O feijão de corda (Vigna unguiculata L. Walp), também conhecido como feijão-caupi, feijão-miúdo, feijão-fradinho, feijão-frade ou feijão-macáçar, é uma leguminosa de elevado valor proteico, sendo o tipo de feijão mais consumido nas regiões Norte, Nordeste e, pelo estado de Minas Gerais. Além disso, por ser tratar de uma cultura de ciclo curto, é possível o seu cultivo em até três safras distintas:
- Safra das águas
- Safra da seca
- Safra de inverno
As duas primeiras safras são de maior impacto para o feijão de corda no Brasil. Estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) apontam que, a Região Nordeste representa mais de 91% dos 380,1 mil hectares previstos para a semeadura do feijão na primeira safra no país.
Entretanto, a competição de outras culturas, como soja e milho, com o feijão de corda tem reflexo no decréscimo da área total plantada com feijão na primeira safra.
Até pouco tempo, o feijão de corda recebia pouquíssimo destaque no cenário agrícola nacional. Uma vez que, dentre os tipos de feijão existentes, o mais consumido no Brasil é o feijão carioca (Phaseolus vulgaris).
Esta perspectiva está mudando, pois mais recentemente, o feijão de corda passou a ser exportado. Com destaque para a cultivar BRS Guariba, que atualmente, já responde por 85% das exportações de feijão de corda para o Oriente Médio, Ásia e Europa.
Principais características do feijão de corda
No Brasil, o feijão de corda pode ter vários nomes, dependendo da região, sendo também conhecido por feijão caupi, macaçar ou fradinho. Apesar de ser um alimento tipicamente brasileiro, o feijão de corda é originário da África.
Em função da sua ampla adaptabilidade e plasticidade, bem como o seu alto conteúdo proteico, o feijão de corda está distribuído pelo mundo todo. Está cultura caracteriza-se por ser uma planta anual, podendo atingir até 3 metros de altura.
Como vantagem para os agricultores, o feijão de corda possui ciclo curto, menor exigência hídrica, além de elevada rusticidade. Fatores que permitem a este grão ser cultivado em solos de baixa fertilidade.
Os grãos do feijão de corda são ricos em aminoácidos, tiamina e niacina. O seu consumo fornece uma boa fonte de fibras dietéticas, nutrientes essenciais como proteínas (20 a 25%), ferro, cálcio, vitaminas (principalmente do complexo B) e carboidratos (60%).
Por isso, é uma ótima opção para a melhoria da qualidade de vida, especialmente da população carente, seja no meio rural ou urbano.
Espécies de feijão
“Feijão” é a designação comum dada a um grande grupo de espécies vegetais pertencentes a família das leguminosas (Fabaceaes). Isto ocorre em função de suas características similares, ou seja, a presença de um fruto do tipo legume, o qual é conhecido popularmente como vagem.
No Brasil, as principais espécies de feijão produzidas são:
- Phaseolus vulgaris : é o feijão mais plantado e consumido. Também é conhecido como feijão comum, feijão carioca, preto ou especial. De acordo com o Registro Nacional de Cultivares (RNC), existem 359 cultivares de P. vulgaris registradas no Brasil.
- Vigna unguiculata : este é o famoso feijão de corda, bastante apreciado na culinária Nordestina. Em alguns locais do Norte e Nordeste existem associações de produtores rurais, que se reúnem com frequência para a troca de sementes de feijão de corda, a fim de preservar as sementes crioulas. Um exemplo é a Rede de Intercâmbio de Sementes Centro-Sul, onde somente no estado do Ceará, os municípios de Jucás, Cariús, Saboeiro, Senador Pompeu, Acopiara e Pedra Branca, são responsáveis por 15 casas de sementes crioulas. Entretanto, o número de cultivares registradas no RNC é de apenas 47, o que demonstra a necessidade de investimento em pesquisa no melhoramento genético do feijão de corda no Brasil.
- Cajanus cajan : também conhecido como feijão guandu, andu ou ervilha de pombo. Esta espécie apresenta diversos usos em território nacional, podendo ser fonte de alimento humano, forragem e também como cultura para adubação verde. Atualmente, este feijão possui apenas 19 registro de cultivares no Brasil.
