavoura, com herbicidas que não possuem um efeito residual prolongado que possa prejudicar a germinação da crotalária.

Um exemplo é o glifosato (quando o híbrido de milho possui o gene de resistência ao glifosato oriundo da bactéria Agrobacterium tumefaciens).

Sendo assim, para um adequado desenvolvimento do consórcio de milho safrinha com crotalária, as sementes de crotalária devem ser misturadas com o fertilizante na primeira adubação de cobertura do milho.

Dessa forma, a cultura do milho também não será prejudicada pela competitividade entre as espécies.

A quantidade de semente recomendada para as espécies de crotalária é de cerca de 14 kg ha-1.

Milho safrinha com outras espécies ou com mix de espécies

Consórcio de culturas

A associação de duas ou mais espécies de plantas é uma ótima opção por causar maior diversificação no ambiente. Essa prática contribui para o aumento da cobertura, da biodiversidade, do número de inimigos naturais, dentre outros fatores, reunindo assim benefícios de diversas plantas ao mesmo tempo.

O pesquisador do Instituto Agronômico do Paraná, Dr. Ademir Calegari, explica que

“Caso ocorra uma seca, ou um ataque de pragas/doenças, normalmente o mix de espécies fica menos suscetível, pois pelo menos uma espécie conseguirá se desenvolver”

Algumas espécies que podem servir de opção para o consórcio com a cultura do milho são: mucuna-preta, guandu, nabo-forrageiro, girassol, trigo mourisco, dentre outras.

O nabo-forrageiro, particularmente, possui como benefícios interessantes a ciclagem de potássio e o rompimento de camadas compactadas, devido às características do seu sistema radicular.

Um experimento realizado na Universidade do Oeste Paulista obteve resultados satisfatórios em relação ao consórcio de milho com girassol e com nabo forrageiro, nos quais obteve um aporte de matéria seca ao ambiente de 9.559 kg ha-1 e 8.718 kg ha-1, respectivamente.

Também é possível realizar o consórcio do milho safrinha com o guandu, no objetivo de produção de silagem, este componente possui a capacidade de melhorar o valor nutritivo da silagem de milho.

Pesquisadores da Embrapa indicam a adição de 20% de guandu à silagem de milho.

É preciso que ressaltar que a escolha da(s) espécie(s) utilizada(s) no consórcio com o milho safrinha deve levar em conta os problemas que atualmente se encontram na área e também no planejamento de um sistema de produção agrícola, com a rotação de espécies de plantas com as características desejadas para se obter o máximo de lucro do sistema (redução de custos e incremento da produtividade).

Quando se começa a pensar em “sistema” ao invés de pensar em cada cultura agrícola isoladamente, o consórcio de culturas surge como escolha natural dos agricultores.

Produtividade do milho consorciado e da soja em sucessão

Consórcio de culturas

No geral, o objetivo de se realizar o consórcio na safrinha com a cultura do milho não é, a princípio, incrementar na produtividade da própria cultura do milho, e sim fornecer condições de cobertura no ambiente de produção, para que seja incrementado na produtividade da cultura em sucessão, que na maioria dos sistemas de produção tem sido a cultura da soja.

Portanto, a prática de se consorciar espécies com a cultura do milho safrinha tem como objetivo beneficiar o sistema de produção agrícola, de forma a reduzir custos com aplicações de herbicidas, inseticidas e fungicidas; promover ciclagem de nutrientes, a rotação de culturas e a cobertura sobre o solo, com todos os benefícios que ela proporciona.

Promovendo assim, a longo prazo, aumentos na produtividade da safra principal, e também da safrinha.

De acordo com um trabalho elaborado pela Embrapa, em foi realizado cultivo solteiro do milho e consorciado com algumas espécies de capim-braquiária e de crotalária, o consórcio entre as espécies não promoveu aumento significativo na produção de grãos de milho, mas aumentou a disponibilidade de palha para cobertura do solo, com destaque à espécie Brachiaria ruzizisiensis.

Em um outro trabalho, desta vez realizado na Universidade Federal de Viçosa, foram avaliados cultivos de milho solteiro e consorciado com Brachiaria brizantha, em diferentes densidades populacionais. Com os resultados obtidos, os pesquisadores concluiram que o aumento da produção dos grãos de milho ocorreu devido às populações, e não pelo consórcio com a espécie de capim-braquiária.

Portanto, o consórcio com diferentes espécies de cobertura não confere aumento na produtividade do milho safrinha, porém, se manejado corretamente, também não prejudica o seu desenvolvimento e produção.

A exceção a essa regra acontece quando o milho é consorciado com uma espécie de leguminosa, que irá proporcionar maior disponibilidade de nitrogênio à cultura do milho safrinha.

Vale ressaltar que os benefícios desse sistema não são instantâneos, ou seja, demanda uma certa quantidade de tempo para se estabilizar e começar a promover aumentos significativos na produtividade da sua lavoura.

Pesquisadores da Embrapa, por exemplo, já verificaram que a produtividade da soja não foi alterada significativamente no primeiro ano em sucessão ao cultivo de milho consorciado com Crotalaria ochroleuca.

Mas em outro trabalho realizado pela Embrapa, os pesquisadores observaram que houve aumento na produtividade da soja em sucessão ao milho consorciado com a espécie Brachiaria ruzizisiensis, a partir do segundo ano consecutivo de cultivo em consórcio.

Portanto, é fundamental que você compreenda que os maiores benefícios causados pelo consórcio do milho safrinha com diferentes espécies podem não ser identificados nas primeiras safras.

A produtividade irá aumentar de acordo com a estabilidade do seu sistema de produção agrícola.

Enquanto isso não ocorre, você desfrutará de pequenas vantagens, como a redução do uso de herbicidas, já que como o solo estará sempre coberto, a incidência de plantas daninhas será reduzida devido ao efeito supressor da palhada.

Técnicas de Vendas e Marketing no Agronegócio
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