O consumo de grão de bico (Cicer arietinum L.) cresceu bastante nos últimos anos, principalmente, no Brasil, o que tem impulsionado o aumento da área cultivada com esta espécie vegetal.
Entretanto, atualmente, a produção ainda é pequena e insuficiente para atender a demanda do mercado interno.
O grão de bico é a quinta leguminosa mais cultivada no mundo todo. Este fato, ocorre devido as suas diferentes possibilidades de uso na alimentação humana, podendo ser consumido verde, em conserva e na forma de grão seco ou reidratado.
Além disso, o grão de bico é uma planta rústica, o que possibilita o seu cultivo em regiões com baixos índices de precipitação. Podendo ser, inclusive, cultivada em regiões mais semiáridas e em épocas com menos chuvas.
O cultivo de grão de bico possui um baixo custo de produção, principalmente, devido ao baixo risco para ataque de pragas e doenças, quando comparado a outras leguminosas. Todas essas vantagens, em relação a outras leguminosas como soja e feijão, têm atraído mais produtores a cultivarem o grão de bico.
De acordo com dados obtidos na Embrapa Hortaliças, a área plantada com o grão de bico no Brasil deve aumentar continuamente nos próximos anos.
Notadamente, existem dois tipos principais de grão de bico:
- Kabuli: é o mais cultivado e adaptado no Brasil. São grãos maiores e mais claros.
- Desi: mais consumido por países de origem asiática. São grãos menores e de diferentes colorações.
Na índia, 85% do grão de bico consumido é do tipo “Desi“. Pesquisas estão sendo conduzidas para a adaptação do tipo “Desi” ao território nacional, o que abrirá uma frente de exportações de grão de bico, uma vez que a população indiana é uma das que mais cresce em nível mundial.
Desta forma, compreender melhor as principais caraterísticas de cultivo do grão de bico, pode representar uma alternativa para um investimento, pensando no mercado futuro de exportação desta leguminosa. Bem como o seu aproveitamento, para que o mercado interno nacional se torne autossuficiente.
Produção de grão de bico no Brasil
Atualmente, o brasileiro consome, em média, 8 mil t ano-1 de grão de bico, o que significa, cerca de, 40 g pessoa ano-1. Valor que quando comparado ao consumo de outras leguminosas, é extremamente baixo.
São bastante escassos os relatos sobre a produção do grão de bico em território nacional, mas estima-se que, a produção brasileira seja de, aproximadamente, 3 a 4 mil t ano-1. Desta forma, é necessário importar, anualmente, quantidades significativas desta leguminosa de países como, o México e a Argentina.
O grão de bico é uma leguminosa com origem em regiões frias da Ásia, por isso, se adaptou muito bem ao Sul do Brasil, devido às suas baixas temperaturas. Entretanto, já existem genótipos bem adaptados as regiões do Cerrado, com índices produtivos bastante expressivos.
As principais características do grão de bico cultivado no Brasil incluem, o porte herbáceo (até 60 cm de comprimento) e o ciclo anual (110 a 130 dias).
A produção de grão de bico está difundida em diversos estados brasileiros, sendo os estados do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia, os maiores produtores nacionais.
Extensivas pesquisas já mostram ser possível o seu cultivo sob sistema de irrigação ou até mesmo, em sequeiro. Além disso, a opção de utilizar o grão de bico no sistema de plantio direto, já foi explorada e demonstrou resultados satisfatórios.
No entanto, as melhores produtividades são alcançadas sob irrigação. Estima-se que, em pivôs irrigados, a produtividade varie de 2,5 a 3,0 t ha-1, enquanto no sistema de sequeiro, estes valores sejam de 1,5 a 2,5 t ha-1. Valores bem acima da média de mundial, que é apenas de 850 kg ha-1, de acordo com dados da FAO.
Características nutricionais do grão de bico
A semente do grão de bico é extremamente rica em proteínas, sais minerais e vitaminas A, C, E, K e do complexo B. Além disso, possui quantidade significativa de amido, sendo, portanto, utilizado pelo nosso organismo como fonte de energia.
