O Sistema Plantio Direto é o modo de produção mais difundido no Brasil, principalmente, em lavouras produtoras de grãos. Este sistema preconiza que o solo esteja coberto a maior parte do tempo e, que o seu solo não seja revolvido por máquinas e/ou implementos agrícolas.
Sendo assim, para que o solo se mantenha coberto é necessário o cultivo das plantas de cobertura. Elas não têm apenas a função de manter uma cobertura sobre o solo, mas também de:
- Proteger o solo da erosão.
- Evitar a perda de nutrientes.
- Fornecer e promover a ciclagem de nutrientes ao solo.
- Produção de pasto, grãos etc.
- Manejo de plantas daninhas, patógenos e insetos-pragas.
- Fornecer palhada ao sistema.
Por isso, atualmente, é praticamente impossível a continuidade do Sistema Plantio Direto no Brasil sem a utilização das plantas de cobertura. Entretanto, cada tipo de planta utilizada pode ser direcionada para uma ou algumas funções específicas de manejo.
Ou seja, as plantas de cobertura auxiliam os produtores rurais no manejo da lavoura. Além de tudo, proporcionam melhores índices produtivos a cultura principal e melhoram a dinâmica física, química e microbiológica do solo.
No Oeste do Paraná, pesquisadores indicam que, após 5 anos com o Sistema de Plantio Direto consolidado, alguns agricultores não utilizaram mais adubo químico. Uma vez que, a oferta de nutrientes através das plantas de cobertura era muito grande.
Principais vantagens da utilização das plantas de cobertura
A principal função das plantas de cobertura é cobrir e proteger o solo, contudo, os seus benefícios à lavoura não param por aí.
Por exemplo, espécies como milheto e braquiária, muito empregadas como plantas de cobertura no Sudeste e Centro-oeste, apresentam a habilidade de reciclagem de nutrientes.
Esta situação também é extremamente válida, se as plantas de cobertura forem leguminosas. As quais, tem potencial para a fixação do nitrogênio da atmosfera (N2), desta forma, enriquecem o solo sem a necessidade de adubações nitrogenada.
Por estas características, as plantas de cobertura contribuem para a redução dos custos de produção, principalmente, os gastos com insumos.
Ao manejar corretamente as plantas de cobertura, elas contribuem para o restabelecimento de atributos do solo. Uma vez que, representam fonte de matéria orgânica e, desta forma, auxiliam no incremento da microbiota do solo.
Nos solos compactados, as plantas de cobertura promovem a melhoria de características físicas do solo.
Pesquisas realizadas em 3 anos de sucessão/rotação de culturas com plantas de cobertura no inverno/milho/plantas de cobertura no verão, comprovaram que neste sistema houve o desenvolvimento de poros biológicos de alta funcionalidade na aeração e infiltração de água no solo.
Neste mesmo estudo, percebeu-se que o sistema radicular das plantas de cobertura de verão e o nabo forrageiro conseguiram ultrapassar a camada de maior estado de compactação, em mais de 85% das parcelas.
Isso refletiu nas raízes de milho, que se desenvolveram melhor nos espaços criados pelas raízes de cultivos antecedentes, contribuindo para aliviar o efeito da compactação.
Outra vantagem referente a utilização destas plantas diz respeito a melhoria no manejo fitossanitário da lavoura, o que beneficia diretamente as safras seguintes.
Apesar dos diversos benefícios, não são todas as espécies que podem ou devem ser empregadas na função de plantas de cobertura. Por este motivo, a escolha deve ser baseada numa série de atributos básicos, veja no item abaixo.
Características essenciais as plantas de cobertura
Algumas espécies já são consagradas como plantas de cobertura e você sabe por quê?
Elas possuem uma série de características que possibilitam a sua utilização no período da entressafra e/ou no inverno, que são os períodos preferenciais para a utilização das plantas de cobertura.
Desta forma, as plantas de cobertura ideais devem apresentar as seguintes características:
- Rápido crescimento e fácil estabelecimento à campo.
