Com tantos cursos e textos sobre manejo da pastagem, por que ainda existem muitos pastos degradados e animais a pasto com baixo desempenho produtivo?
Sabia que entender os conceitos sobre a correta altura do pasto, é umas das estratégias para se evitar esses problemas?
E que com a manutenção da altura do pasto, é possível garantir forragem de qualidade, aumento do desempenho animal e um ótimo custo benefício?
Mas para isso, você precisa fugir dos mitos sobre a altura do pasto no manejo da pastagem!
Antes, vamos entender o que é altura do pasto e por que ela é tão importante.
O pasto é o local onde são cultivadas as forrageiras e a pastagem abrange toda a área de pasto, mais as cercas e os cochos, independente se é utilizado um método de pastejo rotacionado ou contínuo.
Os animais são mantidos à pasto para consumo da forragem, com o objetivo de produzir carne (engorda), leite, cria, recria, etc.
Para garantir o valor nutritivo das forrageiras e em quantidade ideal para o animal, existem várias técnicas e estas são divididas em avaliações direta e indireta.
As avaliações diretas são:
- Amostragem direta, para determinar a massa de forragem em kg ha-1 de MS (quilos de massa seca por hectare);
- Análise bromatológica, para determinar os teores de proteína bruta, macro e microminerais, fibra bruta e digestibilidade;
As avaliações indiretas são:
- Avaliações visuais, feita por um observador treinado, que visualmente analisa a altura do pasto;
- Prato ou disco medidor, para verificar a altura e densidade da forragem;
- Sonda eletrônica, que mede a densidade da forragem por leituras de capacitância;
- Altura do dossel forrageiro (altura do pasto), utiliza a régua de manejo para medir a altura do pasto.
As avaliações diretas demandam muito tempo e são trabalhosas.
Das avaliações indiretas, a sonda eletrônica é cara. A visual, exige conhecimento prévio e treinamento. O prato ou disco medidor exige muitas calibrações para uso.
E, a medida da altura do pasto com a régua de manejo é prática, fácil de realizar e de baixo custo.
Esse resultado veio a partir de pesquisas da Embrapa onde concluíram que, a massa de forragem e seu valor nutritivo, estão diretamente relacionados com a altura do pasto.
E que existem alturas ideais de entrada e saída dos animais em pastejo rotacionado e altura ideal do pasto para pastejo contínuo.
Mas atenção!
Não basta decorar a altura ideal do pasto.
É necessário entender os fatores que afetam a altura do pasto e que ao longo do tempo se tornaram mitos no manejo da pastagem.
Vamos conhecê-los?
Mito 1: Várias forrageiras, mesma altura do pasto no manejo da pastagem
Claro que não! As plantas são como nós, únicas!
Ainda que sejam da mesma família como é o caso da Brachiaria, do Panicum e do Cynodon, cada espécie, cada cultivar, tem características próprias. Está no DNA, entende?
Vamos exemplificar para ficar mais fácil.
O capim Marandu (Brachiaria brizantha), é uma planta que em crescimento livre pode chegar a 1,5 m de altura, formando touceiras densas, mas deve ser mantida entre 15 a 30 cm de altura do solo.
Seu parente próximo, o híbrido de B. ruziziensis e B. brizantha, o capim BRS Ipyporã, desde 2017 é mais uma opção para os produtores, sendo manejada com a mesma altura do capim Marandu.
Enquanto o capim BRS Tamani, um híbrido de Panicum maximum lançado pela Embrapa em 2015, não deve ter altura de resíduo menor que 20-25 cm.
Se estivermos falando do capim elefante, o Penisetum purpureum, por ser uma planta de porte alto, tem que cuidar ainda mais a altura do pasto. Recomenda-se que a planta tenha residual de 80 cm e cresça até 1,6 a 1,8 m, dependendo do rebanho.
E se na propriedade você tiver um pasto de Cynodon? Recomenda-se manter a altura de pastejo entre 15 e 25 cm.
Mesmo o Cynodon sendo uma planta com rápida rebrota, por conta dos estolões ou rizomas, é fundamental manter um resíduo de 10 a 15 cm para o capim-coastcross e tifton, e de 15 a 25 cm para o capim estrela.
Conheça a indicação de altura de manejo de algumas gramíneas forrageiras:
Então veja bem, se as plantas são diferentes, por que deveriam ser manejadas iguais?
Ah, e não para por aqui. Além da característica genética da planta, o clima também influencia no crescimento e desenvolvimento da planta e precisa ser observado.
No próximo tópico, abordaremos esse assunto. Então continue sua leitura para saber mais sobre esses mitos da altura do pasto no manejo da pastagem.
Mito 2: O clima não interfere na altura do pasto no manejo da pastagem
O clima interfere em tudo no crescimento e desenvolvimento da planta, imagine na altura do pasto! Veja bem, as forrageiras, como toda planta, realizam fotossíntese para produzir seu “alimento”.
A fotossíntese por sua vez, é uma reação química realizada a partir da absorção de água pelas raízes, radiação solar e gás carbônico do ar pelas folhas. O produto desta reação, é um açúcar, cheio de carbono e essa é a energia de que falamos.
Segue comigo o raciocínio, que estamos quase chegando lá.
Então, para produzir carbono em quantidade suficiente para todo o metabolismo da planta, desde a germinação até o florescimento, a planta irá precisar (resumidamente) de água, sol e ar.
Agora eu te pergunto, no inverno a quantidade de raios solares é a mesma do verão? E em diferentes regiões do Brasil, temos a mesma radiação solar?
E a água, é distribuída igualmente em todos os lugares do país e em todas as épocas do ano?
Por exemplo, no Cerrado, o clima predominante é o Tropical com verão chuvoso e inverno seco. Já nos Pampas, o clima é do tipo subtropical, chuvoso, com temperatura média de 18oC.
