Todos os processos de colheita exibem perdas, independente da cultura, como por exemplo: milho, café, soja, algodão, feijão etc.

Por isso, diversos são os fatores que podem influenciar na quantidade de perdas de colheita.

As perdas ocorrem antes mesmo do processo de colheita propriamente dito. Em culturas como o milho, por exemplo, os processos de debulha natural, acamamento e germinação na espiga, acontecem com mais frequência devido a atrasos na colheita.

Além disso, os fatores acima mencionados também são fortemente influenciados pela cultivar de milho escolhida e pelas condições ambientais que antecedem a colheita.

Ao passo que, na cultura da soja, a morfologia da planta também pode influenciar nas perdas durante a colheita. Quando as plantas ficam muito baixas, menores do que 50 cm, as vagens tendem a ficar muito próximas a superfície de solo, desta forma, o nível da plataforma de corte não é suficiente para atingir estes grãos.

De acordo com a Embrapa, os padrões internacionais para perdas de colheita de soja são toleráveis até 1 saco por hectare (60 kg ha-1), acima do qual é considerado desperdício.

No Brasil, estima-se que as perdas de colheita se situem em torno de 2 sacos ha-1, ou seja, o dobro do tolerado.

Os pesquisadores afirmam que, este desperdício poderia ser facilmente evitado, adotando-se práticas para mensurar a colheita.

Considerando ainda que, as áreas de cultivo de grãos, como milho e soja, ocorrem em grandes extensões de terra no Brasil. O prejuízo financeiro ao agronegócio brasileiro é incalculável.

Sendo assim, uma série de medidas podem ser adotadas para evitar que as perdas de colheita aumentem nas próximas safras.

Tipos de perda de colheita

Em função de algumas características específicas, as perdas de colheita podem ser classificadas de 3 maneiras:

  1. Pré-colheita: este tipo de perda ocorre antes mesmo da entrada da colhedora a campo. Por isso, deve ser avaliada e estimada antes do processo de colheita mecânica. As perdas pré-colheita podem ser ocasionadas por acamamento de plantas, alta infestação de patógenos e pragas, seca, chuva de granizo etc. O método para a estimativa das perdas pré-colheita varia conforme o tipo de dano.
  2. Perdas na plataforma de corte: na colheita mecanizada de grãos, este é o tipo de perda mais significativo. De modo geral, ocorre devido a regulagem colhedora, que pode ser incompatível com o número de linhas da semeadora. Além, da velocidade de deslocamento, altura da plataforma de corte e regulagem do espaçamento entre bocas.
  3. Perdas no sistema de trilha e separação: neste caso, os grãos já entraram no sistema da colhedora. Mas, em função da má regulação da máquina são perdidos. Os principais motivos para estas perdas são a sobrecarga no saca-palha, abertura das peneiras, velocidade de rotação do ventilador e peneiras sujas.

Perdas ocasionadas por colheita antecipada ou atrasada

Muitas vezes, o produtor precisa colher a sua safra de forma antecipada ou atrasada. Seja devido à falta de planejamento, desconhecimento do ponto ideal de colheita ou condições climáticas desfavoráveis.

A melhor maneira para evitar este tipo de perda, é o conhecimento sobre os estádios de desenvolvimento da cultura. Desta maneira, produtores mais experientes, conseguem estimar o quanto haverá de redução de umidade por dia após o período de enchimento dos grãos.

Isto permite que ele se planeje, alugue máquinas, limpe galpões, tenha mão de obra suficiente e evite os riscos inerentes a colheita.

Para a cultura do milho, por exemplo, o ideal é que a colheita seja realizada quando os grãos atinjam a umidade de 22 a 26%. Para isso, os produtores precisam monitorar de forma constante as suas lavouras e acompanhar a previsão climática, para evitar a ocorrência de chuva nos períodos de colheita.

Grãos muito úmidos são esmagados pelas colhedoras, ao passo que grãos muitos secos, podem ser quebrados e trincados. De uma forma, ou de outra, o prejuízo é certo quando a colheita ocorre fora da janela ideal.

Um estudo realizado no Paraná, comprovou que as principais perdas de colheita na cultura da soja foram associadas a umidade do grão abaixo de 13%.

