As plantas que popularmente conhecemos como braquiária, na verdade recebem esse nome por que pertencem ao gênero Brachiaria.

O nome Brachiaria foi, portanto “aportuguesado” para braquiária. Você também pode encontrar por aí o termo capim-braquiária.

Nos últimos anos, houve uma enorme controvérsia entre os taxonomistas para a classificação das braquiárias no gênero Urochloa.

Alguns países como Austrália e EUA, já adotaram esta nova classificação.

Entretanto, devido às controvérsias existentes na comunidade científica, o Brasil ainda adota a classificação destes capins no gênero Brachiaria.

Sendo assim, até que se prove por meios indubitáveis, como marcadores genéticos, por exemplo, a comunidade científica brasileira conserva a classificação das braquiárias.

Para que não ocorram confusões a respeito da denominação do gênero, especialistas da área sugerem que, ao se referir das braquiárias, se utilize os dois gêneros como sinônimos.

Os capins popularmente conhecidos como braquiárias na verdade são aproximadamente 90 espécies diferentes.

Estas plantas estão distribuídas principalmente em regiões de clima tropical e têm como centro de origem primário a África.

Alguns historiadores relatam que as braquiárias chegaram ao Brasil juntamente com os escravos, pois estas plantas, quando secas, eram utilizadas como “colchão” nos navios que faziam o transporte dos escravos.

Entretanto, as braquiárias somente começaram a ganhar fama por volta da década de 1950, quando o potencial destas plantas para alimentação animal ganhou maior destaque entre os pecuaristas.

As braquiárias são as forrageiras mais plantadas no Brasil, sendo fornecidas nas fases de cria, recria e engorda dos animais. Por este motivo, a braquiária tem sido cada vez plantada em todo o território brasileiro.

Além disso, as diferentes espécies de braquiárias se adaptam bem às mais variadas condições de ambiente e tipos de solo, proporcionando produção de massa satisfatórias de forragem em solos com baixa e média fertilidade.

Desta forma, podemos ainda citar inúmeras características que tornam as braquiárias plantas-chaves para diversos propósitos agrícolas, como por exemplo:

  • Toleram solos ácidos, com elevado teor de alumínio tóxico.
  • Produzem bem em solos de baixa fertilidade e com baixos teores de fósforo e cálcio.
  • Possuem boa habilidade de rebrota, ou seja, podem ser utilizadas com forrageira para pastejo intenso.
  • Podem ser utilizadas como plantas de cobertura.
  • Protegem o solo contra a erosão.
  • Não apresentam problemas limitantes relacionados a doenças agrícolas.

Como você pode perceber, a braquiária é uma planta com inúmeras utilizações potenciais, cabendo aos técnicos, agricultores e pecuaristas a escolha da espécie de braquiária que mais se adapta as suas condições de cultivo, bem como a atividade da propriedade.

Devido à versatilidade e à importância que tem assumido nos Sistemas de Produção Agrícola, separamos neste artigo 04 conhecimentos que você precisa ter sobre esse gênero de capins.

Vamos lá!

1. As principais espécies de braquiárias

Para que as braquiárias expressem todo o seu potencial, é fundamental a utilização de espécies adaptadas às condições do clima e do solo da sua região.

Dentre as espécies de braquiárias mais utilizadas no Brasil, destacam-se:

  • Brachiaria brizantha
  • Brachiaria decumbens
  • Brachiaria ruziziensis

 

Brachiaria brizantha

Esta espécie é altamente indicada para regiões com solos de média a alta fertilidade. Além disso, apresenta boa resistência à cigarrinha das pastagens, praga importantíssima para a pecuária brasileira.

A Brachiaria brizantha pode ser cultivada sob condições ambientais de baixas temperaturas e deficiência hídrico, entretanto, não tolera o encharcamento.

Esta braquiária tem capacidade para produzir anualmente de 8 a 20 t ha-1 de matéria seca. Variando conforme as condições climáticas e com a adubação nitrogenada empregada.

 

Brachiaria decumbens

Pode-se dizer que está é uma espécie de “duplo propósito”, pois além de apresentar excelente cobertura do solo, tem alta resistência ao pisoteio. Desta forma, esta braquiária pode ser utilizada tanto como planta de cobertura, como também como planta forrageira.

Esta braquiária produz bem em solos argilosos ou arenosos, desta forma, é recomendada para solos de baixa a média fertilidade. Portanto, é uma planta mais robusta do que a espécie citada anteriormente.

Aliado a isso, a Brachiaria decumbens possui elevada tolerância à seca e, em contraponto, não possui resistência a infestações com cigarrinhas e nem ao encharcamento.

