O reflorestamento é a técnica de formar novas florestas em áreas que já tiveram florestas e, por algum motivo, como a ação do homem ou fenômenos naturais, não possuem mais.
Em outras palavras:
O reflorestamento é a atividade de formar uma nova floresta em uma área em que foi desmatada.
O reflorestamento é realizado em áreas degradadas, que não possuem mais capacidade de regeneração natural da vegetação nativa, ou na implantação de florestas comerciais em áreas onde antes havia florestas nativas.
Neste sentido, o Brasil é um país de extensão continental, mundialmente reconhecido pelas suas áreas de florestas, em especial, a Floresta Amazônica.
No entanto, em função da acentuada degradação ambiental e do desmatamento, algumas áreas de florestas não possuem mais a habilidade para se restabelecerem naturalmente.
Desta forma, o reflorestamento se torna uma opção bastante relevante para a recuperação da floreta nativa.
Atualmente, as principais formas de degradação das florestas são:
- Desmatamento, para venda de madeira;
- Expansão de áreas agrícolas e de pecuária;
- Queimadas, intencionais ou não; e
- Erosão do solo, principalmente em estágios mais avançados.
Podemos dizer então que:
O reflorestamento é uma intervenção ambiental com o objetivo de restabelecer a vegetação arbórea, por meio da introdução de espécies nativas ou exóticas. O reflorestamento ocorre como uma complementação a um sistema florestal degradado, ou ainda estabelecendo novos plantios em áreas completamente desmatadas.
O reflorestamento pode ocorrer de duas formas principais:
- Naturalmente: é um processo extremamente lento, que se dá por meio do equilíbrio de biodiversidade em determinadas regiões. O reflorestamento natural ocorrerá, por exemplo, quando um incêndio atingir uma área de floresta, a qual aos poucos voltará a sua “forma” original. Os responsáveis pelo reflorestamento natural são pássaros, morcegos frugíferos e roedores, que se alimentam dos frutos das árvores e realizam a dispersão das sementes nas áreas degradadas.
- Intencionalmente: se dá quando o homem é o agente responsável pelo processo de reflorestamento. Ocorre de modo bem mais rápido do que o natural, pois as árvores são plantas sequencialmente e em larga escala.
O reflorestamento com fins comerciais é prática bastante atrativa financeiramente. Espécies como o mogno africano geram receita com a venda da sua madeira, entretanto, devido ao tempo que levam para produzir exigem uma boa gestão financeira.
Além disso, o reflorestamento surge como uma ótima opção para a venda de créditos de carbono em áreas antes degradadas.
Quais os benefícios do reflorestamento em áreas degradadas?
Não é de hoje que estamos cientes dos benefícios das florestas em nossas vidas. O senso-comum, entretanto, sobre o fornecimento de oxigênio pelas florestas, que faz com que muitos pensem que a Floresta Amazônica seja o “Pulmão do Mundo“, é na verdade um grande equívoco, já que uma floresta em estado “climax” não pode ter saldo de oxigênio.
Mas com o reflorestamento, existe uma tendência ao reestabelecimento e manutenção de diversos fatores ambientais, como por exemplo:
- Manutenção e recuperação de ecossistemas degradados;
- Redução das taxas de erosivas do solo, bem como a redução de deslizamentos de terra;
- Geração de abrigo e e produção de alimentos para os animais;
- Manutenção das matas ciliares e proteção dos rios, córregos e nascentes; e
- Sequestro de carbono, redução do aquecimento global, etc.
Entretanto, os benefícios não dizem respeito apenas aos fatores ambientais inerentes as áreas reflorestadas. Nos dias de hoje, o reflorestamento é conhecidamente uma moeda de troca mundial. Você sabia disso?
Desde a assinatura do Protocolo de Kyoto, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) estabelece que, para as nações desenvolvidas que não alcançarem as metas propostas, possibilita-se o financiamento de projetos em nações menos desenvolvidas, de forma a baterem as metas estabelecidas.
Na prática, ocorre mais ou menos assim: um país desenvolvido, pode investir em projetos de reflorestamentos no Brasil. Este país receberá em contrapartida, créditos em toneladas de CO2, mais conhecido como, Créditos de Carbono, os quais são negociáveis em mercado aberto.
Atualmente, o preço de 1 crédito de carbono está cotado em torno de U$$ 27 a U$$ 30, nas bolsas de valores de mercado internacional.
Desta forma, o reflorestamento consegue aliar benefícios ambientais e financeiros em uma única atividade.
Os tipos de reflorestamento
De modo geral, o reflorestamento tem dois objetivos básicos:
- Lucratividade: se dá quando o plantio de espécies arbóreas possui interesse comercial, como por exemplo, para a obtenção de madeira, para extração de celulose e para a coleta de frutos (como por exemplo, açaí, castanha do Pará, pequi, etc.).
- Recuperação de áreas degradadas: é realizado em áreas de mata degradada, com o princípio de reestabelecer a biodiversidade, proteger nascentes, manutenção das áreas de preservação permanente (APP’s), etc.