Para que os feijões recebessem uma denominação mais adequada, o Ministério Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) decidiu por classificar o feijão de corda no Grupo II, subdividindo nas classes:
- Branco
- Preto
- Cores
- Misturado
Consumo do feijão caupi
Como já foi mencionado, o consumo do feijão de corda é restrito a algumas regiões brasileiras. Entretanto, o seu consumo pode ocorrer de diversas formas, como por exemplo: baião de dois, acarajé, mugunzá, feijoada com frutos do mar, saladas e em diversos outros pratos.
Além disso, os asiáticos são um dos maiores consumidores do feijão de corda produzido no Brasil.
Na alimentação humana, o feijão de corda pode ser consumido seco ou verde, na forma de conserva ou desidratado.
Outro fator a ser levado em consideração é a sua utilização como como forragem verde, feno, ensilagem e farinha para alimentação animal. Estudos realizados no Bioma Caatinga comprovaram que, novilhos suplementados com restos de cultura de feijão de corda obtiveram ganho de peso, quando comprados aos não suplementados.
No entanto, não podemos esquecer da sua capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, podendo ser aproveitado na adubação verde e proteção do solo.
Cultivares de feijão de corda
Atualmente, as principais cultivares de feijão de corda existentes no mercado foram desenvolvidas pela Embrapa. Dentre elas, destacam-se os seguintes genótipos abaixo, por alcançarem boas produtividades, quando produzidas em regime de sequeiro:
- BRS Itaim: esta cultivar de feijão de corda apresenta produtividade média de, aproximadamente, 1,5 t ha-1, quando produzida no sistema convencional e 1,1 t ha-1, quando produzida em sistema de plantio direto.
- BRS Guariba: este feijão de corda abriu as portas para exportação no Brasil, principalmente, para a Índia e de Israel. Este genótipo possui hábito de crescimento indeterminado e ramos relativamente curtos. Além disso, suporta o acamamento, característica que reduz perdas na colheita Em cultivo de sequeiro nos estados do Piauí e Maranhão, sua produtividade média foi de, aproximadamente, 1,5 t ha-1.
- BRS Imponente: Lançada em 2016, esta cultivar apresenta produtividade média de 1,25 t ha-1. Seus grãos caracterizam-se por serem extragrande, classe comercial branca e subclasse comercial branco rugoso. A planta possui porte semiereto e o nível de inserção das vagens situa-se acima da folhagem. Enquanto, o seu ciclo de desenvolvimento é precoce. Este feijão de corda foi desenvolvido para ser de rápido cozimento e adaptado as regiões Amazônicas e de Cerrado.
- BRS Tumucumaque: a produtividade desta cultivar pode variar de, 1,1 t ha-1 a 1,7 t ha-1, dependendo das condições de cultivo. Este feijão de corda possui ciclo que varia de 65 a 70 dias, arquitetura moderna e com grãos de grande aceitação pelo mercado, especialmente, para o consumo de grãos verdes. A grande vantagem desta cultivar é a sua tolerância acamamento, fator facilitador tanto da colheita manual quanto a mecanizada com o uso de herbicidas Sua indicação de cultivo abrange os estados do Norte, Nordeste e região Centro-Oeste em Mato Grosso.
Para os próximos anos, espera-se um aumento na adoção da tecnologia pelos produtores de feijão de corda brasileiros. Isto ocorrerá em função do desenvolvimento de novas cultivares, com tetos produtivos mais elevados, bem como, mais adaptadas as regiões de cultivo.
Doenças do feijão de corda
Apesar de ser uma espécie com elevada rusticidade, o feijão de corda é suscetível a uma série de patógenos que podem afetar consideravelmente o seu rendimento. Desta forma, segue abaixo uma pequena lista das doenças mais comuns na cultura.
- Antracnose: é uma das doenças mais devastadoras do feijão de corda, sendo ocasionada pelo fungo Colletotrichum lindemuthianum (Sacc. & Magn.). Quando as condições climáticas são favoráveis (baixas temperaturas e alta umidade), os danos a cultura podem ser irreversíveis. A sua disseminação ocorre a partir de sementes infectadas, desta forma, a melhor forma de combater a doença é através do tratamento de sementes. A doença manifesta-se como pontuações negras nas vagens e manchas enegrecidas nas nervuras das folhas.
