Você não deve ter dúvidas sobre a importância da água para a manutenção da vida no planeta, porém, já pensou o quanto ela é importante para a agricultura?
A produtividade de todas as plantas cultivadas é impactada diretamente pela disponibilidade hídrica.
Porém, na maioria das regiões do mundo, a água que chega até as lavouras via precipitação não é suficiente ou não chega no período que as plantas mais necessitam.
Por isso, a irrigação é uma prática de manejo importantíssima.
A irrigação é o fornecimento de água às plantas em quantidades adequadas e nos momentos corretos com o objetivo de obter a produtividade desejada.
Desse modo, o manejo da irrigação é fundamental para que você não erre na quantidade ou no momento de aplicar água.
Essa água é retirada de fontes naturais, como os rios, e transportada até a lavoura por meio de diferentes sistemas de irrigação.
Os métodos de irrigação mais conhecidos e utilizados no mundo são a irrigação por aspersão, localizada e de superfície.
Dentre esses métodos, a irrigação por aspersão, principalmente, com o uso de pivôs centrais é o mais utilizado no Brasil em termos de área cultivada.
Em 2016, o país apresentava cerca de 20 mil pivôs centrais irrigando uma área de 1,275 milhões de hectares, estando entre os 10 países com maior área irrigada no mundo.
Além disso, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Bahia, Rio Grande do Sul e Mato Grosso se destacam pela quantidade de pivôs centrais em atividade.
As principais culturas em áreas irrigadas com pivô central são o milho, a cana-de-açúcar, o feijão e a soja.
Os métodos de irrigação localizada e de superfície são, usualmente, utilizados na fruticultura, em pastagens, horticultura e no arroz irrigado por inundação no sul do Brasil, principalmente.
Entretanto, ainda há grande espaço para ampliação da área irrigada no Brasil.
Isso é ainda mais importante em um cenário onde precisamos produzir mais alimentos para uma população mundial em ascensão.
A seguir, veremos como realizar a irrigação e que ela é capaz de aumentar a produtividade da sua lavoura.
Desse modo, caso você queira aprender mais sobre irrigação, continue a leitura deste artigo!
Manejo geral da irrigação
Existem dois requisitos para um bom manejo da irrigação: quantidade e momento de aplicação da água.
Para isso, existem diferentes metodologias para determinar a quantidade e a frequência de irrigação.
Falaremos sobre esses métodos aqui de forma resumida, porém, você pode conferir o manejo geral da irrigação mais detalhadamente neste material completo da Embrapa.
Uma forma fácil de planejar a irrigação é adotando uma frequência de irrigação fixa.
O ponto forte desse método é a praticidade e o ponto fraco é a chance maior de erro.
Ele considera a capacidade de armazenamento total de água (CAD), um coeficiente de disponibilidade (f) e a profundidade efetiva do sistema radicular da cultura.
A CAD indica a diferença entre o teor de água na capacidade de campo e no ponto de murcha permanente (PMP).
O f considera a exigência de água pelas diferentes culturas, pois as plantas começam a perder em produtividade muito antes de o teor de água no solo atingir o PMP.
Sendo assim, precisamos considerar a exigência de água da cultura e a evapotranspiração para determinar a irrigação.
A profundidade efetiva do sistema radicular é importante para considerarmos o volume correto de solo que precisamos irrigar.
Os cálculos da lâmina de irrigação e a obtenção, de forma simples, das variáveis citadas podem ser vistos neste trabalho.
Outro manejo de irrigação possível de ser utilizado é com o uso de sensores do teor de umidade ou da tensão da água no solo.
Dessa forma, sensores de umidade são instalados na lavoura, monitorados e quando apresentarem o teor de umidade crítico para irrigação, o sistema deve ser acionado.
Ele é muito mais preciso do que os outros, porém é mais trabalhoso.
Outras formas de manejo da irrigação existentes são por medição ou estimativa da evapotranspiração da cultura e pelo uso combinado de variáveis de solo e clima.
Irrigação por aspersão
O sistema de irrigação por aspersão é constituído, usualmente, por motobomba, tubulações, aspersores e acessórios.
É o principal método de irrigação, em termos de área, no Brasil.
O sistema de aspersão em malha é fixo, tem tubulações enterradas e um aspersor, de diâmetro relativamente menor, movimenta-se lateralmente, exigindo conjunto motobomba de menor potência.
O método de irrigação por aspersão com autopropelido é movimentando por energia hidráulica, possui aspersor do tipo canhão e mangueira de alta pressão.
Por isso, é utilizado em áreas de porte mediano.
O sistema com pivô central tem movimentação circular e funciona a partir de energia elétrica ou com diesel.
Esse sistema possui uma linha lateral de aspersores elevada por torres que possuem rodas.
Esse tipo de irrigação é direcionado para culturas cultivadas em grandes áreas.
O maior pivô instalado no Brasil irriga cana-de-açúcar no Tocantins em uma área de 530 hectares.
A eficiência da irrigação por aspersão é cerca de 70%, podendo chegar a 90 e 50% em condições ótimas e ruins, respectivamente.
O vento, a temperatura e a umidade relativa do ar influenciam diretamente a eficiência da irrigação por aspersão.
Existem diversas vantagens proporcionadas pela irrigação por aspersão:
- Pode adaptar-se a superfícies desuniformes e declividades mais acentuadas;
- Possui distribuição de água uniforme, relativamente;
- Em função da ausência da necessidade de sulcos e canais na lavoura, aumenta a área que pode ser utilizada para cultivo;
- Menor uso de mão-de-obra.
