O Nim é uma planta pertencente a espécie Azadirachta indica A. Juss, entretanto, também pode ser popularmente conhecido como: neen, margosa, nime, lila índio, dentre outros nomes.
Este vegetal é usado há vários séculos em diversos lugares ao redor do mundo. O seu potencial de utilização também é bastante diversificado. Por exemplo, o Nim pode ser utilizado como:
- Planta medicinal, para o tratamento de uma série de enfermidades.
- Produção de sombra e madeira, em função da sua arquitetura foliar e de dossel.
- Inseticida, fungicida e nematicida natural e/ou biológico, uma vez que produz diversos princípios químicos ativos.
- Controle de plantas daninhas, devido às suas propriedades alelopáticas.
- Subproduto para a produção de cosméticos.
Fatores estes, que levaram ao aumento do plantio e exploração comercial. Atualmente, diversos subprodutos comerciais oriundos do Nim podem ser encontrados.
Nos últimos anos, as pesquisas com o Nim se intensificaram, inclusive em território nacional. Contudo, apesar desta espécie não ser nativa do Brasil, ela se adaptou muito bem as condições de clima e solo. Pesquisadores da Embrapa afirmam que o Nim chegou ao Brasil apenas há cerca de 25 anos.
Na agricultura, o Nim ganhou destaque, inicialmente, nas pequenas hortas caseiras e lavouras da agricultura orgânica. Pois, os seus produtos não deixam resíduos no meio ambiente, sendo, portanto, uma alternativa segura ao uso dos agrotóxicos de origem química, principalmente, os inseticidas e fungicidas.
Origem e caracterização do Nim
Com origem no sudoeste do continente asiático, o Nim é uma árvore cosmopolita. Além disso, pertence à família Meliaceae, assim como o mogno e o cedro
Nos últimos anos, foram identificadas mais de 40 substâncias terpenóides nas folhas e frutos do Nim. Estas substâncias podem conter princípios biologicamente ativos, isolados de diferentes partes da planta, incluindo: azadirachtina, meliacina, gedunina, nimbidina, nimbolidas, salanina, nimbina, valassina, meliacina etc.
A semente do Nim é rica em óleo (30 a 50%), sendo usada, principalmente pelas indústrias de sabão, pesticidas e farmacêuticas.
Por ser uma planta de crescimento rápido, pode chegar facilmente, entre 10 e 20 m de altura. Nos primeiros cinco anos após o plantio, o Nim pode crescer de 4 a 7 m. O tronco, por sua vez, possui coloração marrom-avermelhado, além de ser duro e resistente, medindo de 30 a 80 cm de diâmetro.
Ao passo que, o seu período de florescimento inicia apenas a partir do segundo ano. Entretanto, a produção dos frutos, apenas se torna expressiva após o terceiro ano de cultivo.
Estudos estimam que, cada planta de Nim pode produzir, aproximadamente, 8 kg de frutos por ano. Em território brasileiro, a produção pode ter início em dezembro (Centro, Norte e Nordeste), fevereiro a abril (Sudeste) e maio até junho (Sul).
Nim como planta medicinal
Diferentes grupos de pesquisas ressaltam a importância do Nim como uma das plantas medicinais mais utilizada em todo o mundo. Na Índia, esta planta é utilizada há mais de 400 anos na medicina Ayurvédica.
A planta de Nim como um todo, pode ser aproveitada medicinalmente, o que inclui as folhas, frutos, sementes e, até mesmo o seu tronco. Desta forma, é possível a produção de substâncias biologicamente ativas com múltiplas propriedades farmacológicas.
Sendo, inclusive, bastante explorada de forma comercial, para o combate de inflamações, infecções virais, hipertensão e febre.
Além disso, diversas pesquisas ao redor do mundo têm demonstrado que o Nim também pode ser utilizado como:
- Analgésico
- Anticolinérgico
- Antipirético
- Antisséptico
- Antitumoral
- Combate a sarnas e pulgas
- Diabetes
- Problemas dermatológicos
- Tônico
- Vermífugo
O caso mais conhecido da atividade medicinal do Nim, relaciona-se aos seus efeitos sobre a diabetes. Uma vez que, estudos envolvendo substâncias com ação hipoglicemiante tornam-se importantes na tentativa de proporcionar maior conforto para o diabético.
