A população mundial tem aumentado drasticamente nos últimos anos, chegando até o valor atual de 7,6 bilhões de habitantes.
Estimativas indicam que chegaremos ao número de 9,8 bilhões de pessoas em 2050.
Esses dados são alarmantes na perspectiva do uso de recursos naturais.
Atualmente, já temos elevada demanda por alimentos e lançamos enormes quantidades de poluentes no solo, na água e na atmosfera.
Embora esforços tenham sido desprendidos para diminuir as emissões dos gases do efeito estufa (GEE) pelas indústrias e agricultura, aumentar a reciclagem e o reuso de resíduos e preservar os biomas, ainda estamos em um cenário carente de medidas capazes de diminuir a poluição do solo e demais recursos naturais.
Esses fatos demonstram que precisaremos ser mais eficientes ao produzir mais nas mesmas áreas e promover a sustentabilidade ambiental.
Essa maior eficiência engloba o manejo da lavoura como um todo, incluindo as práticas de preparo do solo, de adubação e de fitossanidade.
Nesse sentido, a mitigação da poluição do solo merece destaque especial uma vez que, além de impactar diretamente o solo, representa riscos de poluição da água, da atmosfera e à saúde humana.
Alguns sistemas de manejo são capazes de mitigar a erosão e, ao mesmo tempo, aumentar os teores de carbono perfil do solo, diminuindo o CO2 emitido para atmosfera oriundo da atividade agrícola, funcionando como uma espécie de filtro.
O transporte de nutrientes aplicados na lavoura através da lixiviação e erosão tem sido responsável por contaminar águas subterrâneas e superficiais.
Novas estratégias de manejo e rotações de culturas vem sendo estudadas pelas entidades de pesquisas com o intuito de fornecer alternativas viáveis e com potencial de diminuir emissão de GEE.
Se você tem interesse em saber mais sobre as causas da poluição do solo em propriedades agrícolas e as principais estratégias capazes de controlar esse processo, continue lendo esse texto.
O que é a poluição do solo
A poluição do solo representa a contaminação do solo por agentes capazes de fazer com que ele perca algumas de suas funções.
Na região sul de Santa Catarina a mineração do carvão é uma das principais atividades econômicas, entretanto os resíduos gerados e depositados na superfície criam condições que dificultam ou impedem o desenvolvimento de plantas, gerando poluição do solo.
Esses agentes causadores de poluição do solo podem ser dos mais variados tipos.
No contexto agrícola, a poluição do solo geralmente é ocasionada pelo acúmulo de metais pesados ou outros compostos provenientes de adubos fosfatados, pesticidas, água de irrigação contaminada e resíduos agroindustriais.
Os metais pesados são elementos com densidade atômica maior do que 5 g cm-3.
Diferentemente de contaminantes orgânicos, os metais pesados são persistentes no solo porque não são biodegradáveis.
Alguns deles são micronutrientes (Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn), porém, quando em concentrações acima do normal, podem ser prejudiciais ao desenvolvimento das plantas ou, se ingeridos, ter efeito deletério na saúde humana e animal.
Os metais pesados ocorrem naturalmente pois podem ser constituintes das rochas matrizes, ou seja, sua simples presença não é sinônimo de poluição do solo.
Nesse sentido, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), através de resolução, estabeleceu em 2009 que cada estado deveria indicar valores de referência de qualidade para a concentração de metais pesados no solo.
Esses valores foram baseados em conjunto de amostras representativas da geomorfologia, pedologia e litologia locais com o objetivo de descrever as contrações de metais pesados naturalmente encontradas em cada região, sem interferência antrópica.
Além disso, a resolução especifica valores de prevenção e valores de investigação com abrangência nacional baseados em ensaios de fitotoxidade, avaliação de risco ecológico e avaliação de risco à saúde humana.
Com isso, é possível monitorarmos nosso impacto como possível causador de poluição do solo com valores que são encontrados naturalmente no solo e valores críticos para o ecossistema e para a saúde humana.