Reflorestamento com fins comerciais
A desinformação a respeito do reflorestamento comercial faz com que muitas pessoas vejam este tipo de atividade com maus olhos, uma vez que o objetivo deste reflorestamento é a obtenção da madeira, logo que ela atinge a idade de corte.
Mas pense um pouco.
Apesar da tecnologia e das tentativas para a redução do uso do papel, a demanda por madeira e celulose ainda é crescente. Sendo assim, esta matéria-prima terá que vir de algum lugar.
Portanto, o reflorestamento é um forte aliado da preservação ambiental, já que evita que áreas de mata nativa sejam desmatadas para extração destas matérias-primas.
Vendo desta forma, percebe-se que o reflorestamento com fins comerciais contribui de forma significante para a redução do desmatamento.
Reflorestamento destinado à preservação das áreas degradadas
Como nós vimos anteriormente, o reflorestamento natural auxilia na recuperação de áreas degradadas. Entretanto, pode levar muito tempo. Por isso, em alguns casos é necessário a intervenção humana para acelerar esse processo.
Em locais onde a degradação é pontual, podemos deixar que a natureza retome a sua forma original, após eliminar os fatores de degradação, ou seja, os fatores limitantes que estavam impedindo a regeneração natural, como erosão, baixa fertilidade do solo, elevados teores de alumínio tóxico, presença de gramíneas muito competitivas, etc.
É preciso também que exista um fragmento de vegetação nativa por perto para servir como fonte de sementes e propágulos para a área em recuperação.
Contudo, quando o desmatamento já atingiu grandes proporções, quando não existe um fragmento de vegetação nativa próxima, ou quando se pretende realizar o reflorestamento em um menor período de tempo, é preciso a intervenção humana no processo secessional da floresta.
Nestes casos, o mais indicado é o plantio de espécies nativas daquela região. Pois, são plantas mais adaptadas ao clima, altitude e, provavelmente, ajudarão para que a floresta recupere o seu equilíbrio biológico mais rapidamente.
É importante ressaltar as espécies florestais nativas são classificadas em grupos ecológicos, e que existe uma ordem cronológica de plantio entre os grupos no processo secessional da floresta: primeiro são plantadas as espécies pioneiras, depois as espécies secundárias iniciais, em seguida as secundárias tardias e, por fim, as espécies clímax.
Entre as principais técnicas de reflorestamento artificial, estão o plantio total, quando o plantio de mudas é realizado na área toda, e a nucleação, quando as mudas são plantadas em núcleos (ilhas ou clusters), nunca menores que 64 m2, que darão início ao reflorestamento, enquanto se espera que a natureza preencha os espaços entre os clusters ao logo do tempo.
Espécies nativas utilizadas para o reflorestamento
As florestas tropicais têm a maior megadiversidade do mundo. Estima-se que elas contenham pelo menos 50% de todas as espécies do planeta.
Desta maneira, temos a nosso dispor uma imensa variedade de espécies de plantas nativas com potencial para serem utilizadas no reflorestamento.
Estas espécies podem ser empregadas tanto para fins comerciais, como para o reflorestamento em áreas degradadas.
As árvores nativas mais indicadas para o reflorestamento de recuperação de áreas degradadas devem possuir duas características essenciais:
- Rápido crescimento.
- Serem adaptadas a diversos tipos de solo e clima.
Estes atributos fazem com que elas se desenvolvam em um ritmo mais acelerado e, desta forma, promovem uma rápida cobertura na área a ser recuperada.
Podemos citar como exemplo as espécies:
- Paineira: apresenta rápido crescimento e boa cobertura do solo, em função da circunferência da sua copa.
- Farinha seca: árvore pioneira e de rápido crescimento. Produz frutos que amadurecem de setembro a outubro.
- Açoita cavalo: recomendada para solos nutricionalmente pobres.
- Mutambo: cresce rápido, podendo atingir 4 metros de altura em apenas 2 anos. Além disso, produz frutos muito apreciados pelos animais.
O World Resources Institute Brasil (WRI) reconhece cerca de 30 espécies de plantas nativas com potencial para exploração econômica. A escolha de cada espécie, deve levar em consideração o ramo da exploração econômica e a região. São elas:
- Aderne
- Andiroba
- Angelim vermelho
- Araucária
- Aroeira do sertão
- Canafístula
- Castanha
- Cumarú
- Freijó cinza
- Guanandi
- Ipê amarelo
- Ipê felpudo
- Ipê roxo
- Jacarandá-da-bahia
- Jatobá Copaíba
- Jenipapo
- Jequitibá rosa
- Louro-pardo
- Marupá
- Mogno
- Morototó
- Parapará
- Paricá
- Pau-brasil
- Pau-marfim
- Quaruba verdadeira
- Tatajuba
- Ucuúba
- Vinhático
Espécies exóticas utilizadas para o reflorestamento
As espécies arbóreas exóticas devem ser utilizadas com atenção, pois algumas delas são consideradas como invasoras, ou seja, perturbam o equilíbrio do ambiente, de forma a causar uma redução no número de espécies nativas. Em alguns casos, até mesmo ameaçar a extinção.