Sob condições ambientais adequadas, esta braquiária produz de 9 a 11 t ha-1 de matéria seca.

 

Brachiaria ruziziensis

Esta espécie de braquiária é uma das menos eficiente no recobrimento do solo. Em virtude de não possuir boa capacidade de enraizamento dos nós inferiores.

Entretanto, é adaptada a diferentes condições climáticas, além de ser uma das espécies mais produtivas em áreas tropicais com índices elevados de precipitação.

Devido a estas características, a Brachiaria ruziziensis é uma das preferidas no Sistema Plantio Direto, pois além de não formar touceiras, pode ser controlada facilmente por herbicidas e possui menor produção de sementes que as outras espécies de braquiárias, fatores que facilitam o manejo das lavouras.

Ainda como ponto positivo, a Brachiaria ruziziensis, assim como as outras braquiárias, tem boa capacidade para competir com outras plantas daninhas, formando pastagens mais densas.

Dentre as espécies de braquiárias listadas aqui, a Brachiaria ruziziensis é a menos tolerante às condições climáticas adversas.

Sendo assim, a sua tolerância ao déficit hídrico, à geada e às cigarrinhas é baixa.

 

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2. A braquiária para alimentação animal

Atualmente, o Brasil é o detentor da primeira posição de maior rebanho bovino comercial do mundo. E é preciso ressaltar que a maior parte deste rebanho é criada de forma extensiva, ou seja, dependem de pasto para a sua alimentação.

Das forrageiras utilizadas para a formação destas pastagens, as braquiárias representam a maior área plantada. Cabe destacar ainda que este capim também é fonte alimentar para outros rebanhos, com por exemplo:

Anualmente, estima-se que as áreas de pastagens cultivadas com braquiárias cheguem a 120 milhões de hectares. Sendo assim, representam cerca de 85% dos pastos no Brasil, distribuídos de forma irregular entre as regiões:

  • Em média, 40 milhões de ha ou 85% da área de pastagens na região do cerrado são cobertos por braquiária.
  • Na região Norte, as braquiárias representam cerca de 65% das pastagens.
  • 50% das áreas de pastagens cultivadas na região Centro-Oeste do País estão ocupadas com essa gramínea.

Em determinadas regiões e épocas do ano, a braquiária é um dos únicos alimentos fornecidos aos animais. Por ser uma gramínea extremamente dinâmica, pode ser fornecida sob diversas formas:

  • Fenos
  • Forragem a campo
  • Forragem cortada, verde picado.
  • Silagens.

De modo geral, pode-se dizer que a braquiária é um alimento rico nutricionalmente, além de ser fonte de fibras, energia, proteínas e minerais.

Entretanto, a característica determinante a sua preferência pelos pecuaristas diz respeito a sua boa capacidade de rebrota após pastejo e pisoteio.

Cada espécie de braquiária é mais adaptada a determinadas regiões, desta forma, do ponto de vista forrageiro, destacam-se:

  • B. decumbens e B. brizantha: no Brasil Central.
  • B. humidicola: na região Norte, principalmente, na Amazônia.
  • B. purpurascens: indicada para as regiões litorâneas de solos úmidos.

3. A braquiária como planta de cobertura do solo

A boa cobertura do solo é um dos preceitos principais pata a implantação do Sistema Plantio Direto. Sendo assim, a escolha da espécie que irá formar a camada vegetal na superfície do solo previamente ao desenvolvimento da cultura, é um requisito indispensável

Nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, a braquiária da espécie B. ruziziensis tem tido boa aceitação entre os agricultores para cobertura do solo.

Esta planta tem excelente potencial para a manutenção da palhada sobre o solo, principalmente, em função da sua alta relação C/N (carbono/nitrogênio), acima de 40:1.

Devido a isso, a decomposição da palhada é mais lenta e, desta forma, o solo fica coberto por um maior período de tempo, protegendo o solo do impacto das gotas de chuva, do escoamento superficial da água, das oscilações térmicas e promovendo a manutenção da umidade na camada superficial do solo, que é a primeira a perder água.

A braquiária ainda se destaca pela adaptação a solos nutricionalmente empobrecidos, sendo uma cultura de rápido estabelecimento e significativa produção de biomassa, propiciando adequada cobertura vegetal do solo.

A B. ruziziensis beneficia o solo em virtude da sua boa capacidade para enraizamento e alta taxa de produção de folhas.