Lembrado que a Política Nacional do Meio Ambiente impõe, ao degradador e ao poluidor, a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados por poluição do solo.
Além disso, a aplicação excessiva de fertilizantes a alguns agrotóxicos que possuam mobilidade não causa poluição do solo diretamente, mas pode contaminar águas subterrâneas e superficiais.
Causas da poluição do solo nas propriedades agrícolas
O solo contém naturalmente alguns elementos considerados com potencial de causar toxidade, mas em concentrações muito baixas quando não há interferência antrópica.
Com atividades como a mineração e a agricultura, esses elementos podem ter sua concentração elevada a níveis prejudiciais ao ambiente e a saúde humana, resultando na poluição do solo.
Esses níveis são indicados por legislação de abrangência nacional e por legislação específica para cada estado.
No contexto da propriedade agrícola, as principais causas de poluição do solo são o uso irracional de fertilizantes e agrotóxicos.
Algumas moléculas de fertilizantes têm elevada afinidade pelas cargas negativas do solo, como é o caso do glifosato.
Estudos apontam que o glifosato tem um comportamento semelhante ao do fosfato inorgânico no solo, fazendo ligações com óxidos de ferro e alumínio.
Por outro lado, há moléculas mais solúveis, as quais possuem maior risco de causar poluição do solo e contaminar a água.
Pesquisas mostram contaminação de águas superficiais de sub-bacias hidrográficas no sul do Brasil com os agrotóxicos imidacloprid, atrazina e clomazone derivados de lavouras de fumo.
A erosão é um fator que, aliada a poluição do solo, pode gerar a contaminação de águas superficiais ao carrear as partículas de solo e moléculas de agrotóxicos adsorvidas juntamente com a água.
Os fertilizantes como fosfatos e nitratos, quando utilizados em excesso, podem causar poluição do solo.
Nesse sentido, o efeito não se dá diretamente no solo, mas sim na contaminação de águas subterrâneas por lixiviação ou superficiais por ocorrência de erosão.
A emissão de GEE também não está relacionada diretamente com a poluição do solo, mas é um tipo de poluição relacionada a agricultura que vem chamando a atenção de entidades de pesquisa.
Os cultivos de sequeiro podem lançar altas quantidades de óxido nitroso na atmosfera, enquanto as culturas manejadas sob condições de alagamento, como o arroz irrigado, emitem principalmente metano.
Impactos da contaminação do solo
A poluição do solo gera consequências dentro e fora da lavoura. Num primeiro momento, o próprio crescimento e desenvolvimento das plantas pode ser impedido ou prejudicado.
Além disso, as plantas, mesmo não sendo prejudicadas pela poluição do solo, podem ser capazes de absorver e acumular compostos ou elementos como metais pesados, o que é mais preocupante ainda se a acumulação ocorrer na parte da planta que é comercializada.
Há relatos recentes de que o arroz pode acumular arsênio no grão em áreas com maior disponibilidade desse elemento, o que pode acarretar uma série de complicações quando ingerido pelo ser humano.
O uso excessivo de agrotóxicos e a consequente poluição do solo desequilibram o ecossistema no ambiente solo, podendo reduzir drasticamente a população de organismos benéficos tanto para a estruturação quanto para o controle biológico de pragas.
Além disso, alguns princípios ativos e metabólitos de agrotóxicos e fertilizantes podem ser carregados pela água via lixiviação e/ou erosão.
No caso dos princípios ativos e metabólitos de agrotóxicos, eles podem ser tóxicos para os animais aquáticos ou podem tornar fontes de água potável impróprias para consumo.
Quando as águas superficiais recebem nutrientes demasiadamente ocorre a eutrofização desses corpos hídricos, diminuindo a concentração de oxigênio na água e inviabilizando a vida aquática de diversas espécies animais.
A produção de GEE na agricultura não é proveniente de poluição do solo, mas vem ganhando bastante atenção e é um processo que ocorre no solo.