Entre as desvantagens que você precisa saber, podemos citar:
- Não é recomendada para áreas com ventos muito fortes e constantes;
- Exige alto investimento inicial.
Irrigação localizada
Os principais sistemas de irrigação localizada são o gotejamento e a microaspersão.
São compostos, basicamente, por sistema de bombeamento, sistema de filtragem de água e injeção de fertilizantes, tubulações, painel de controle e emissores de água.
A irrigação localizada possui grande eficiência de uso da água, aplicando-a somente na região do solo onde poderá ser absorvida pelas raízes das plantas.
Deste modo, a água é depositada somente na região do solo onde a planta está se desenvolvendo.
A água é fornecida em pequenas quantidades, porém, por períodos mais longos, garantindo que o solo fique sempre na umidade ideal para o cultivo.
Isso também possibilita a adição de fertilizantes solúveis na água com o intuito de fornecê-los juntamente com a irrigação.
A irrigação localizada por gotejamento é realizada através de emissores em que a água é aplicada diretamente sobre a zona da raiz da planta em alta frequência e baixa intensidade.
A eficiência do uso de água desse método de irrigação é cerca de 90%.
Embora seja utilizada por produtores de hortaliças e flores, a irrigação por gotejamento é mais usada em culturas perenes.
É uma ótima opção para regiões onde há baixa disponibilidade de água, gerando economia desse recurso natural e aumento da produção de alimentos.
A microaspersão, apesar de ser um tipo de irrigação por aspersão, possui eficiência muito maior (cerca de 90%) e é considerado um tipo de irrigação localizada.
Os principais pontos positivos da irrigação localizada é o controle rigoroso da quantidade de água aplicada e necessidade de menos mão-de-obra uma vez que os sistemas são automáticos ou semi-automáticos.
Além disso, ela reduz a incidência de pragas e plantas daninhas, possibilita o cultivo em áreas com declividade acentuada e possui excelente uniformidade de aplicação de água.
As desvantagens incluem o custo inicial elevado e problemas recorrentes com o entupimento dos emissores por partículas minerais e orgânicas.
Irrigação de superfície
Como o próprio nome sugere, a irrigação de superfície é caracterizada pela distribuição da água diretamente sob a superfície do terreno por diferença de gravidade.
É um método indicado para solos com textura fina a média, com declividade pequena e uniforme.
Isso acontece porque a principal causa da perda de água nesse método de irrigação é via percolação profunda no perfil do solo.
Quanto mais arenosa a textura do solo, maior a infiltração de água e maiores serão as perdas de água.
Nesse caso, o investimento inicial necessário é para executar o nivelamento do terreno.
Os sistemas de irrigação de superfície mais comuns são a irrigação por sulcos, faixas e inundação.
A irrigação por sulcos pode ser utilizada em culturas semeadas em linhas como o feijão e a soja.
A distribuição da água ocorre por meio de sulcos criados paralelamente às linhas da cultura.
Esses sulcos, geralmente, têm formato de V, possuindo 0,15 a 0,20 m de profundidade e 0,25 a 0,30 de largura.
A distância entre os sulcos é variável conforme a classe textural e o perfil de umedecimento do solo.
Os principais problemas associados a esse método é a necessidade elevada de mão-de-obra e a perda de áreas de cultivo em função da existência de canais e drenos.
A irrigação por faixas preconiza a aplicação de uma lâmina temporária de água, para infiltrar no solo, em faixas do terreno delimitadas por diques.
Esse sistema exige sistematização e vazões relativamente grandes, sendo indicado para culturas que cobrem o solo por completo, como pastagens.
A irrigação de superfície por inundação é caracterizada pela manutenção de uma lâmina de água na lavoura durante quase todo o ciclo da cultura.
É o caso típico do cultivo de arroz irrigado no sul do Brasil.
Para isso, é necessária a sistematização do terreno, criando compartimentos, denominados de quadros, que são limitados por taipas.
Algumas das principais vantagens da irrigação por inundação são: controle de plantas daninhas, aumento da disponibilidade de alguns nutrientes e elevação do pH.
Irrigação aumenta a produtividade e o lucro da lavoura
A ocorrência de secas durante períodos críticos das culturas é um dos principais fatores causadores de diminuição da produtividade nas lavouras.
Apesar de existirem estratégias para contornar esse problema, como a escolha da melhor data de semeadura, a irrigação é a principal alternativa para garantir a produtividade.
Dessa forma, você evita imprevistos e consegue explorar mais do potencial genético das plantas.
Nesse contexto, vimos que existe uma grande diversidade de sistemas de manejo e estratégias de irrigação que podem ser mais ou menos adequados conforme sua necessidade.
Logo, a sua tomada de decisão sobre qual é o método de irrigação é mais adequado para a lavoura deve considerar fatores como o tamanho e as características da área, as necessidades da cultura e a capacidade inicial de investimento, dentre outros.
A eficiência do uso de irrigação é comprovada por diversos estudos.
Esses efeitos positivos podem, inclusive, diminuir problemas oriundos de outros fatores como a compactação do solo.
Pesquisadores identificaram que a irrigação do feijoeiro sob Sistema Plantio Direto pode atenuar as perdas de rendimento de grãos em função da compactação.
Isso acontece porque a água também pode atuar como uma espécie de lubrificante entre as superfícies de contato entre as raízes e o solo.
Deste modo, a resistência a penetração das raízes é menor e o rendimento de grãos não é tão prejudicado pela compactação.
Portanto, nossa dica é planejar o seu negócio a curto e a longo prazo para que medidas que diminuam os riscos e aumentem os lucros, como é o caso da irrigação, possam ser adotadas.