Isto ocorre, devido à grande concentração de terpenóides (substâncias responsáveis pelas ações terapêuticas). Os quais, tem demonstrado ação bem mais eficiente, quando comparada a outras plantas medicinais.
Por isso, diversos pesquisadores têm estudado o efeito do Nim sobre o diabetes mellitus e comprovado seu efeito, tanto em ratos, como em coelhos. O que confirma a ação dos compostos ativos de modo satisfatório no tratamento da doença.
Todo o “arsenal” do Nim é baseado nos inúmeros compostos orgânicos por ele produzido, pois por exemplo:
- Nimbidim: tem ação anti-inflamatória, antifúngica, antibactericida, diurética, espermicida, hipoglicêmica etc.
- Azadirachtina: é um tetranortriterpenóide extraído da semente que atua no combate a malária.
Nim como inseticida
Extratos vegetais produzidos a base de folhas e frutos de Nim podem atuar sobre o desenvolvimento de diversas espécies de insetos-praga na agricultura. Tendo, inclusive, eficácia comprovada em várias fases de desenvolvimento, ou seja, desde larva até adulto.
O mecanismo de ação dos extratos vegetais à base de Nim inclui, principalmente, o atraso no desenvolvimento larval e, redução da fecundidade e fertilidade de insetos adultos. Além disso, de acordo com a espécie e estágio de desenvolvimento, diversos outros efeitos podem ser considerados.
Para o manejo de insetos, as pesquisas científicas atuais têm focado, especialmente, em um composto, a azadiractina, sendo esta, a substância de maior poder tóxico produzida pelo Nim.
A azadiractina assemelha-se ao hormônio da ecdise (processo de troca do exoesqueleto externo dos insetos). Desta forma, aplicações com produtos à base de Nim podem ocasionar alterações no crescimento dos insetos e, até mesmo a sua morte.
Entretanto, a azadiractina produzida pelo Nim é extremamente instável em meios ácidos e alcalinos, além de altas temperaturas, luz e umidade. Por isso, os produtos devem, obrigatoriamente, serem armazenados de maneira correta, para que mantenham as suas propriedades inseticidas.
O controle de pragas, utilizando extratos à base de Nim é facilmente percebido após as aplicações em insetos, como: lagartas, pulgões, cigarrinhas, larvas de besouros e pragas de grãos armazenados.
No Brasil, o Nim já teve efeito comprovado sobre:
- Lagarta do cartucho do milho (Spodoptera frugiperda)
- Mosca branca (Bemisia tabaci)
- Mosca das frutas (Ceratitis capitata).
- Ácaro da leprose dos citros (Brevipalpus phoenicis)
- Cochonilha de escamas (Diaspis echinocacti)
- Cochonilha da mandioca (Phenacoccus manihot)
Nim como fungicida
Outra função do Nim, a qual tem ganhado grande destaque nos últimos tempos, diz respeito a sua atividade no controle de patógenos, como fungos, bactérias e nematoides. Principalmente, para produtores rurais da agricultura orgânica, uma vez que, são escassas as alternativas para o manejo orgânico de fitopatógenos.
Na cana de açúcar, por exemplo, pulverizações à base de óleo de Nim, a 3 e 5%, demonstraram ter efeito supressor sobre os nematoides dos gêneros Pratylenchus spp. e Meloidogyne spp.
Estudos conduzidos pela Universidade Federal de Lavras comprovaram que, macerados de Nim emitem compostos orgânicos voláteis. Os quais são capazes de causar imobilidade significativa de juvenis de segundo estádio (J2) de M. incognita, pouco tempo após a sua exposição.
Estas pesquisas são fundamentais para o desenvolvimento de produtos à base de Nim mais eficientes, uma vez que, existem comprovações para cada tipo de fitopatógeno, bem como o melhor método de aplicação.
Extratos brutos de Nim também possuem efeitos inibidores sobre o crescimento em Xanthomonas campestris. Extrato de metanol extraídos das folhas e frutos apresentaram efeitos inibitórios sobre este patógeno, quando comparado aos controles positivos com neomicina e canamicina.