Outras características que fazem esse grão tão apreciado para o consumo humano dizem respeito ao seu baixo teor de gordura e por estar isento de colesterol.
Estima-se que, 100 g de grão de bico contenha, cerca de:
- 350 kcal.
- 58 g de carboidratos.
- 6 g de fibra solúveis.
- 20 a 30 g de proteína.
- 12 g de fibra alimentar.
- 114,4 mg de Cálcio.
- 5,4 mg de Ferro.
- 1115 mg de Potássio.
- 3,2 mg de Zinco.
- 5,2 mg de Sódio.
Bem como, elevadas quantidades de ácido fólico. Características nutricionais que auxiliam ao nosso organismo a eliminar açúcares, gorduras e o colesterol.
Uma coisa que poucas pessoas sabem é que, o grão de bico é capaz de “gerar a felicidade”. É isso mesmo! O grão de bico é rico no aminoácido triptofano, assim como o chocolate, o que nos fornece uma sensação de bem-estar e redução do estresse.
Devido a sua elevada quantidade de proteínas e a fibras, a ingestão de grão de bico ajuda a retardar o processo digestivo, o que promove a sensação de saciedade. Por isso, as proteínas podem elevar os níveis de hormônios que reduzem o apetite no organismo.
Pesquisas tem relatado inclusive que, o grão de bico pode reduziu o colesterol total sérico e o LDL-colesterol (LDL-C). Além de, reduzir o risco de doenças cardíacas devido à inibição da oxidação do LDL-C, inibição da proliferação das células do músculo liso da aorta e a manutenção das propriedades físicas das paredes arteriais.
Cultivares de grão de bico brasileiras
De acordo com Registro Nacional de Cultivares, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), existem registros de 5 cultivares de grão de bico:
- IAC Marrocos (1999)
- BRS Cícero (2002)
- BRS Aleppo (2014)
- BRS Cristalino (2016)
- BRS Toro (2017)
Dentre estas cultivares, a IAC Marrocos é a mais antiga e, foi utilizada por pouco tempo pelos produtores, sendo rapidamente substituída pelas cultivares BRS.
A Embrapa Hortaliças, situada em Brasília (DF), ainda é a única instituição, em território nacional, que faz o melhoramento genético de cultivares de grão de bico. Sendo as 4 cultivares BRS, pertencentes ao programa de melhoramento desta instituição.
BRS Aleppo
Este genótipo de grão de bico possui aptidão para a indústria, sendo bastante utilizado na forma de conservas e para consumo seco. Além disso, é adaptado para o cultivo em áreas sob irrigação no Brasil Central. Possuindo também, bons níveis de resistência a fungos fitopatogênicos habitantes de solo.
Pesquisas realizadas pela própria Embrapa estimam que, a BRS Aleppo possa alcançar de 2,5 a 3,5 t ha-1, em áreas irrigadas do Distrito Federal e Goiás.
BRS Cícero
Esta cultivar se adapta melhor a locais de maiores altitudes e apesar de não ser muito exigente no fornecimento de água, em determinadas situações pode requer irrigação suplementar.
Pesquisas conduzidas pela Universidade Federal de Minas Gerais no município de Montes Claros demonstram que, a BRS Cícero tem potencial de produtividade variando de 2 a 4 t ha-1.
BRS Cristalino
A grande vantagem da BRS Cristalino é a sua dupla aptidão, ou seja, pode ser aproveitada tanto na indústria de conservas (grãos reidratados), assim como para consumo seco. No Planalto Central, esta cultivar produz, em média, 3 t ha-1.
BRS Toro
Esta cultivar de grão de bico foi selecionada, em função da sua grande adaptação ao cultivo mecanizado. Apresentando grãos destinados tanto ao mercado seco, quanto para enlatamento após o processamento industrial.