A agricultura tem sido responsabilizada por emissões de óxido nitroso e metano, além de ter um papel importante de fixação de dióxido de carbono no solo.
O efeito estufa é um processo natural e essencial para a vida na Terra, porém, com o desbalanceamento da concentração desses dos GEE na atmosfera, esse efeito pode ser intensificado, aumentando a temperatura no planeta em taxas alarmantes.
Como evitar a poluição do solo
A poluição do solo é totalmente dependente do nosso manejo e, com certeza, é muito mais fácil preveni-la do que remediá-la.
O adequado manejo da lavoura pode evitar a poluição do solo, diminuindo a necessidade de agrotóxicos, melhorando o aproveitamento dos fertilizantes e mitigando a erosão.
Esses fatores passam pela rotação de culturas e aumento da matéria orgânica do solo.
A rotação de culturas consiste em cultivar plantas de espécies diferentes numa mesma área ao longo do tempo.
Essas plantas não devem ser hospedeiras das mesmas pragas e patógenos, o que causa um efeito de limpeza na área ao impossibilitar o ciclo reprodutivo deles. Isso é possível ao rotacionar plantas de famílias botânicas diferentes, como é o caso da soja e do milho.
Deste modo, a necessidade de aplicação de pesticidas é menor e não haverá poluição do solo.
O aumento dos teores de matéria orgânica melhora a agregação do solo e o deixa menos suscetível a erosão, impossibilitando o carreamento de fertilizantes e outros compostos.
Além disso, a matéria orgânica possui elevada capacidade de troca de cátions, sendo responsável por reter nutriente, água e até mesmo possíveis moléculas de agrotóxicos, inativando-as e inibindo a poluição do solo.
Portanto, como o Sistema de Plantio Direto é um sistema de manejo que propõe o aumento dos teores de carbono orgânico e rotação de culturas, sua implantação é uma ótima alternativa para evitar a poluição do solo.
Ademais, algumas alternativas vêm sendo estudadas para se diminuir as emissões de gases em função dos cultivos agrícolas.
Exemplo disso são os estudos dos efeitos da rotação de culturas como a soja e o milho com o arroz inundado no sul do Brasil, assim como estratégias diferenciadas de manejo da água como irrigação intermitente.
Custos da prevenção da poluição do solo
As estratégias de prevenção da poluição do solo não têm custo, pelo contrário, elas nos livram de ter que arcar com possíveis prejuízos oriundos de quedas de produtividade ou até mesmo de multas.
Apesar de existirem pesquisas com plantas capazes de absorver determinados metais pesados e acumulá-los na parte aérea com o intuito de eliminá-los da área, este é um processo oneroso.
Isso acontece porque geralmente essas plantas são endêmicas, possuem especificidade para algum único elemento e, durante esse tempo de recuperação, a área não estará gerando lucro.
Apenas a adoção integral do Sistema de Plantio Direto, que é um dos sistemas de manejo conservacionista mais empregado no Brasil, já diminui a possibilidade de que tenhamos problemas com a poluição do solo.
A manutenção da cobertura florestal nas áreas de encosta e nas margens dos cursos d’água também são fatores essenciais para a proteção dos corpos hídricos superficiais.
Sendo assim, não há um custo extra que precisaremos investir especificamente como prevenção da poluição do solo.
Em contrapartida, há, no Brasil, legislação especifica para cada estado, prevendo valores limites de concentração de metais pesados e outros compostos que, quando ultrapassados e identificada a existência de responsável, ocorrerão consequências legais.
Além disso, qual seria o custo de tornar o solo da lavoura impróprio para cultivo? Qual o custo de contaminar as águas superficiais?
Certamente são valores muito variáveis e difíceis de calcular para cada realidade agrícola no país, mas muito expressivos.
Precisamos ter consciência de que existe sim o risco de poluição do solo quando não temos cuidado quanto à erosão e aplicação de agrotóxicos e fertilizantes, sendo que é nossa responsabilidade optar por práticas apropriadas para evitá-la.