- Ferrugem: esta enfermidade é causada pelo fungo Uromyces appendiculatus (Pers) Unger. Juntamente com a antracnose, são as doenças de maior importância econômica para o feijão de corda, uma vez que o seu prejuízo pode chegar a 70%. Os sintomas da ferrugem surgem na forma de pústulas em ambas as superfícies foliares, fáceis de serem identificadas a campo. A principal forma de controle desta enfermidade é a utilização de cultivares de feijão de corda resistentes e aplicações com fungicidas.
- Mofo branco: a importância desta doença a cultura ocorre em função da sua elevada persistência no solo, que pode chegar até 11 anos. Devido a estruturas de resistência, conhecidas como escleródios, os quais suportam anos dormentes no solo na ausência de um hospedeiro suscetível. Os seus sintomas caracterizam-se por um aglomerado de micélios de coloração esbranquiçada, que se assemelha a “algodão”, característica que dá nome a doença. Sob condições de elevada temperatura e umidade, os danos podem chegar a 100%, caso medidas de controle não sejam adotadas. A utilização de sementes sadias é o passo principal para a prevenção da doença, já que, os escleródios podem vir junto a semente no momento do plantio.
Pragas do feijão de corda
Assim com as doenças, as pragas agrícolas podem reduzir drasticamente a produtividade das lavouras de feijão de corda. As quais, além de causarem danos diretos a produção podem ser vetores de viroses, como é o caso da mosca branca (Bemisia tabaci).
A mosca branca, é vetor do mosaico dourado, principal virose que acomete a cultura do feijão de corda. Além disso, ocasiona danos nas folhas devido a sucção de seiva e produção de honeydew. Substância açucarada, altamente atrativa a outras pragas como as cochonilhas e pulgões.
Atualmente, as principais alternativas de manejo para a mosca branca no feijão de corda são: à adoção do vazio sanitário e aplicações com inseticidas registrados para a cultura.
No MAPA, são registrados 126 produtos comerciais para o manejo da mosca branca, sendo eles pertencentes aos grupos químicos:
- Análogo de pirazol
- Antranilamida
- Avermectina
- Butenolida
- Cetoenol
- Éter difenílico
- Éter piridiloxipropílico
- Feniltiouréia
- Metilcarbamato de benzofuranila
- Neonicotinóide
- Organofosforado
- Piretróide
- Piridina azometina
- Tetranortriterpenóide
- Tiadiazinona
No entanto, os insetos pragas não causam danos apenas a parte aérea das plantas. Os grãos de feijão de corda também estão sujeitos a perdas e deterioração mesmo após a sua colheita. Neste caso, o caruncho ou gorgulho do feijão é o inseto mais importante para a cultura.
O caruncho é um besouro que mede, aproximadamente, 3 mm de comprimento e, apresenta élitros manchas amarronzadas que em repouso assemelha-se a um “X”. Provavelmente, você já deve ter sido acometido com por um ataque de caruncho na sua casa.
Essa designação é comum a insetos de diversas espécies que, por terem hábitos, tamanho e hospedeiros semelhantes, recebem o mesmo nome comum. Os carunchos ou gorgulhos mais comuns pertencem as espécies:
- Acanthoscelides obtectus: observado com frequência em regiões temperadas de clima ameno.
- Callosobruchus maculatus: é a espécie de maior disseminação no Brasil.
- Zabrotes subfasciatus: comum em regiões mais quentes.
Estes insetos vivem de 5 a 13 dias e são facilmente encontrados em grãos armazenados. Os seus danos ocorrem nos grãos, no momento em que as larvas penetram para alimentar-se dos nutrientes presentes no seu interior.
O controle destes insetos no feijão de corda se dá, principalmente, através de fumigação com produtos químicos, os quais resumem-se em:
- Bifentrina (piretróide)
- Deltametrina (piretróide)
- Fosfeto de alumínio (inorgânico precursor de fosfina)
- Fosfeto de magnésio (inorgânico precursor de fosfina)