De acordo com a Embrapa, o seu potencial de rendimento para áreas irrigadas é acima de 3 t ha-1. Enquanto, para áreas de segunda safra (sequeiro) é de, cerca de, 2 ton ha-1.
Cultivo de grão de bico
O grão de bico desenvolve-se melhor em solos com textura sílico-argilosa, ricos em nutrientes e matéria orgânica. Além de tudo, não toleram solos encharcados e salinidade, ao passo que o pH ideal varia de neutro a alcalino (6 a 9).
O preparo do solo pode ser realizado de modo similar ao manejo da cultura do milho. Uma vez que, a semeadura é realizada em linhas, com espaçamentos de, aproximadamente, 40 cm e, 15 cm entre as plantas.
Desta forma, permite-se a utilização da mecanização, o que facilita os tratos culturais para melhores resultados, bem como a colheita mecanizada.
A data de semeadura, varia conforme o estado. Sendo assim, pode ser realizado na primavera ou verão (climas mais frios) e no inverno (clima tropical). Na região do cerrado brasileiro, o mais usual é realizar a semeadura a partir de abril até o início de maio.
Sendo assim, a colheita é realizada em agosto, quando as plantas são cortadas e colocadas para secar.
O grande desafio para o cultivo de grão de bico no Brasil, diz respeito a falta de defensivos químicos registrado para a cultura. O que prejudica, principalmente, o manejo das plantas daninhas com herbicidas.
De modo geral, pode considerar que o grão de bico exige menos água e é necessária pouca ou nenhuma aplicação de fungicida. Por isso, os custos de produção por hectare representam, cerca de, 40% a menos que, um hectare de feijão, por exemplo.
Principais desafios do cultivo de grão de bico no Brasil
- Produtos químicos registrados: atualmente, existem apenas 9 produtos químicos comerciais registrados no MAPA para a utilização na cultura. Sendo eles:
- Diflubenzurom e Lambda-cialotrina: inseticidas para o controle da lagarta das vagens (Helicoverpa armigera).
- Fluazinam + tiofanato-metílico: fungicida para o controle de mofo cinzento (Sclerotium rolfsii).
- Flutriafol: fungicida para o controle da queima de ascochyta (Ascochyta rabiei).
- Fluxapiroxade + piraclostrobina: fungicida para o controle de mancha castanha (Cercospora arachidicola) e mancha preta (Pseudocercospora personata).
- Piraclostrobina: fungicida para o controle de antracnose (Colletotrichum capsici) e ferrugem (Uromyces appendiculatus).
- Quizalofope-P-etílico: herbicida para o controle de Brachiaria decumbens, plantaginea, Cynodon dactylon, Digitaria horizontalis, D. insularis, Zea mays, Lolium multiflorum, Panicum maximum, Setaria geniculata, Sorghum halepense e Eleusine indica.
- Controle de plantas daninhas: existe apenas um herbicida registrado para o grão de bico, o que dificulta muito o manejo de plantas daninhas, principalmente, quando a cultura é explorada comercialmente sob o sistema de plantio direto.
- Manejo: por ser uma cultura de exploração recente no Brasil, poucas instituições de pesquisa desenvolvem tecnologia, relacionada a melhores estratégias de manejo para a cultura. Além disso, a maior produção do grão de bico é restrita a algumas regiões brasileiras, fator que dificulta a difusão de informações para agricultores menos experimentes. O conhecimento sobre os patógenos e insetos-pragas que, porventura, venham a interferir no desenvolvimento da cultura, ainda é muito incipiente, atrapalhando a identificação dos organismos-alvo, bem como a forma adequada para o controle dos mesmos.
- Cultivares adaptadas ao mercado externo: até o momento, o Brasil produz apenas grão de bico do tipo “Kabuli”, o qual é bastante aceito pelo mercado interno. Entretanto, a preferência do mercado externo é pelo tipo “Desi”. Sendo assim, será necessário um trabalho prévio pelas instituições de pesquisas brasileiras para adaptação de genótipos de grão de bico do tipo “Desi” para atender à exigência do mercado internacional.