Listamos abaixo as principais vantagens da utilização desta espécie como planta de cobertura do solo no Sistema Plantio Direto:

  • Baixo custo para aquisição de sementes quando comparadas com outras forrageiras do mesmo gênero.
  • Possibilita o pastejo, pois tem excelente velocidade de recuperação, mantendo o solo coberto.
  • Grande formação de palhada.
  • Seu bom enraizamento e elevada produção de raízes, promove uma adequada estruturação e descompactação do solo.
  • Promove uma elevada reciclagem nutricional para o sistema.
  • Quebra o ciclo de algumas doenças de solo, causando a redução dos danos causados por nematoides às culturas de interesse.
  • Devido a sua excelente cobertura do solo, favorece o controle de plantas daninhas.
  • Fácil dessecação com herbicidas não seletivos.

4. Consórcios e integrações de outras culturas com a braquiária

Como você já percebeu, a braquiária é uma planta que apresenta várias possibilidades de uso em um Sistema de Produção Agrícola, em um Sistema de Produção Animal ou em um Sistema de Produção Agropecuário.

Até agora nós falamos um pouco sobre a sua utilização de forma isolada, ou seja, para pastejo ou como cobertura do solo, em sistemas de produção bem diferentes.

No entanto, a partir de agora, focaremos nos consórcios e integrações de cultura utilizando a braquiária.

Mas primeiro, talvez seja necessário esclarecer a diferença entre consórcio de culturas e integração de culturas.

Muitas pessoas utilizam esses termos de forma equivocada, ou até mesmo como se fossem sinônimos.

Nós aqui do Instituto Agro adotamos os conceitos estabelecidos pelos pesquisadores da Embrapa, em que:

  • Consórcio: corresponde ao cultivo de duas ou mais espécies vegetais em uma mesma área e ao mesmo tempo com o mesmo objetivo.
  • Integração: ocorrem duas ou mais “produções” ao mesmo tempo, em uma mesma área, porém, com diferentes objetivos, são integrados entre si.

Repare que esse a principal diferença entre consórcio de culturas e integração de culturas é o objetivo. Por isso, estes são conceitos muito relativos.

O cultivo de braquiária entre as fileiras de milho safrinha, por exemplo.

É um consórcio ou uma integração de culturas?

A reposta é: depende.

Se a braquiária está sendo cultivada para a formação de palhada e proteção do solo, o único objetivo do cultivo de milho e da braquiária é a produção de grãos. Trata-se, portanto, de um consórcio de culturas.

Já se a braquiária será utilizada como pastagem após a colheita do milho safrinha, têm-se dois objetivos: produção de grãos e produção animal. Neste caso, temos uma integração de culturas.

 

Consórcio de culturas com braquiária

Um modelo de consórcio de culturas bastante utilizado em todo o território nacional envolve a produção de braquiária associada ao milho, principalmente, na safrinha.

Este sistema promove diversos benefícios, visto que permite a produção de grãos e posteriormente, a cobertura vegetal para composição do Sistema Plantio Direto.

Estudo realizados recentemente comprovaram que, o consórcio de milho e braquiária promoveu aumento considerável da palhada para cobertura do solo e, ainda permitiu um maior controle sobre plantas daninhas.

 

Integração de culturas com braquiária

O sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) tem despertado o interesse e curiosidade de muitos pecuaristas, pois possibilita, por exemplo, o cultivo de soja no verão, do milho consorciado com a braquiária no outono-inverno, e a alimentação animal com a braquiária resultante do consórcio.

O famoso boi safrinha em uma parte da área, que passe a ter três safras.

Entretanto, os benefícios vão além disso. A iLPF também possibilita ganhos com a madeira, em geral o eucalipto, e o maior ganho de peso devido ao conforto animal, resultante do maior tempo de pastejo na sombra.

Com o objetivo de verificar a viabilidade deste sistema, sob o ponto de vista do produtor rural, diversas pesquisas têm sido conduzidas.

Elas indicam que os componentes de rendimento e produtividade de grãos de culturas, como a soja não são influenciados pela cobertura vegetal. Seja ela oriunda de pastagem de B. ruziziensis ou B. brizantha.

Dentre as espécies de braquiária existentes, a B. ruziziensis tem sido a mais recomendada para a iLPF.

Esta espécie também é a preferida na produção de grãos, pois outros resultados permitiram concluir que quando o objetivo principal da integração for a produção de milho e/ou de soja, também recomenda-se à utilização da B. ruziziensis.

Em se tratando de pecuária, a tendência a médio/longo prazo é a adoção de consórcio e integração de culturas por cada vez mais pecuaristas, aumentando assim a capacidade animal por área, o ganho de peso diário e o lucro da atividade.

Nesse sentido, a versatilidade, a rusticidade e a facilidade de controle químico das espécies de braquiária fazem dela um dos principais personagens desse cenário nos próximos anos.

Técnicas de Vendas e Marketing no Agronegócio
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