O atraso na colheita deprecia os grãos, pois permite que elas fiquem expostas por mais tempo a condições ambientais adversas. No feijão, por exemplo, provoca a abertura das vagens e, consequentemente, os grãos caem ao solo e são perdidos.

Perdas de colheita ocasionada por: plantas daninhas

Além de provocar redução na produtividade, as plantas daninhas podem atrapalhar o processo de colheita de grãos. Quando estão presentes nas áreas, as plantas daninhas podem aumentar o teor de água nos grãos, o que resulta em danos nos grãos colhidos.

Além disso, depreciam a qualidade do produto, pois as sementes de plantas daninhas podem ser colhidas juntos aos grãos da cultura principal.

Em todo o território brasileiro, estima-se que as plantas daninhas causem de 20 a 30% de perdas na colheita de grãos.

Uma das espécies de plantas daninhas que mais preocupa na hora da colheita é a corda de viola (Ipomoea spp.). Ela caracteriza-se por ser uma planta anual, trepadeira e que cresce enrolando-se nas plantas de interesse econômico.

De modo geral, a corda de viola não ocasiona grandes perdas de produção, entretanto, quando presente no momento da colheita, pode inviabilizar o processo.

Os seus danos incluem o embuchamento de máquinas, arrastamento e tombamento da cultura. Além de tudo, provoca o desgaste dos componentes da plataforma de corte e afeta o rendimento final da cultura, trazendo prejuízos financeiros ao produtor.

Sendo assim, a presença da corda de viola na lavoura, demanda atenção. Ou seja, ela precisa ser manejada o quanto antes utilizando-se herbicidas, para que não se desenvolva ao ponto de causar perdas a colheita de grãos.

 

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Perdas de colheita ocasionada por: insetos-pragas

Diversos insetos-pragas podem ocasionar perdas às culturas, seja na pré ou pós-colheita. O grande destaque aqui será dado ao milho safrinha, uma vez que é a cultura que mais sofre com esse tipo de problema atualmente.

Na safrinha, a incidência de insetos-pragas é historicamente maior do que na safra normal. Alguns especialistas atribuem isso a dois fatores principais:

  1. Maior permanência da cultura a campo.
  2. Condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento das pragas.

De acordo com pesquisadores da Embrapa, existem 3 pragas que causam os maiores danos a colheita do milho safrinha, sendo elas:

  • Percevejo barriga verde (Dichelops melacanthus).
  • Cigarrinha do milho (Dalhulus maidis).
  • Lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda).

Nos últimos anos, maior atenção tem sido direcionada para uma praga, especificamente, a cigarrinha do milho. A ocorrência deste inseto tem aumentado muito nas últimas safras e com isso, a disseminação de doenças fitopatogênicas transmitidas por ele. Como por exemplo:

  • Enfezamento pálido, causado pelo espiroplasma, Spiroplasma kunkelii.
  • Enfezamento vermelho, causado por um fitoplasma (Maize bushy stunt).
  • Vírus da risca (MRFV – Maize “Rayado Fino” Vírus)

Desta forma, podemos considerar que as cigarrinhas causam tantos danos diretos, através da sucção de seiva, como danos indiretos, através da transmissão de patógenos.

Entretanto, o nível de prejuízo econômico varia conforme a incidência dos insetos-pragas e das doenças presentes na área antes da colheita. Uma vez que, parâmetros importantíssimos relacionados a produtividade são alterados na presença dos estresses causados por pragas.

Perdas de colheita ocasionada por: patógenos

Diversos patógenos tem potencial para impactar a produtividade das safras de grãos brasileiras. Dentre os quais, alguns tem preferência por infectar grãos, espiguetas e frutos, contaminando o produto final e atrapalhando o processo de colheita.