Cabe ressaltar também que, produtos naturais à base de Nim tem a mesma eficácia que alguns produtos químicos comerciais.
Uma vez que, o óleo de Nim nas concentrações de 0,5%; 1,0% e 1,5%, aplicado após a inoculação de Erysiphe polygoni (oídio do feijoeiro), foi tão eficiente quanto o fungicida triforine, na dose de 4 ml L-1. Tendo reduzido, em média, 97% do número de manchas por folha de feijoeiro.
Trabalhos como este são raros, mas servem de aviso para a comunidade científica ficar atenta aos potenciais ainda não explorados do Nim.
Propriedades alelopáticas do Nim
Para completar o panorama de funções do Nim, temos o seu efeito alelopático sobre outras plantas. A alelopatia pode ser definida como a influência de uma planta sobre outra.
Sendo assim, podemos dizer que, o Nim produz compostos alelopáticos que inibem o desenvolvimento de outras plantas. Isso é facilmente observado ao redor das plantas, ou seja, raramente se percebe o desenvolvimento de plantas daninhas ao redor de onde as plantas de Nim estão plantadas.
Por este motivo, o Nim apresenta um potencial ainda pouco explorado para o manejo de plantas daninhas. Isto pode ser uma excelente alternativa para a redução do uso de herbicidas sintéticos, preservando o meio ambiente, assim contribuindo para agricultura sustentável.
A propriedade alelopática do Nim se dá em função da produção de substâncias voláteis como, terpenóides e etileno. As quais podem ser liberadas facilmente das folhas e raízes das plantas, podendo diretamente afetar o crescimento e desenvolvimento das plantas vizinhas.
Em relação a isso, pesquisadores da Embrapa afirmam que o potencial de inibição do Nim às plantas daninhas é positivamente associado à concentração do princípio ativo.
Além disso, verificou-se também que, a planta daninha mata pasto (Senna obtusifolia) foi extremamente sensível aos efeitos do óleo de Nim. Principalmente, em relação à germinação de sementes e desenvolvimento de hipocótilo, apresentando diferenças de até 52 e 80%, respectivamente.
Outros estudos também relatam o efeito do Nim sobre as plantas daninhas:
- Picão preto (Bidens pilosa)
- Malícia (Mimosa pudica)
- Capim-amargoso (Digitaria insularis)
- Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus)
- Jureminha (Desmanthus virgatus)
- Fedegoso (Senna obtusifolia)
Dicas para o cultivo de Nim
Apesar de o Nim ter se adaptado muito bem às condições brasileira, o seu cultivo, em média e larga escala, exige uma série de cuidados fundamentais. A fim de que, a planta expresse todo o seu potencial produtivo. Desta forma, segue abaixo uma lista de dicas para os cultivos do Nim no Brasil.
- pH do solo: o Nim adapta-se melhor às condições de pH próximo da neutralidade, ou seja, variando de 6,5 até 7,5. Portanto, antes de iniciar a plantio das mudas ou sementes, faça uma análise de solo e, se necessário, corrija o pH.
- Mudas: a qualidade fitossanitária das mudas, bem como o seu vigor, são fatores primordiais para o sucesso de qualquer cultura. Sendo assim, opte por mudas de Nim de maior vigor, por desta forma, se diminuem as chances que algumas plantas morram após os primeiros meses pós-transplantio.
- Espaçamento: atualmente, são poucas as informações sobre o melhor espaçamento para a cultura do Nim. Entretanto, encontra-se na literatura especializada que, espaçamentos de 2,0 m x 1,5 m são suficientes para uma boa produção de folhas. Mas, quando o objetivo é a obtenção de frutos, este espaçamento precisa ser maior, existindo relatos muitos variados, que vão de, 5 m x 5 m (Caatinga) até 9 m x 9 m (Cerrado).
- Podas: também varia conforme o objetivo do produtor (obtenção de folhas ou frutos). Contudo, de modo geral, pode-se considerar que, o Nim precisa de podas de condução até que chegue aos 2 m de altura. Além disso, o indicado é que o seu ponteiro apical seja cortado apenas quando a árvore atingir de 4 a 5 m de altura (ou a altura desejada), de modo que ela não se torne muito alta e a copa se desenvolva melhor.