- Produzir biomassa vegetal de modo a proporcionar a cobertura do solo.
- Preferencialmente, não deve ser hospedeira de insetos-pragas ou patógenos, principalmente, aqueles que infectam a cultura principal.
- Possuir sistema radicular profundo.
- Produzir boa quantidade de matéria seca.
Como você pode imaginar, é difícil encontrar uma planta de cobertura que atenda a todos os requisitos acima. Por isso, cabe aos agricultores e Engenheiros Agrônomos a definição da espécie que mais se adapte as necessidades de cada lavoura, safra e/ou condição climática.
Por exemplo, em solos com problemas nutricionais, é fortemente recomendado o cultivo de plantas de cobertura que atuem na adubação verde e/ou ciclagem de nutrientes, como:
- Nabo forrageiro
- Ervilhaca
- Mucuna-preta
- Milheto
- Aveia-preta, etc.
Pesquisas comprovaram que o milheto tem excelente potencial para a ciclagem de nutrientes, em especial o potássio (K). No Cerrado brasileiro, o milheto cultivado na entressafra demonstrou ser capaz de acumular, aproximadamente, 417 kg ha-1 de K em uma única safra.
Estudos como estes evidenciam o real potencial de plantas de cobertura e, não apenas das leguminosas, para a recuperação dos níveis nutricionais do solo.
É muito importante ter isso em mente, uma vez que, grande parte dos agricultores e profissionais da área associam, apenas o cultivo de leguminosas para o fornecimento de nutrientes ao solo.
Plantas de cobertura para o manejo de plantas daninhas
Outra função das plantas de cobertura pode ser associada ao manejo de plantas infestantes.
Resumidamente, as plantas de cobertura atuam de 2 maneiras sobre as plantas daninhas:
- Alelopatia: determinadas plantas causam interferência sobre o crescimento das plantas daninhas. Esta interferência ocorre devido a ação de exsudados radiculares, na maioria das vezes.
- Competição: as plantas de cobertura competem com as plantas daninha por elementos essenciais como luz, água, nutrientes e, inclusive, por espaço físico. Mas devido a prevalência das plantas de cobertura ser maior nas lavouras, elas quase sempre levam a melhor.
Testando o efeito de nabo forrageiro, azevém e trevo como plantas de cobertura sobre plantas daninhas, pesquisadores identificaram que:
- Nabo forrageiro e azevém proporcionam maior cobertura do solo.
- Apesar do nabo produzir mais matéria seca, o azevém é quem proporciona maior redução de plantas daninhas. Possivelmente, devido a interações alelopáticas.
O sorgo, a braquiária e a crotalária também são excelentes alternativas para o manejo de plantas daninhas. Por isso, diversos ensaios conduzidos pela comunidade científica têm avaliado o impacto das plantas de cobertura sobre a comunidade de espécies de daninhas nas lavouras.
Estudos conduzidos em São Paulo e Mato Grosso do Sul, comprovam o potencial da braquiária (Urochloa ruziziensis) e do sorgo (Sorghum sudanense), como plantas de cobertura, uma vez que mantiveram 80% do solo coberto até o florescimento da cultura da soja.
Além disso, estas duas espécies foram capazes de reduzir, cerca de, 90% da infestação de plantas daninhas, como:
- Trapoeraba
- Maria pretinha
- Picão preto
- Capim-colchão, etc.
A crotalária, por sua vez, tem grande habilidade para inibir a comunidade de plantas daninhas em lavouras de Sistema Plantio Direto bem estabelecido. Pesquisas realizadas no Goiás, observaram que a Crotalaria juncea suprimiu o desenvolvimento de:
- Capim-colchão
- Erva de Santa Luzia
- Falsa-serralha
- Carrapicho rasteiro
Plantas de cobertura como aliadas no manejo fitossanitário
Um dos grandes desafios da produção agrícola no Sistema Plantio Direto está no manejo fitossanitário de pragas e patógenos. Visto que, nestes ambientes os organismos causadores de enfermidades desenvolvem-se com mais facilidade.
