As saúvas causam grande impacto ao agronegócio brasileiro, principalmente em função da sua grande capacidade de desfolha. Tanto em culturas arbóreas como coqueiros, mangueiras e mogno africano, por exemplo, assim como em pastagens. Devido a estas características, as saúvas são consideradas insetos polífagos.
A presença destas formigas pode ser notada facilmente através das trilhas perfeitamente criadas pelas saúvas para levar as folhas cortadas das plantas até os ninhos. Por este motivo, também são chamadas, popularmente, de formigas cortadeiras.
O potencial de dano das saúvas às plantas varia conforme a extensão territorial dos seus ninhos subterrâneos. Desta forma, quanto maior a colônia de insetos, maior a demanda por material vegetal para o desenvolvimento de fungos simbiontes Agaricales, que são a fonte de alimento das saúvas.
As saúvas podem atacar de modo contínuo as espécies vegetais em diversos estádios, como mudas, plantas jovens e adultas, por exemplo. Por isso, as estratégias para o controle destes insetos devem prever ações contínuas.
Os ninhos das saúvas localizam-se abaixo do solo e possuem diversas câmaras, popularmente, chamadas de panelas, as quais são interligadas entre si. Do lado de fora, é possível notar grande quantidade de solo solto, que corresponde ao material retirado de dentro dos túneis.
As colônias de saúvas podem possuir de 3 a 8 milhões de indivíduos, além disso, o tamanho das suas galerias pode chegar até 200 m2. Sendo assim, o controle das saúvas deve iniciar logo que se percebam os primeiros formigueiros nas lavouras ou pastagens.
Sem dúvida, o principal impacto ao agronegócio diz respeito a capacidade de redução da área foliar das plantas, que são responsáveis pela produção de fotassimilados e, consequente, causam redução na produtividade. Entretanto, devido a extensão dos sauveiros (formigueiros de saúva), o trânsito de máquinas também pode ser prejudicado.
Em alguns casos, os prejuízos ocorrem em função de problemas mecânicos provocados quando as máquinas e/ou implementos ficam presos em sauveiros maiores.
As saúvas estão distribuídas por todo o território brasileiro, no entanto, é comum a confusão entre os gêneros Atta e Acromyrmex. O que impacta significativamente nos custos de produção, devido aos gastos direcionados para o seu controle.
Diferenças entre saúvas e quenquéns
No Brasil, existem dois gêneros principais de formigas cortadeiras:
- Quenquéns: Acromyrmex
- Saúvas: Atta
Tanto as saúvas, como as quenquéns fazem parte da ordem Hymenoptera, família Formicidae e subfamília Myrmicinae. Entretanto, por serem formigas de gênero diferentes, elas possuem algumas características que facilitam na sua identificação a campo.
Quenquéns: Acromyrmex
As formigas quenquéns operárias caracterizam-se por possuir de 4 a 5 pares de espinhos localizados dorsalmente ao tórax.
Os soldados têm dimensões menores do que as saúvas, ou seja, medem de 8 a 10 mm de comprimento.
Além disso, as suas colônias e ninhos são bem menores, com apenas 1 ou 2 câmaras. Desta forma, podemos dizer que os formigueiros são menores, por isso, o volume de solo solto do lado de fora é menor.
Estas características permitem um fácil discernimento dos gêneros a campo.
Saúvas: Atta spp.
A principal diferença das saúvas para as quenquéns está nos pares de pares de espinhos localizados dorsalmente. As saúvas possuem um número menor, ou seja, apenas 3 pares.
As colônias de saúvas contêm soldados maiores, com comprimento que pode ir de, 12 a 15 mm.
Os ninhos são bem maiores do que os das quenquéns, com maior número de câmaras e grande quantidade de terra localizada na superfície do solo.
Quais as principais espécies de saúvas?
O Brasil é um país com ampla biodiversidade, por isso, diversas espécies de saúvas de interesse econômicos podem ser encontradas aqui, com destaque para:
Atta bisphaerica: Saúva-mata-pasto
Esta formiga pode ser facilmente encontrada na região sul e sudeste. As saúvas-mata-pasto possuem este nome porque atacam, exclusivamente de gramíneas, sendo muito comuns em regiões de pastagens.