Assim, no verão do Cerrado, as plantas estão recebendo mais água que no inverno (considerando uma área sem irrigação, é claro), enquanto nos Pampas, o inverno é chuvoso.
O que tudo isso tem a ver com a altura do pasto?
Veja bem, a altura do pasto é uma avaliação indireta, como visto na introdução, com relação direta com a quantidade e qualidade do pasto.
A quantidade, massa de forragem, é resultado da fotossíntese. Quanto maior a taxa fotossintética da planta, realizada pelas folhas, maior a quantidade de perfilhos e folhas.
Se a fotossíntese depende de luz, água e CO2, consequentemente a altura do pasto também será dependente destes fatores.
Então, o manejo do pastejo deverá ser feito de acordo com o período do ano, período das águas ou da seca, e em função do clima local, garantindo assim, a correta altura do pasto no manejo da pastagem.
Mito 3: A fertilidade do solo não tem efeito na altura do pasto
Este é o principal mito sobre a altura do pasto: “Não é necessário investir em fertilidade do solo em pastagens”.
Para desvendar esse mito, primeiro precisamos entender o que é fertilidade do solo.
De forma prática, Leandro Souza definiu fertilidade do solo como um conjunto dinâmico que se reflete em boas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, e que proporciona abundante desenvolvimento vegetal e da vida.
Como nosso objetivo não é explorar o tema fertilidade do solo e sim sua relação com a altura do pasto, vamos fazer apenas um breve resumo das propriedades do solo.
- As propriedades físicas são: textura (argiloso ou arenoso), estrutura, densidade, porosidade, permeabilidade, fluxo de água, ar e calor;
- As propriedades químicas são: pH, teor de nutrientes, capacidade de troca iônica, condutividade elétrica e matéria orgânica.
- As atividades biológicas são realizadas pelos organismos vivos presentes no solo, responsáveis pela ciclagem dos nutrientes do solo por meio da decomposição de restos vegetais e animais.
Deu para perceber que tem muito assunto quando se fala da fertilidade do solo. O que importa, nesse momento, é que essas propriedades influenciam diretamente no crescimento das plantas.
Para exemplificar, vamos observar os gráficos a seguir, elaborados por uma equipe de pesquisadores liderados pelo Leandro Rosatto Moda, em que é possível observar a produção de massa seca de Panicum maximum cv. Tanzania com corte após 30 dias (A) e 90 dias (C) de semeadura em função dos tipos de correção de acidez e taxas de fósforo aplicadas em semeadura:
Você percebeu que, tanto a correção da acidez do solo, quanto a dose de fósforo interferiram na matéria seca das plantas? E que doses de fósforo acima de 450 mg.dm-3 já não contribuíram para o ganho de matéria seca?
Portanto, a fertilidade do solo interfere na altura do pasto, pois a altura é estimada em função da massa de forragem na área. Se não tem massa, não tem altura.
Lembre-se, neste artigo, não buscamos avaliar a fertilidade do solo ou dar recomendações de adubação e correção de acidez do solo. Para isso você precisa consultar um Engenheiro Agrônomo.
Que tal partimos para o último mito?
Mito 4: A altura do pasto não interfere nos lucros da fazenda
É comum ouvir que: “Pasto é o alimento mais barato para produzir gado”.
A alimentação é um dos custos da produção animal, além dele podemos citar a mão-de-obra, sanidade, reprodução, impostos, depreciação, gastos diversos e remuneração.
Mas esse é um dos fatores que tem maior peso nesta balança. Afinal, sem alimento, sem produção animal.
O que você ou seu cliente estão procurando, é o sucesso da sua propriedade rural!
Pense comigo.
Ao contrário da ração, que é produzida de forma controlada e dimensionada para cada categoria animal, as forrageiras podem sofrer variações em sua qualidade e quantidade, como já vimos nos tópicos anteriores.
Independente se o método de pastejo utilizado é o intermitente (rotativo) ou contínuo, já sabemos que a altura do pasto é um indicativo da massa da forragem.
Imagine essas duas situações:
Situação A: o pecuarista atrasa a entrada dos animais no piquete, a planta cresce de mais e o pasto fica muito alto. Com isso ocorrerá perda do valor nutritivo, pois haverá mais colmos que folhas.
Situação B: o pecuarista “permite” uma taxa de lotação acima da capacidade de suporte da área e o pasto fica muito baixo. Neste caso, vai demorar um bocado para ocorrer a rebrota, atrasando o perfilhamento e lançamento de folhas.
Na primeira situação, teremos “excesso” de massa de forragem, mas baixo valor nutritivo da planta. Na segunda situação, não haverá forragem disponível, o que dizer da qualidade!
Em ambos os casos, vai resultar em:
- Menos proteína bruta;
- Menos nutrientes;
- Mais fibra;
- Menor ganho de peso animal e
- Maior custo para suplementação.
Por isso que, manejar a altura do pasto de forma correta, interfere no custo de produção animal, isto é, no lucro da fazenda.
O impacto deste manejo pode levaria a seguinte pergunta: “É hora de renovar, reformar ou recuperar a pastagem?”
Mas esse é assunto para um outro artigo!
Agora você já sabe que:
- Cada espécie é única, então conheça a planta e faça o manejo correto da altura do pasto na pastagem;
- O clima interfere na altura do pasto no manejo da pastagem, portanto estude o clima da sua região e acompanhe a previsão do tempo;
- A fertilidade do solo é determinante na altura do pasto, não deixe de fazer adubação e correção da acidez do solo;
- E para que perder dinheiro se você já sabe que existe sim a altura do pasto ideal para cada situação.
Até o próximo artigo!