Desta forma, o manejo das plantas de cobertura precisa ser planejado com cautela. Pois, considere o exemplo abaixo:
Uma lavoura de feijão que na safra passada apresentou grandes infestações com mofo branco, precisa de uma recomendação para uma planta de cobertura. O produtor pode pensar em muitas alternativas, dependendo da estação do ano, como crotalária, nabo forrageiro, aveia, alfafa, sorgo, braquiária, etc.
Apesar de todas as espécies citadas acima configurarem-se como excelentes plantas de cobertura, algumas não são recomendadas para esta situação. Pois, também são hospedeiras do mofo branco, principalmente, as culturas leguminosas.
Se o agricultor utilizar a crotalária, por exemplo, ele proporcionará condições ideais à multiplicação do patógeno. Desta forma, na próxima vez em que ele for cultivar soja nesta mesma área, ele terá seríssimos problemas com o mofo branco.
Nesta situação hipotética, o recomendado seria a implantação de plantas de cobertura do tipo gramíneas, como sorgo ou milheto, por exemplo.
A mesma situação é válida para uma infinidade de patossistemas agrícolas. Entretanto, é preciso estar atento para o estado fitossanitário das lavouras, para que cada caso seja avaliado com critério. Pois considere o segundo exemplo abaixo:
Na safra passada, constatou-se manchas em reboleira causadas por nematoides nas áreas de produção de soja de determinado produtor, mas não houve qualquer indício de infestação por mofo branco.
Neste caso, uma das melhores alternativas para o manejo dos nematoides pode ser a utilização de crotalária como planta de cobertura. Uma vez que, diversas espécies de crotalária podem atuar na supressão de nematoides. Como por exemplo:
- Crotalaria ochroleuca para a supressão do nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis).
- Crotalaria juncea para a redução da população do nematoide das galhas (Meloidogyne javanica).
- Crotalaria spectabilis para o manejo do nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyuru).
Plantas de cobertura indicadas para o plantio direto
Diante dos eventos mencionados acima, as plantas de cobertura possuem diversas funções nas lavouras brasileiras, principalmente, aquelas que utilizam o Sistema Plantio Direto. No entanto, como você pode perceber, a escolha da espécie não é uma tarefa fácil, pois deve se basear no histórico de cada área.
Mesmo assim, podemos considerar que as plantas de cobertura mais indicadas para o Sistema Plantio Direto são aquelas que tem habilidade para maior cobertura do solo. Desta forma, deve-se dar preferência por espécies que possuam elevada relação C/N, para que os resíduos culturais permaneçam maior tempo no solo.
Pensando assim, a maioria dos sistemas que utilizam leguminosas como plantas de cobertura poderiam ser eliminados. Na prática, não é bem assim que as coisas ocorrem.
O primeiro fator a ser levado em consideração no momento da escolha da espécie de planta de cobertura é a taxa de recobrimento do solo per se. Ou seja, se o solo da sua área estiver com baixa taxa de cobertura, recomenda-se escolher uma espécie que apresente boa produção de biomassa seca, seja ela, leguminosa ou não.
O segundo requisito básico, deve obedecer ao manejo da rotação de culturas. Isto quer dizer que, não se deve plantar uma espécie leguminosa no mesmo local em que foi plantado soja na safra passada, por exemplo.
Vários fatores influenciam nas estratégias de manejo das plantas de cobertura. Até mesmo, nas áreas de Sistema Plantio Direto bem consolidados e, que utilizam a rotação de cultura, pois cada safra é diferente das outras. Desta forma, nunca se sabe quais serão os problemas de cunho fitossanitários presentes a cada ano.
Diante do exposto, a melhor solução é o planejamento da sua lavoura a cada safra. Além de tudo, perceba com atenção quais são os “sinais de alerta” que elas emitem, somente desta forma é que se pode manter a lucratividade e a produtividade.