Outra característica marcante desta espécie refere-se a estrutura da sua cabeça, que possui dois lóbulos bem pronunciados, ou seja, a cabeça aparentar estar dividida, como pode-se observar na imagem abaixo.
Atta capiguara: Saúva-parda
Aparentemente, esta espécie parece estar restrita aos estados do sudeste, Amazônia e Pará. Alimentam-se preferencialmente de gramíneas, entretanto, pode ser encontrada atacando outras culturas agrícolas.
Esta espécie caracteriza-se por apresentar coloração avermelhada, um pouco opaca e corpo piloso, como pode ser notado na figura abaixo.
Atta laevigata: Saúva-cabeça-de-vidro
Está espécie é a mais prevalente das saúvas e pode ser encontrada em todo o território brasileiro. Além de outros países da América do Sul, como Bolívia, Colômbia, Guiana Francesa, Paraguai, Suriname e Venezuela.
Por isso, é uma saúva endêmica em várias regiões, já que pode utilizar tanto plantas dicotiledôneas, como também as monocotiledôneas.
A sua principal característica é a cabeça grande e muito brilhante, como aspecto semelhante a um vidro, o que dá nome a está saúva.
Além disso, os soldados são grandes e possuem todo o corpo brilhante. Veja as imagens abaixo.
Atta sexdens rubropilosa: Saúva-limão
As saúvas-limão atacam, exclusivamente, dicotiledôneas e caracterizam-se por possuir corpo de aspecto vermelho opaco e muito piloso.
Elas receberam este nome devido ao forte cheiro que exalam após serem esmagadas, ou seja, aroma de limão.
Ciclo de desenvolvimento das saúvas
As saúvas são formigas sociais que vivem em colônias e assim com as abelhas, são organizadas em castas reprodutoras e não reprodutoras. O ciclo de desenvolvimento de ovo a adulto é bastante variado entre as espécies, podendo durar de 15 a 30 dias.
De forma geral, os ovos são depositados pelas saúvas rainhas, além disso, têm formato elíptico, coloração branca e, podem medir em torno de, 0,5 mm.
Os ovos da espécie A. sexdens rubropilosa podem ser categorizados de duas maneiras: reprodutivos, de tamanho menor e, nutricionais ou de alimentação, que são maiores. Somente os ovos fertilizados podem originar indivíduos fêmeas, ao passo que os não fertilizados, dão origem aos machos.
Ao atingir o estágio larval, as saúvas possuem coloração branca e são ápodas (sem asas). Neste ponto, o seu tegumento ainda é mole, o seu corpo tem formato alongado e curvado, além de tudo, não apresenta olhos ainda.
As pupas são nuas e inicialmente brancas, porém, pouco a pouco vão adquirindo coloração mais escura. Primeiramente, os olhos mudam de cor, seguido pelo resto do corpo, de modo geral, todo o processo dura em torno de 10 dias.
Ao atingirem a maturidade, as operárias têm uma vida média de 3 a 6 meses. Entretanto, a medida em que vão envelhecendo, elas vão ganhando funções dentro do formigueiro. Ou seja, começam a participar do processamento vegetal, trabalho de escavação, manutenção das câmaras e túneis, entre outros.
Outro fato interessante é que somente as saúvas de maior tamanho deixam o formigueiro para procurar material vegetal externamente, enquanto as menores e mais jovens, permanecem internamente desempenhando outras funções.
Controle químico das saúvas
Até o momento, são poucas as alternativas para o manejo das saúvas, sendo o controle químico com inseticidas uma das poucas opções eficientes.
Alguns fungicidas a base de metam-sódico já foram testados, os quais apresentaram efeito sobre o fungo simbionte cultivado por estas formigas. Desta forma, não haverá alimento suficiente para todos os indivíduos das colônias, consequentemente, as saúvas morrem de inanição.
Em virtude do seu modo de ação não envolver a alimentação das formigas com o material vegetal, é pouco provável o desenvolvimento de cultivares transgênicas ou genótipos desenvolvidos com a ajuda do melhoramento genético convencional.