No Brasil, as culturas de grãos sofrem mais frequentemente com:

  • Giberella: este patógeno causa podridão em diversas espécies vegetais, como milho, aveia, trigo, cevada etc. Os grãos contaminados podem conter diversas micotoxinas, o que os tornam impróprios para a comercialização, devido aos riscos inerentes ao seu consumo, tanto na alimentação humana, como animal.
  • Magnaporthe: causa uma doença popularmente conhecida como brusone. Infecta culturas graníferas como arroz e trigo. É mais frequente sob condições de elevada umidade. Na cultura do trigo, causa chochamento nos grãos e maturação desuniforme das espiguetas. No arroz, pode ocasionar a brusone de pescoço, quebrando a base da panícula, o que impede a translocação de fotossimilados aos grãos e impossibilita a sua colheita mecanizada.

No entanto, existe um fator comum a ocorrência destas doenças em condições de campo, todas elas são potencializadas após períodos de elevada umidade e precipitação. Sendo assim, a melhor maneira para evitar surpresas deste tipo é o monitoramento constante das lavouras e as aplicações com fungicidas.

Deve-se, portanto, realizar uma vistoria periódica para avaliar o estado fitossanitário das áreas. Objetivando o manejo das doenças antes que elas se tornem um problema aos processos de colheita.

Perdas de colheita ocasionada por: colhedoras mal reguladas

A regulagem da colhedora é o fator fundamental para uma colheita bem-sucedida e sem grandes índices de desperdícios.

Imagine que você manejou a sua lavoura da melhor forma possível, tomou todas as medidas necessárias para que não houvesse problemas com plantas daninhas, pragas e doenças. Além disso, executou um planejamento estratégico exemplar e disponibilizou todos os seus recursos para que a colheita ocorresse na janela ideal.

Mas no momento da colheita, o seu funcionário não regulou de forma adequada a máquina. Sendo assim, todo o seu esforço foi jogado fora.

O processo de colheita deve seguir um passo a passo minucioso para que não ocorram perdas. Nada deve ser esquecido ou deixado de lado, pois, apesar das colhedoras serem uma das máquinas agrícolas da agricultura de precisão mais avançadas, elas ainda não garantem 100% de eficiência.

Na prática, as colhedoras podem ser utilizadas em diversos tipos de cultuas agrícolas. Isto é, o produtor compra uma colhedora que pode ser regulada para colher culturas diferentes, como trigo, soja, arroz, feijão, milho etc.

Contudo, antes de cada operação de colheita, as colhedoras precisam de uma regulagem adaptada para cada cultura. Uma vez que, as plantas são cultivadas em espaçamentos diferentes, os grãos situam-se em alturas diferentes e, possuem tamanho e formato distintos.

Para cultura da soja, várias pesquisas discutem a regulação das colhedoras, no entanto, um dos fatores que mais tem influência nas perdas, em função da má regulagem, é a velocidade de deslocamento das máquinas.

Como calcular as perdas de colheita mecanizada

Você somente consegue perceber o quanto está perdendo quando consegue medir isso, não é mesmo?

Nas operações de colheita mecanizada, isso não é diferente. Para cada cultura agrícola, existe um limite tolerável de desperdício, sendo assim, vamos aprender a calcular isso.

O cálculo pode ser realizado de maneira bem simples, a partir da demarcação de uma área na lavoura de 1 ou 2 m2, sobre a qual a colhedora realizada o processo de colheita. Após a passada da máquina, todos os grãos que estavam sobre o solo e/ou ainda presos as plantas são coletados e pesados.

Para a estimativa das perdas, utiliza-se uma regra de. Para exemplificar, considere que 15 g de grãos de soja foram coletados em uma área de 2 m2.

15 g = 0,015 kg

0,015 kg ———– 2 m2

x    kg ———– 10.000 m2 (1 ha)

x= (0,015 x 10.000) ÷ 2, portanto:

x = 75 kg ha-1

Sendo assim, as perdas de colheita foram estimadas em, aproximadamente, 75 kg ha-1, o que representa mais de 1 saco ha-1, situando-se, portanto, acima do tolerado.

Neste exemplo em questão, o ideal é que se reveja o processo de regulagem da máquina e a velocidade de operação.

Pensando em facilitar a estimativa das perdas de colheita mecanizada, a Embrapa desenvolveu um copo graduado, específico para algumas culturas. Desta maneira, os grãos amostrados na área demarcada são depositados diretamente no copo, que tem uma estimativa das perdas sem a necessidade da pesagem dos grãos.

 

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