Os Latossolos são a principal classe de solos do Brasil, representando cerca de 39% da área total do país.
Ou seja, estão presentes em praticamente todas as regiões agrícolas do país.
Você provavelmente já viu ou andou por aquelas “terras” vermelhas que facilmente mancham suas roupas no caso de qualquer descuido, não é mesmo?
Há uma grande chance de se tratar de um Latossolo.
Eles são solos típicos de regiões equatoriais e tropicais com relevo plano a suavemente ondulado.
Os Latossolos indicam solos com elevado grau de intemperismo, muito profundos e com perfil homogêneo.
Geralmente, dizemos que eles são velhos, porém, na verdade são solos que estiveram sob ação de altas temperaturas e elevada precipitação com boa drenagem ao longo dos anos.
Deste modo, o intemperismo é acelerado, resultando nas características que veremos a seguir.
Os Latossolos são considerados com grande aptidão para a agricultura, sendo possível cultivar culturas anuais de elevada importância econômica para o Brasil.
Isso ocorre porque sua principal limitação é de ordem química, ou seja, apresentam baixa fertilidade e acidez naturais.
No entanto, podemos contornar isso com a adoção de práticas simples e usuais como é o caso da calagem e da adubação.
O mesmo não é verdadeiro para solos mais rasos e arenosos, como pode ser o caso dos Neossolos, os quais demandam maior cautela para a exploração agrícola.
Apesar de sua elevada aptidão agrícola, os Latossolos também demandam estratégias para a mitigação da erosão, uma vez que práticas de manejo inadequadas podem causar sua degradação e inviabilizar os cultivos.
Caso você tenha interesse em saber tudo sobre a principal classe de solos do Brasil, continue lendo esse texto!
Tipos de Latossolos
Sempre que você desejar identificar determinado solo, é recomendado que se recorra ao Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.
Nele, é possível identificar o solo e enquadrá-lo em uma das classes existentes conforme as características do perfil.
Sendo assim, para os solos seres identificados como Latossolos, é necessário que eles apresentem algumas características.
Alguma dessas características são as seguintes: não deve haver gradiente textural no perfil, ter baixa atividade de argila (< 17 cmolc kg-1) e apresentar horizonte B latossólico precedido de horizonte A.
Os Latossolos são muito semelhantes aos Nitossolos, sendo que podemos diferenciá-los através da presença de cerosidade e grau de desenvolvimento da estrutura.
Esses atributos têm alguma subjetividade para interpretação e dependem da experiência de quem está analisando.
Porém, como as recomendações de manejo são muito semelhantes para os dois solos, possíveis erros de classificação não geram problemas práticos.
Mesmo dentro da mesma classe, há diferenças significativas entre os tipos de Latossolos.
Isso pode ocorrer em função do material de origem, por exemplo.
À medida que Latossolos oriundos de arenito têm predomínio da fração areia, Latossolos provenientes de Basalto têm quantidades significativas de argila.
Além disso, as características climáticas em cada região podem resultar em algumas diferenças nesses solos, apesar de os Latossolos serem característicos de regiões tropicais com elevadas temperaturas e precipitação.
Exemplificando, Latossolos na região de Vacaria, RS, apresentam maiores teores de matéria orgânica (MO), naturalmente, do que Latossolos do Cerrado Brasileiro.
Isso acontece porque a região de Vacaria está sujeita a temperaturas médias menores, favorecendo o acúmulo de MO.
Nesse sentido, voltamos a perceber que práticas de manejo para aumentos dos teores de MO são importantíssimas nesses solos e isso demanda mais cuidado em regiões como o Cerrado.
Atributos químicos dos Latossolos
Para entendermos melhor as características químicas que encontramos nos Latossolos nos dias de hoje, precisamos lembrar de como ocorreu a formação desse tipo de solo.
Considerando que os Latossolos foram formados em condições de alta pluviosidade e temperatura, somadas a boa drenagem, quais processos você acredita que ocorreram ao longo do tempo?