Enquanto outras espécies, como o eucalipto e o pinus, por exemplo, já fazem parte do nosso dia a dia em florestas comerciais
O eucalipto é uma árvore de origem australiana, atualmente, esta planta é um forte aliado na preservação da Mata Atlântica e do Cerrado brasileiro, ao servir como fonte de matéria-prima alternativa às árvores nativas.
Como por exemplo, no estado de Minas Gerais, onde boa parte da madeira utilizada para a fabricação de carvão vegetal é oriunda do eucalipto.
Um dos fatores que leva a maior utilização de espécies exóticas no reflorestamento em detrimento das espécies nativas, diz respeito ao conhecimento. As árvores exóticas como os eucaliptos, estão amplamente distribuídas em todo o mundo.
Diversas instituições de pesquisas trabalham com esta planta. O que resulta em diversas vantagens relacionadas ao:
- Maior conhecimento do manejo e dos tratos silviculturais;
- Maior conhecimento sobre os patógenos potencialmente danosos;
- Maior número de clones disponíveis;
- Disponibilidade de genótipos transgênicos;
- Facilidade de aquisição de material genético; e
- Maior número de produtos químicos registrados (fungicidas, herbicidas e inseticidas), entre outros fatores.
Ao contrário das espécies nativas, para as quais se tem ainda pouco conhecimento, além de baixa disponibilidade para aquisição de mudas e dificuldade para propagação, em função do desconhecimento das estratégias de manejo mais adequadas.
Aproveitando esta brecha de mercado, o mogno africano é uma espécie exótica que está, pouco a pouco, conquistando o seu espaço no reflorestamento. De acordo com o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF), o mogno africado é uma das principais madeiras nobres cultivadas no Brasil.
O seu cultivo ocorre, essencialmente, para fins comerciais. No entanto, é considerado como um investimento de longo prazo, já que o seu período de corte varia entre 20 e 30 anos. Algumas pessoas têm se referido ao mogno africano como poupança verde ou ouro verde.
Principais desafios enfrentados pelo reflorestamento no Brasil
Em função da forte pressão social pela sustentabilidade, o reflorestamento hoje é um caminho sem volta, principalmente, no Brasil. Onde muitas empresas têm adotado o reflorestamento como uma estratégia de “marketing verde“, para justificar as suas produções, além de agregar valor os produtos de origem florestal.
No entanto, o avanço do reflorestamento ainda esbarra em algumas dificuldades, que impende o aumento das áreas reflorestadas, especialmente, se incluirmos as espécies nativas.
Como foi dito antes, o eucalipto é uma planta exótica com uma boa quantidade de informação agregada. A aquisição de suas mudas é facilitada em território nacional, pois diversas instituições públicas e privadas têm investido no melhoramento genético desta planta.
Fato que não ocorre quando se fala em árvores nativas com potencial de reflorestamento. Devido a elevada biodiversidade brasileira, possuímos uma infinidade de árvores que podem ser utilizadas com estes fins.
O que por um lado pode parecer vantajoso, por outro implica em menor conhecimento sobre as espécies nativas. Diante do grande número de plantas, fica difícil focar em algumas poucas árvores para a sua utilização via reflorestamento.
Além disso, são poucas as instituições focadas neste segmento de mercado, o que dificulta a aquisição de mudas, principalmente, em larga escala. Visto que, na maioria das vezes, essas plantas não são tão fáceis de serem multiplicadas.
Outro desafio ao reflorestamento está na adaptação das espécies nativas as condições ambientais. Pois, cada uma possui características únicas de produção, o que limita a sua aplicabilidade no reflorestamento.
No entanto, um dos motivos que mais impacta no reflorestamento são os custos de produção, especialmente, nos primeiros anos de implantação.
O interessado em reflorestar precisa ter um capital de giro em quantidade suficiente para adquirir grandes quantidades de mudas, controle com praga e doenças, além de outros tratos culturais durante alguns anos ou até que esse capital retorne.
O que é madeira certificada?
No Brasil, o mercado de madeira certificada é popularmente chamado de a “nova economia florestal“.
Em termos leigos, podemos dizer que a madeira certificada corresponde ao material produzido seguindo padrões de sustentabilidade e responsabilidade social.
Além disso, para que a madeira se torne certificada, é necessário um rígido manejo de produção. Ou seja, a empresa deve submeter-se de forma voluntária a um processo de certificação das suas atividades.
Alguns especialistas afirmam que, se investirmos corretamente no reflorestamento, visando a manutenção das áreas nativas, teremos consequentemente, um crescimento no comércio de madeira certificada. Desta forma, o Brasil teria potencial para alcançar o posto de líder global na geração de madeira.
Atualmente, uma das certificadoras mais conhecidas mundialmente é a Forest Stewardship Council (FSC), conhecida no brasil como “Conselho de Manejo Florestal”.
Um dos requisitos básicos para a certificação é a garantia de origem da madeira. Por isso, desde 1994, que o processo de certificação brasileiro não envolve áreas degradadas. É neste segmento de mercado, que o reflorestamento ganha mais força.