O mais indicado é que o controle das saúvas deve ser realizado apenas com produtos recomendados Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que caracteriza os inseticidas de acordo com a sua formulação, ou seja:
Isca granulada
Atualmente, corresponde ao método mais prático e econômico para o controle das saúvas. Os ingredientes ativos recomendados pelo MAPA são: sulfluramida, tefrósia e fipronil.
De modo geral, recomenda-se que as aplicações sejam realizadas no final da tarde, para garantir o transporte das iscas pelas formigas mesmo à noite, sem que haja interrupção no carregamento.
Na prática, alguns agricultores depositam as iscas sobre bagaço ou casca de laranja, pois são atraentes para as formigas. Potencializando o transporte das iscas aos formigueiros.
Ultra Baixo Volume
São produtos usados na forma de termonebulização diretamente nos “olheiros” ativos dos formigueiros. Corresponde ao método mais eficiente de controle, pois acaba com os formigueiros em poucas horas, porém, também é o mais caro.
A termonebulização somente é justificada em áreas com grandes infestações de saúvas, em função do alto preço para a aquisição do equipamento, bem como a sua manutenção.
O processo ocorre da seguinte forma, a fumaça produzida pelo termonebulizador é injetada diretamente nos formigueiros e, à medida em que a fumaça satura as câmaras, ela começa a sair através dos olheiros, os quais devem ser tampados. Esta operação permite que o sauveiro fique completamente saturado com o produto.
Quando todos os olheiros forem fechados, deve-se finalizar a operação, cobrindo imediatamente o olheiro principal.
O MAPA reconhece apenas um produto para termonebulização em saúvas, o fenitrotiona.
Pó seco
Este é o método de controle químico de saúva mais barato, no entanto, demanda por alta mão-de-obra. Na prática, consiste na pulverização de um produto em formulação de pó seco, diretamente nos “olhos” do formigueiro.
Para isto, utiliza-se uma polvilhadeira, equipamento que pode ser manual ou elétrico. A aplicação é feita insuflando-se o pó em direção ao interior do formigueiro, através de mangueiras posicionadas o mais profundo possível.
O único produto registrado no MAPA é a deltametrina.
Controle biológico
Até o momento não existem produtos biológicos registrados no MAPA para o controle de saúvas, entretanto, pesquisas recentes têm disponibilizados resultados interessantes.
Pesquisadores do estado do Goiás e de Minas Gerais conseguiram identificar o hábito predatório do besouro, Canthon virens, em relação as saúvas.
Esse besouro é facilmente encontrado em áreas de cerrado brasileiro, seu mecanismo de ação envolve a decapitação das fêmeas de saúvas, logo após seu voo. As saúvas abatidas são transportadas para o interior dos ninhos de C. virens, as quais servirão de alimento para as larvas do besouro em desenvolvimento.
Além dos predadores, também foi identificado o potencial de insetos parasitoides no controle biológico das saúvas. Em especial, o forídeo Neodohrniphora elongata em relação às operárias do hospedeiro Atta sexdens rubropilosa.
Os resultados das pesquisas indicam que, N. elongata deposita os seus ovos na cabeça das operárias, preferencialmente, em insetos maiores, ou seja, com cápsula cefálica de 2,9 ± 0,4 mm.
O tamanho da cabeça parece estar associado ao desenvolvimento dos parasitoides. Pois, percebeu-se menor formação de pupas ou a não emergência dos adultos ovopositados, principalmente, em saúvas com largura da cápsula inferior a 2,9 mm.
O controle biológico das saúvas também pode ser realizado através de fungos entomopatogênicos. Sendo os mais promissores, pertencentes as espécies Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana.
Objetivando identificar fungos potenciais para utilização no controle biológico de saúvas, pesquisadores isolaram diversos gêneros associados às operárias de Atta sexdens e Atta laevigata encontradas a campo.
Na espécie A. sexdens, foram identificados M. anisopliae, Acremonium spp., Aspergillus spp. e Colletotrichum spp. Ao passo que nas saúvas A. laevigata foram encontrados Mucor spp., Aspergillus spp. e Fusarium solani.
Estudos como este, servem para fornecer indícios de potenciais fungos entomopatogênicos para utilização no controle biológico de saúvas em condições de campo.