Com a transformação da rocha matriz e formação do solo, acelerada pelas condições climáticas, desenvolveu-se um perfil de solo profundo.
Além disso, os minerais presentes nos Latossolos foram submetidos a uma espécie de lavagem provocada pelas chuvas.
Como resultado, ocorreu a lixiviação da maioria dos cátions básicos que constituíam os Latossolos.
Esses cátions incluem macronutrientes importantes como o K, Ca e Mg.
Deste modo, o pH e a fertilidade dos Latossolos diminuíram, apresentando predomínio de argilominerais do tipo 1:1, como a Caulinita, e de óxidos de ferro e alumínio na sua composição.
Uma das características dos argilominerais 1:1 é ter baixa capacidade de troca de cátions (CTC).
Logo, além de apresentar, em condições naturais, baixa concentração de cátions básicos, os Latossolos dependem do conteúdo de MO para terem CTC adequada para fins agrícolas.
A CTC é importante para a adsorção dos nutrientes que são fornecidos via adubação.
Quando ela é baixa, aumentam-se as perdas por lixiviação profunda.
Nesse caso, você estaria, literalmente, jogando dinheiro no lençol freático, com o agravante de poder estar degradando a qualidade da água subterrânea.
Por isso, práticas e sistemas de manejo capazes de aumentar ou, pelo menos, manter os teores de MO nos Latossolos são essenciais.
Além disso, quando a MO é baixa, o solo tende a estar menos agregado e mais suscetível a ocorrência de erosão.
Outra característica importante dos Latossolos, é o fato de eles terem elevados teores de alumínio (Al).
Esse elemento é tóxico às raízes das plantas cultivadas quando está na forma trocável, porém, isso só ocorre em condições de pH ácido.
Portanto, além de aumentar a disponibilidade de nutrientes e aumentar a CTC, a prática da calagem neutraliza o Al presente nos Latossolos.
Atributos físicos dos Latossolos
Se relembrarmos as características químicas dos Latossolos, podemos inferir sobre suas características físicas.
A presença de conteúdos elevados de Al faz com que os Latossolos sejam, naturalmente, solos mais floculados.
Isso acontece porque alguns elementos favorecem a floculação das partículas primárias do solo enquanto outras favorecem a dispersão.
O Al favorece a aglutinação, ou seja, a floculação.
O Na, por exemplo, favoreceria a dispersão. Esse elemento, inclusive, é utilizado nas metodologias que estimam a textura dos solos.
Sendo assim, os Latossolos são solos com maior agregação em condições naturais.
Logo, eles possuem maior macroporosidade e são bem drenados.
Podemos dizer que os Latossolos são excelentes em termos físicos, pois apresentam adequada distribuição de poros, favorecendo tanto a drenagem e difusão de gases quanto a retenção e armazenamento de água.
Usualmente, quando falamos em boa distribuição de poros, consideramos que há, pelo menos 50 % do volume do solo composto por poros.
Além disso, pelo menos 10% desses poros devem ser macroporos e 40% microporos, pois eles são responsáveis pela drenagem e armazenamento de água, respectivamente.
Os Latossolos podem apresentar compactação em função de práticas agrícolas como a aração, gradagem e trânsito excessivo de máquinas em condições inadequadas de umidade.
A umidade funciona como uma espécie de lubrificante entre as partículas minerais do solo, então, quando há maior umidade, o solo está mais suscetível à compactação.
A compactação do solo pode ser diagnosticada pela resistência à penetração, a qual não deve ultrapassar 2 MPa para que as culturas agrícolas não sofram qualquer tipo de restrição ao desenvolvimento e crescimento.
Ela pode ser verificada por meio de aparelhos disponíveis no mercado, conhecidos como penetrômetros, sendo importantes para a detecção de camadas compactadas na lavoura.
É importante ressaltar que se você tiver um excelente solo em termos de fertilidade, a produtividade pode ser severamente diminuída por problema de ordem física.
Não podemos fazer uma planta crescer em um tijolo maciço mesmo que ele apresente condições ideais de fertilidade, correto?
Por isso, preocupe-se em evitar a compactação do solo. Prevenir é mais barato do que corrigir.
Práticas de manejo nos Latossolos
A calagem é uma prática de manejo simples e essencial para o alcance de produtividades altas em solos ácidos como os do Brasil.
Essa prática é ainda mais importante nos Latossolos, pois eles possuem elevadas quantidades de Al.
O Al é responsável por inibir o crescimento e desenvolvimento da maioria das plantas cultivadas.
A calagem também é responsável por disponibilizar os macros e micronutrientes essenciais às plantas, não só nos Latossolos, mas, em todos os solos ácidos.
A faixa de pH onde os nutrientes essenciais estão solúveis em formas absorvíveis no solo é entre 5,5 e 6,5 para quase todas as culturas.
Além da calagem, a aplicação de gesso agrícola também tem sido uma prática usada e recomendada para alguns Latossolos do Cerrado brasileiro.
Embora o gesso agrícola não neutralize acidez, ele tem alta mobilidade no perfil do solo.
Sendo assim, ele disponibiliza Ca e SO4 e diminui a saturação da CTC por Al em profundidade, beneficiando o crescimento de raízes nessas camadas.
Como a fertilidade natural dos Latossolos é baixa, o suprimento de nutrientes via adubação também é essencial.
As recomendações técnicas para adubação e calagem das culturas com importância agronômica podem ser consultadas em manuais técnicos desenvolvidos para cada região do país.
Por exemplo, no Rio Grande do Sul se utiliza o seguinte manual para a adubação.
O principal sistema de manejo empregado no Brasil é o Sistema de Plantio Direto (SPD).
O SPD é capaz de manter os teores de MO em níveis adequados quando adotado de forma integral.
Nesses solos, com baixa CTC, o teor de MO é importantíssimo para a adsorção dos nutrientes aportados via adubação e favorecem o armazenamento de água.
O revolvimento do solo só é necessário na ocasião de instalação do SPD e caso seja verificada compactação conforme o que está descrito no item referente aos atributos físicos.
As principais estratégias para evitar a compactação dos Latossolos são a rotação de culturas, o cuidado com o tráfego excessivo de máquinas pesadas e em condições excessivas de umidade.
A escarificação pode ser uma prática curativa quando verificada a compactação em Latossolos.
Como garantir altas produtividades em Latossolos
Uma lavoura altamente produtiva depende de uma série de fatores que incluem o potencial genético da cultivar semeada, a qualidade das sementes e o manejo fitossanitário, por exemplo.
Sendo assim, se isolássemos o efeito que o solo tem na construção da produtividade da lavoura, o emprego das práticas descritas nos itens anteriores provavelmente garantiria boas produtividades.
A aplicação de gesso é capaz de proporcionar maior produtividade de soja do que em condições onde não houve aplicação em Latossolos do Cerrado brasileiro.
Esse ganho de produtividade representa aproximadamente 470 kg ha-1 quando o gesso foi aplicado a lanço.
A irrigação também é uma prática amplamente utilizada para garantir ganhos em produtividade e diminuir os riscos em função da ocorrência de estiagens.
Estudos indicam que a deficiência hídrica é responsável por perdas de mais de 30% da produtividade de milho na região de Cruz Alta, RS.
A frequência de ocorrência de períodos com deficiência hídrica também é de 30% nos meses de outubro, novembro e dezembro.
Portanto, demonstramos estratégias para garantir disponibilidade de nutrientes, evitar a compactação e promover a disponibilidade de água.
Com isso, você, com certeza, estará mais próximo de obter a produtividade desejada, obtendo o retorno do investimento feito em plantas com elevado potencial genético.
Os Latossolos são excelentes para a exploração agrícola e a adoção de práticas de manejo simples proporcionam um ambiente ideal para o cultivo das principais culturas do Brasil.
Portanto, nosso dever é aproveitar e preservar esse importante recurso natural de forma inteligente, lucrativa e sustentável.